A cada passo largo que dava à frente, meu coração parecia acelerar ainda mais. Já achava estranha a forma com que ele batia em descompasso. Após cada passo, ele piorava, se debatia com mais violência dentro do meu peito. Eu não sabia o que estava fazendo. Sabia exatamente o que estava fazendo.
De longe, avistei-a. Como estava bela! Mesmo após tantos meses sem poder observar seus movimentos e seus gestos, sabia exatamente como estava se sentindo naquele exato instante em que cruzou seu olhar no meu: Algo que não conseguirei descrever. Algo que se mistura a euforia e uma felicidade contida. Um rancor pontiagudo e uma tristeza constante. Uma vergonha e, ao mesmo tempo, inibição.
Era o mesmo que eu sentia. E um abraço frio demos um no outro, como dois desconhecidos. Como se jamais tivessemos sequer o conhecimento da existência um do outro. Como se não houvesse passado. Como se o passado fosse ainda o presente.
Durante todo aquele tempo em que permanecemos próximos um ao outro, falamos-nos por mera formalidade. Por um instante me senti a pior das pessoas, mas não haveria de culpá-la. Somos responsáveis por nossos próprios atos e responsáveis pelas consequências que eles nos trazem. Por sorte, havia mais um elemento mediando nossa conversa, pois caso contrário, seria um diálogo mudo, onde não conseguiríamos olhar para os olhos do outro.
"E lá estava ele, com seu copo de cerveja nas mãos. Eu não o conhecia. Este era outro, de fato. Parecia triste, mas com um brilho no olhar que jamais havia observado antes. Um brilho de quem está vencendo barreiras e derrubando obstáculos. Meu peito disparava. Quando ele havia chegado, nada mais do que um abraço frouxo pude dar. Ele não merecia o meu melhor abraço. Fora patético ao me acusar e desconfiar de mim. Apesar da dor estar amena, ainda não conseguia olhá-lo e não lembrar de quantas lágrimas derramei e de tudo o que acabei por fazer. Agora tudo estava voltando ao normal.
Ele não merecia meu melhor abraço, mas mesmo assim eu queria dar. Não houve pessoa, nunca, que tenha se encaixado melhor em meus braços. Não houve, nunca, ninguém em que eu pudesse recostar minha cabeça, fechar os meus olhos e ter certeza de que eu estava segura. Já não tenho mais, mas está tudo ali, bem na minha frente. Sentado com seu como de cerveja na mão e conversando distraidamente, sem ao menos notar tudo o que eu estava sentindo"
Somente quando pude recostar minhas costas naquela cadeira, pude perceber que meu coração, agora, batia normalmente. Acelerado, ainda, mas com uma estranha sensação de segurança. Lá estava ela, sentada em minha frente. olhando-me enquanto eu não olhava-a. Nossas conversas não eram diretas, não referíamos a palavra um para o outro, até ela sentar-se do meu lado, inventando um motivo qualquer, este que não consigo me recordar agora. Foi quando nosso olhar se cruzou pela segunda vez.
Desta vez, contudo, pude observar que algo já havia mudado. Não era o mesmo olhar vazio que antes fora trocado. agora, havia um pequeno brilho, algo que me fazia perceber que, após de tantos e tantos meses, uma pessoa diante de mim estava feliz ao me ver, mesmo após tanto sofrimento que compartilhamos quando estávamos longe um do outro.
"Ele acendeu um cigarro. Espantei-me com o modo natural que ele agiu. Geraram-se dúvidas em minha mente. Mas pouco importava-as agora. Eu precisava chegar mais perto dele. Precisava olhá-lo nos olhos e tentar decifrá-los.
Puxei, então, minha cadeira para o seu lado. Pedi-lhe o isqueiro. Olhamos-nos. Eu vi um brilho incandescente. Tive a certeza: Ele me amava. Amava como nunca amara outra mulher. Como, talvez, nunca irá amar. Mas eu me questionava. Há tantas coisas dentro de mim que eu não faço idéia do que fazer, do que pensar, de como agir.
Minha cabeça briga comigo diáriamente. Tenta fazer de mim uma pessoa sensata, tornando impossível ver a mim e a quem me ama e a quem eu amo juntos. Mas e o meu coração? Este, nunca se esqueceu de todos os momentos felizes que sentimos. Momentos em que eu pude tocar naquela pele morena, naqueles cabelos revoltos e leves como seda.
