Porque eu sou.
" - Poeta?"
Sim. Sou um poeta, um literário. Mas não sou simplesmente porque escrevo. Sou poeta porque consigo ir além, muito além. Sou literário porque escrevo mais do que vejo ou imagino. Escrevo, também, o que sinto. Sou poeta, literário, porque amo as palavras e amo o universo que me cerca, acima de todas as coisas.
Por mais difícil e triste que possa parecer, a dor que sinto é infindável. A dor que sangra tinta, preta, nos pergaminhos infinitos, escritos com nosso suor e rabiscos frouxos. Dor que sangra molhada, salgada, saída dos olhos, avermelhando-os e formando um rio de sentimentos sobre as maçãs. A dor que, mesmo trespassada, não deixa de ser a coisa mais bonita que há dentro de mim.
Leio os monstros do passado em que o amor era insolúvel. Antes do samba, da bohemia, que hoje me submergem, na ânsia da cura e de dias melhores, de paz. Cura para a dor que não existe remédio.
Mortos.
Poetas antes de mim, que me deixaram suas monstruosidades como herança. Todas as cartas mais belas e sensações de singularidade especial. Tudo igual, mesmo que, agora, o tom sépia não esteja tingindo-me.
Mas eu sou diferente.
Eles dotaram um sentimento forte o suficiente para perderem o rumo, a sã consciencia. O necessário para tirarem suas próprias vestimentas e correrem a peito nu na chuva e frio. Suicídio.
Mas eu sou diferente.
Estou morto tanto quanto qualquer um. Mas minha morte é diferente. Minha morte é o fato de continuar vivo para observar-me definhando. Sou vago, preenchido de um vazio que nada me adiciona. Vazio de desespero. E em minha lápide imaginaria, há escrito: "O último romântico"
Contudo, ainda caminho, ainda respiro e meu coração ainda palpita, mesmo que fraco como o sol da alvorada. É perdido que sempre acabo encontrando o caminho certo. Muitas das vezes o único caminho que tenho pra seguir.
Enquanto vivo morto, continuo e espero. Fé e coragem naquilo que há dentro de mim neste momento. Coragem e fé. Pois eu sou diferente. O poeta que ainda vive pra contar seus contos, derramar seus prantos. Sentindo a brisa dor, sentindo a selva densa e esperando o tempo que for necessário para que só que importa e o que for bom da dor permanecer.
Mais uma cerveja em minha mesa. Mais um samba triste em meus ouvidos e pulmões.
Pense o que você quiser. (Y)
segunda-feira, novembro 22
Diferente de todos os outros.
Marcadores: Mal do século.
Postado por Dongo às 17:08 0 comentários
quinta-feira, novembro 18
Simplicidade.
" - Veja bem: Você sabe quanto tempo se leva para encontrar um alguém em que você diga, já no primeiro encontro, algo como 'é ela'? Você sabe quanto tempo leva para se acostumar com os defeitos dessa pessoa e aceitá-los? Sabe quanto leva pra respeitar as limitações e se moldar para encontrar o encaixe mais próximo do perfeito? Sabe quanto tempo leva pra conseguir esse encaixe perfeito? Não só tempo! Dedicação e muita, mais muita sorte!"
- Não sei.
" - Agora imagina você: Agente leva tanto tempo pra encontrar uma pessoa que tem certeza, desde o primeiro instante, que te fará muito feliz. Insiste em se adequar àquela. Faz com que ela se adeque a você. Olha quantas pessoas há nesse mundo. Contudo, olhe antes quantas pessoas podemos contar nesse imenso mundo."
- Eu não sei. Não sei quanto tempo leva, nem quanta sorte se usa.
" - Pior do que é ser o sacrifício de encontrar, é o sacrifício de conseguir ser feliz. Mas não há sacrifício pior do que o de, subita e simplesmente, deixar de lado tudo aquilo que se construiu. Não há fim. Não houveram últimas palavras. Mas posso afirmar que estou realmente bem e com o coração limpo. Puro novamente."