Minha mente e meu coração estavam em uma queda de braço interminável. Até aquele momento, antes de eu encontrá-lo novamente, tanto fazia pra mim manter contato ou não. Agora, cada palavra que eu disesse, sentia que era importante ao ponto de fazer toda a diferença na vida de ambos."
Eu senti o corpo dela me puxar para mais perto ainda. Como um ima tras para sí o parafuso solto no chão. Mas eu não podia. Não podia me aproximar mais. Algo dentro de mim dizia que seria o ato mais imprudente. Não era tudo de bom como antes. Não era nada, não havia nada. Apenas dois corpos cansados pelas noites de sono que perderam, feridos por terem feito coisas que afetaram ao outro e duplamente a si mesmo.
Não resistiria ficar mais muito tempo por ali. Resolvi levantar. Já era a hora de partir. Já passara da hora de partir. Não houve momento, durante esse tempo todo em que longe ficamos um do outro, que eu não tenha me sentido mais infeliz. Ter que forjar uma naturalidade nas palavras, ter que fingir tudo o que eu sentia, tudo o que eu queria. Nem eu sabia mais o que queria.
Era perigoso. Não poderia ficar nem mais um segundo perto daquela detentora de todo o meu amor. Afinal, ela estava feliz! Ela estava vivendo, estava progredindo, estava recuperando sua vida de antes. Eu não queria atrapalhar, não podia atrapalhar. A observaria de longe, até vê-la se perder dentro de mim. Sofreria mudo, somente sorrindo.
Levantei-me. Aquele fora o último momento em que eu iria ver um par de olhos onde existe minha felicidade.
"De súbito, meu corpo gelou. Ele se fora e sequer olhara pra trás. Se houvesse no mundo uma pessoa mais infeliz do que eu naquele instante, esta seria ele. Eu sentia, sabia, estranhamente. Mesmo após tanto tempo, eu sabia reconhecer cada gesto. Estava infeliz. Tanto quanto eu estava. Mas eu o entendia. Sim, o entendia. Com uma claridade tão imensa que não poderia deixá-lo partir, supostamente para sempre, sem dar-lhe um último afago. Não era o mínimo que eu queria fazer, mas o máximo que meu coração permitia diante da minha razão orgulhosa e impenetrável.
Ao quase perdê-lo de vista no horizonte, eu gritei o seu nome. Tenho certeza que aquele grito ecoou durante longos minutos nos ouvidos de sua alma. Ele parou e se virou no instante seguinte. Seus olhos haviam perdido aquele brilho. O amor estava me deixando. Era preciso, era necessário. Não poderiamos mais ficar juntos. Não suportaríamos mais ficar separados.
Inventei qualquer desculpa para me aproximar dele. Pedi-lhe mais um cigarro. Ele me deu e, novamente se virou. Deu, então um passo curto em direção ao adeus. Passo esse que parecia nunca alcançar o chão."
Virar as costas naquele momento foi a coisa mais difícil que eu já havia feito na vida. Ter que partir, querendo ficar, mas não podendo, por saber que minha presença naquele local só a faria mal. E eu me sentia mal. Por querer muito fazer alguém feliz e ser impedido pela pureza, pela ingenuidade e pela cegueira que causa o amor.
Desgraçei-me por todos os meus pecados. Joguei pragas terríveis em mim mesmo. Vendi minha alma em troca da felicidade da única pessoa que eu me importava. Uma atitude desesperada, mas que me faria digno de algo ao menos uma vez na vida. Gostaria de ser esquecido, de vê-la continuando sem mim. Mas eu marquei, sim, marquei. Da pior maneira. Com o sofrimento que eu causei.
O primeiro passo, após me virar, foi interrompido por duas mãos que eu conhecia muito bem segurando o meu braço. Seguiu-se, então, uma voz doce e fúnebre:
- Você está bem?
" - Não! - Exclamou ele, com a mais triste das vozes.
Jamais desejei isso. Sempre desejei somente sua felicidade. Apesar de tudo, jamais deixei de pensar nele um instante sequer. Ele marcou a minha vida, de fato. Da melhor maneira possível: Entregando todo o amor que ele poderia ter por alguém. Eu me culpava, entretanto, por não ser digna de todo esse sentimento. Não poderia mais manter aquilo, mas também não podia abandonar, não queria.
Eu disse pra ele que não poderia mentir e que também estava muito infeliz. Meu coração fez uma força um pouco mais intensa e eu não resisti ao dar-lhe um abraço. E ele retribuiu com o calor mais intenso que poderia haver. Ali estavam as algas gêmeas unidas, mesmo em corpos distintos. Mesmo que por uma última vez."
Não posso descrever o que houve naquele momento. Mais do que um simples abraço, mais do que qualquer palavra solta dita ali. Mais do que qualquer coisa. Qualquer desejo, qualquer vontade. Estavam presentes duas pessoas que se amam verdadeiramente e estão certas disto, mesmo duvidando por muito. Duas pessoas que, de certa forma, não podem viver longe uma da outra, mas que também não está viável viver próximas. É tão simples e pequeno! Tão complexo, no entanto! Não há argumentos, não há como descrever. Simplesmente é.
E, diante daquele abraço, o passado e o futuro passaram a não se importar. Nem o que aconteceu e nem o que viria a acontecer. Somente aquele instante era valido. Nada mais. Nenhuma coisa além. O momento onde o fim e o início se cruzavam.
"Não posso descrever o que houve naquele momento. Foi como se, por um instante, eu me sentisse novamente segura. Momento onde minha mente havia adormecido e se esquecido de todo o mal que ele me causara. Onde passado e futuro passaram a não se importar. Só aquele momento. Só o presente. Pois não exista passado, nem conseguia ver futuro. Não sei o que fariamos dalí por diante. Sabia, todavia, que não podia mais perder aquele abraço. Mesmo tendo que perdê-lo."
e agora?
"Agora? Fecharei os meus olhos. Observarei a briga entre minha razão e orgulho com todos os meus sentimentos. Serei levada, entretanto, para o mesmo lado que ele escolher. Não serei capaz de tomar sozinha uma decisão que envolvem duas pessoas."
Se há uma coisa que eu aprendi, é que existe o amor. Sim, ele existe. Pois mesmo após de todos os atos tolos que antes cometemos, todas as brigas e todas as feridas, ainda existem coisas que permaneceram e permanecerão intactas. Por mais que ela possa negar, eu conheco-a. Sei o que pensa, sei o que vai dizer, sei o que vai fazer. Sei de tudo da vida dela. Assim como ela sabe de tudo. Assim como, por mais distantes que possamos estar, estaremos sempre perto um do outro. Sempre dentro um do outro.
Pense o que você quiser. (Y)
domingo, outubro 31
Diálogo de almas.
Marcadores: G.B.
Postado por Dongo às 06:32 0 comentários
O rival que caminha ao lado.
Antes eu odiava-o. Jurei pela minha própria vida eliminar todo e qualquer rastro que pudesse levá-lo à sobrevivência. Pois sim. Pois fora ele quem consumiu os meus pais, levou-me o meu amor e todos aqueles pelos quais tinha afeto, carinho e gratidão. Levara todos, exceto eu. Relutante de meu próprio destino, desembainhei minha espada e caminhei sorrateiramente por todo o território, à procura do traidor.
Solitário, eu estou. Solitário permaneci durante todos esses anos com sede de vingança. Não me restou mais nada além de uma lembrança vaga de sua forma e de como ele eliminava as pessoas. Estranhava-me o modo de como inofensivo ele se fazia e de quanto tempo demorava para dominar um ser muito superior a ele por completo. Levara meus pais e os pais dos meus pais. Levara, também, minha alma e minhas perspectivas.
Foram inúmeras as vezes que tentei detê-lo. Foram diversas as opotunidades em que ele brincou de surgir diante dos meus olhos e eu ter que ver minha amada fingir e mentir para confidenciar segredos para meu pior inimigo. Se ele consumia devagar e diretamente todos ao meu redor, comigo sempre fizera diferente. Ele não me tocava, não se aproximava de mim. Mas fazia questão de partir meu coração em pedaços infinitos e saboreá-los com uma mudez de triunfo.
Até que houve o dia em que nos encontramos. De frente, um para o outro. Não havia mais ninguém, somente nós. Eu e quem eu mais odiava. Eu e quem eu deveria eliminar de uma vez por todas de minha vida, para, então, poder viver em paz. E quando eu parti para o ataque, percebi que, naquele instante, havia um inimigo em comum entre o meu pior inimigo e eu. Esta nova entidade surgira, ou melhor, se fez presente em todos os momentos sem que eu jamais pudesse perceber. Era a solidão. Até meu pior inimigo sofria do mesmo mal que eu. Um mal que teria de ser detido, com todas as forças, até mesmo as nossas unidas.
Às vezes, até inimigos de longas datas unem-se com uma finalidade de progresso mútuo. E, conforme foram se passando os dias em que lutamos juntos para acabar com a solidão que assombrava a minha alma, fui percebendo mais pontos em comum com ele do que eu poderia imaginar.
Não se deve renegar o seu próprio destino, jamais. Hoje a solidão está ferida mortalmente. Mas, ao invés de retomar minha rivalidade à vida, percebo que encontrei um companheiro de campanhas. Um companheiro que, assim como meus pais e os pais deles, me consumirá. Mas que eu mesmo dei minha alma em troca do fim de um inimigo maior.
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: Quase-paradoxos
Postado por Dongo às 04:19 0 comentários
domingo, outubro 24
A dor que remédio algum pode curar.
Não há nada para se sentir nesse momento, mas mesmo assim sinto. Sinto muito por concluir o que jamais desejei e deixar para trás o que me foi bom. Sinto por ainda me desgraçar em lágrimas inúteis, lágrimas que já são tão sonoras quanto a melodia que dobram os meus ouvidos. Como os sinos dobram na igreja, alertando a queda de mais uma grande alma. Pois até as boas almas perecem com o desgaste causado pelo tempo.
Não há nada para se fazer neste momento, mas mesmo assim faço. Fico quieto, estático, mudo. Se não sei o que dizer, nada digo. Se não sei o que vai acontecer amanhã, simplesmente vivo e vejo os ponteiros gigarem vagarosos, até que toque o doze e os sinos dobrem novamente. E enquanto o amanhã não vem, eu passo a me entreter com minhas próprias dores, meus tristes afazeres, meus sentimentos e meus temores. Pois não há dor maior do que a dor da alma. Não há remédio que cure a dor causada pelo sacrifício do que pode ser chamado de "suicídio póstumo". Pois minha alma já não vive mais, mas ainda vive para contar sua triste história.
Não há o que doer nesse momento, mas a dor é intensa. É imensa, essa dor. Dor da alma, dor da saudade, dor da lágrima e grito. Dor da meia noite, do meio dia, do dia todo, de todos os dias. Não há o que temer, não há o que sentir, não há o que fazer. Então, continuo cambaleante pelas curvas sinuosas, com espada em punho firme e cerrado, pronto para assassinar meu minotauro interior. Mas o que mais me aflinge, é a dúvida que tenho em saber se, ao meu regresso, minha Ariadne ainda estará me esperando a porta, com o seu fio dourado e pele quente, para que juntos, finalmente, sem problemas, possamos construir nosso novo reino de castelos de areia.
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: O Antes
Postado por Dongo às 08:48 0 comentários
sexta-feira, outubro 22
A ferida está cicatrizada?
São bons os fluidos que circulam dentro de mim. São puros, raros e autênticos, todas as atitudes, gestos e pensamentos. É harmônico. Um paradoxo entre o sonoro e o silencioso, entre o grito e o sopro, entre a exclamação e a respiração.
Algo que li, tempos atrás, reflete como um espelho para os dias de hoje: Como algo que falamos no passado, tem sua conclusão no futuro?
Perguntas sempre rondam as nossas mentes. Quando as respondemos, mais perguntas aparecem. Esse é o grande mistério da vida. Saber de onde tantas questões se formam é o grande objetivo a ser buscado.
Vai dizer que você não sente uma pontada fria e fina lá dentro, lá no centro do coração, quando você escuta meu nome. Vai dizer que você não se pega pensando em mim quando está sozinha, deitada na cama, ou quando olha para aquele horizonte que um dia até confundido com outras coisas foi. Vai garantir que ainda não sonha, não lembra e não sente saudades do passado. Vai dizer? Vai garantir?
Eu digo, por você, eu garanto. A cada dia que passa, mais o paradoxo do cego e do cortante se atenua. Mais de futuro o passado transforma. Mais vejo que, apesar de dias, semanas, meses e anos, eu ainda sei pouco dessa fábrica de perguntas. A cada dia mais velho, mais perto da verdade eu fico e mais longe de ter uma idéia de qual resposta eu receberei tenho. A vida é assim. Cheia de realizações, mistérios, perguntas e deduções.
Cheia de paradoxos e cheia de pensamentos que, de certa forma, ainda me leva pro lugar de onde eu jamais deveria ter saído.
(20/01/2010)
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: Remake do Blog
Postado por Dongo às 18:19 0 comentários
segunda-feira, outubro 18
Ser vivo.
Percorrendo o horizonte com um olhar sobrecarregado de tristezas e de olheiras fundas, percebo o quanto pode ser adversos nossos caminhos. Enxergar além e não enxergar nada pode ser a mesma coisa se visto de ângulos opostos. Conquistas podem se transformar em fracassos, ilusões podem se tornar reais e idéias podem jamais sair do campo da imaginação.
Aprendi a não acreditar mais no impossível. Bastou apenas uma pequena injeção de confiança em meu sangue de pulsar fraco pelas sucessivas quedas, para compreender que nada do que fora perdido outrora não possa ser reconquistado. Tudo bem que nada voltará a ser como era. Tudo bem que cicatrizes haverão sempre e estarão presentes. Serão notadas da mesma forma por todas as pessoas que as observarem. O que diferenciará será como nós mesmo nos lidaremos com estas.
A dor sempre estará presente dentro de nós. Uma leve pontada no coração, como um breve badalar de sino, consumirá nossas almas rápida e intensamente sempre quando algo que nos desagradou for lembrado. Alegria também pode se transformar em tristeza. Saudade pode ser uma variável de raiva. Amor pode ser raiva, também.
O que importa, no fim, é saber ainda se sente ou se não sente mais. Não há fim enquanto o existir sentir, enquanto o sentir existir, enquanto o coração não aceitar que não há mais nada para se fazer, a não ser seguir em frente e em paz.
Nota: Peço desculpas aos leitores do imaginadongo pelo tempo em que fiquei sem postar. Tenho trabalhado bastante nesse período e me dedicado mais à leitura. Outro fato importante é o de eu estar sem internet em casa. Prometo a todos que sempre que puder colocarei uns textos curtos e, se possível, com um vocabulário mais extenso e inteligente.
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: Olhos fechados
Postado por Dongo às 11:35 0 comentários
terça-feira, outubro 5
Sete de Setembro.
"Nunca antes na minha vida me senti tão fraca. Indecisa, impotente, temerosa, perplexa e imóvel. Nada no meu corpo está funcionando como deveria. Não consigo reagir aos comandos do cérebro, ocupado demais pensando em uma simples decisão, mas que pode ser crucial para o resto da vida. O desejo de correr e se entregar é o mesmo de fugir e abandonar todas as realizações conquistadas com muito esforço. Ao mesmo tempo que muito penso, nada há em minha mente. Somente uma palavra de cada vez.
Minhas mãos agora tremulam com ferocidade. O coração bate acelerado, incansável, prestes a explodir com a onda de euforia e ânsia de tudo acontecer. Ofegante, tento eu inutilmente me ocupar com outras coisas. Música, televisão. Música e televisão. Folheio uma revista qualquer. Rabisco em um papel qualquer. Mais um gole d'água, outro e outro. Aquele maço de cigarros, antes fechado, já está no fim. Nunca foram tão necessários para me acalmar como agora. O suor gelado escorre pela minha face. As mãos geladas apertam minhas coxas ao ponto de deixarem hematomas.
A cadeira em que estou sentada parece pequena demais para o meu corpo e todo esse sentimento que aqui tenho dentro de mim. Os suspiros são ainda mais fortes agora, em que na tela do meu computador sua foto e um "oi" no messenger você acaba de mandar. Por um mínimo instante, recordei-me de todos os dias em que estivemos juntos até este momento. Meus "erros" impediram que hoje, nessa data que é de extrema importância para mim, pudessemos estar juntos e felizes. Por um momento me arrependo de todo o mal que pude ter feito para você. Penso em te ignorar e te deixar seguir em paz, ser feliz. Mas, sinceramente, de alguma forma, eu sei que a sua felicidade está guardada dentro de mim. Eu não tenho certeza disso, mas eu tenho certeza.
Entretanto, não posso voltar atrás em minhas decisões. Se tomei essa atitude, foi por ter certeza de que seria melhor para você, pois é uma pessoa de qualidades ímpares e pequenos defeitos completamente releváveis. Eu sei que não mereço sua atenção, seu carinho, seu amor. Sou uma pessoa normal, como qualquer outra, sem nenhum talento, nenhuma qualidade. Só faço te faço o mal com os meus defeitos e, sinceramente, não suporto te ver sofrer por mim. Infelizmente eu não consigo me mudar, então, decidi sair da sua vida para que você pudesse encontrar uma pessoa que fosse capaz de te fazer feliz de verdade.
Mas o que eu poderei sempre garantir é que ninguém, jamais, te sentirá como eu senti você em mim. Ninguém te beijará mais apaixonadamente do que eu e nem chorará mais do que eu já chorei. Luto todos os dias contra mim mesma para não me reaproximar e te fazer sofrer mais com isso. Sinto que não posso brincar com os seus sentimentos, pois acaba ferindo muito mais a mim.
E quando penso em sair de casa e fazer qualquer coisa que possa me fazer te esquecer, uma vontade avassaladora de te dizer o quanto eu te amo toma conta de mim. Sei que não devo e não farei. Meus olhos lacrimejam mas mantenho-me firme. Sempre com o pensamento de que isso será o melhor e a mais nobre atitude a ser tomada. Não posso dizer assim tudo o que tenho dentro de mim e te confundir, mas, infelizmente, tudo isso dentro de mim é forte demais para conseguir te ignorar.
Um último trago, um último gole e um último suspiro. Com uma revoada de pensamentos em minha cabeça eu fechei os olhos e, estranhamente, enxergando seu sorriso largo diante de mim, eu disse: 'oi :)'. Não tive um dia bom hoje, mas sei que após falar com você, o restante das horas serão bem menos dolorosas."
Acredite, eu sei de muitas coisas.
Pense o que você quiser. (Y)
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Postado por Dongo às 15:39 0 comentários
sexta-feira, outubro 1
Dias de luta, dias de glória.
A vida, entretanto, me ensinou a nunca desistir. Mais importante do que obter ou perder coisas especiais em nossas vidas é o fato de poder evoluir com cada vitória e derrota. Aprender que quando erramos, o ideal é se arrepender e tentar se redimir. Inventar motivos e dizer que "foi melhor desta maneira" ou enumerar os prós de uma falha não a faz menor ou menos dolorosa. Aprender que deixar de mão subitamente nossos sonhos é o mesmo que sofrer para conseguí-los, sem a recompensa no fim de tudo.
Hoje eu acordei e disse para aquele velho conhecido, que há tempos não via refletido no espelho, tudo aquilo que deveria ter dito enquanto tive calma, como essa de agora. Disse que sou uma pessoa apaixonada, que sente saudades daquela que me faz bem, que já pensou em desistir diversas vezes, mas que no fim nunca irá embora sem tentar uma última vez. Que pode ser tirado de mim tudo o que tenho, mas as coisas boas que fiz pra quem amo é eterno. Marcou como tatuagem e não há esforço que possa apagar isso. O esforço é inútil nesses casos. Eu já tentei, mas não é possível remar contra uma maré tão forte quanto essa. Tentar esquecer não me fez uma pessoa mais feliz. Muito pelo contrário. Fez-me apenas pensar com maior intensidade e me lamentar, cada dia mais, por não poder ter feito diferente quando pude.
Desisti de sofrer e lutar contra os meus verdadeiros ideais. Assim como tudo foi me tirado e degráus da escada da vida eu desci, um a um eu vou trazendo de volta todos os meus melhores momentos, melhores pessoas e melhores dias. Talvez nem tudo volte. Isso é só o futuro quem determinará. Ainda assim, sinto-me otimista. Sei do que eu sou capaz de ser e fazer. Estou à um mínimo passo da minha plenitude, do meu melhor estado de espírito, mesmo ainda não tendo nada. O motivo é porque, diferentemente de antes, agora eu confio em mim como nunca confiei. Antes de desconfiar das pessoas que amo, desconfiei de minha própria capacidade. Todos temos momentos turbulentos. Todos nós já perdemos a cabeça e tomamos decisões e fizemos coisas precipitadamente. Somos vítimas de nossos próprios medos. Somos seres humanos. Estamos perdoados.
Ainda que muito sei que devo trabalhar para reconquistar minha antiga vida, um sorriso largo surgiu em minha face. Trouxe lágrimas, mas não de dor e sim de otimismo. Esse sim sou eu. Esse sim é o meu sorriso. Resgatei todo aquele talento que estava guardado no armário. Assim viverei, pois agora eu entendo tudo. Compreendo o porque das coisas, mesmo após de aprender que sentimentos valem mais do que respostas. Eu sinto. Sinto que estou no caminho certo, mesmo sem conhecê-lo bem. Mesmo conhecendo-o bem o bastante.
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: O Antes, Olhos fechados
Postado por Dongo às 21:15 0 comentários