- É. Acho que você deu pra mentir, agora.
" - Enquanto eu conseguir enganar a todos, por mim tudo bem."
- E quanto a te enganar.
" - Impossível. Agente pode tentar fingir de tudo pra qualquer pessoa, até conseguimos nos convencer às vezes. Mas podem passar-se anos, décadas que, por mais que eu tente fingir tudo o que tenho dentro de mim, lá no fundo eu sempre saberei que é mentira. Por isso, então, eu te engano. Está tudo bem. Eu estou feliz e vou viver."
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: G.B., Quase-paradoxos
Postado por Dongo às 17:03 0 comentários
segunda-feira, novembro 8
Relatos em questões.
Antes de mais nada, gostaria de me desculpar com os assíduos leitores do imaginadongo (que está aumentando cada vez mais a sua família!) pela demora com a nova postagem. O tempo está ficando cada vez mais curto e os dias cada vez mais corridos. Logo, para compensar vocês, amiguinhos, preparei um único texto abordando todos os temas pelos quais quis escrever esta semana. Meu moleskine está quase no fim e ainda há muito para compartilhar com vocês, eu sei. Mas prometo que assim que conseguir um dia inteiro de folga, me empenharei em transcrever e publicar todas as minhas aventuras, opiniões e tudo mais. NÃO DEIXEM DE LER ESTE POST! Não se intimidem com o tamanho do texto. Está com uma leitura envolvente e fiz com todo carinho para vocês!
Agradeço a atenção de todos, mais uma vez. Espero que desfrutem dessa leitura e...
Pensem o que vocês quiserem! (Y)
"- Gozarei, desta vez, de toda linguágem corriqueira que puder. Tentarei.
- E porque não conversou assim comigo desde o início, Sábio?"
Seguiu-se, então, um diálogo entre o sábio e o aprendiz. O que está de ouvidos apurados, esperando para ouvir o que viria a ser mais um conselho decisivo para o futuro a se trilhar sou eu, o Poeta, o Sonhador. Sou eu, o Verde.
Jamais pensei que, após sair daquela porta em que um triângulo com as cores vermelho, amarelo e verde, voltaria a rever o sábio Daniel. E se há algo mais impressionante do que rever o sábio ressurgindo do interior de um nobre rapaz amigo meu, cujo acaso fez ser batizado pelo mesmo nome, é o fato de me ver, mesmo após ter me convencido de que seria improvável, dentro do quarto branco novamente.
Justo no dia em que estava de malas prontas para. O destino ás vezes te faz trilhar um caminho que parece ser mais torturoso, mas que revelam as maiores glórias em seu horizonte.
"- Não é preciso ver. Basta sentir. Basta imaginar. Feche os olhos e estará no quarto que te ensinou a viver mais uma vez."
Então, como num passe de mágica, pude repousar minhas pálpebras e poder enxergar toda aquela imensidão celéste que cobriam as paredes, chão e teto. Por um momento, a dor, que carrego como fardo e por não conseguir me perdoar por erros cometidos e situações que acabei fazendo uma pessoa pelo qual tenho um amor imenso passar, sumiu por completo de dentro de mim. Essa dor, que já acostumei a tratar como companheira nos afazeres diários, pois ela jamais me abandona, ficou do lado de fora das portas repletas de símbolos e formas. Estava somente eu, as estrelas e o Sábio.
"- Jovem rapaz! O que trás de volta aqui?
- Preciso encontrar um jeito de acabar com essa dor que está me consumindo dia após dia. Preciso por um fim. Mas tem que ser de verdade. Não consigo mais suportar por tanto tempo."
Passaram-se horas enquanto eu estava conversando com o meu jovem amigo, a beira da churrasqueira e entre dezenas de latas de cerveja. A breja jamais havia se tornado tão produtiva como a daquele dia. O seguinte após reencontrar uma pessoa que não via há dois longos meses. Se forem um pouco espertos, descobrirão de quem estamos falando.
Pois bem. Enquanto passaram-se horas em que conversava com o sábio, dentro do quarto branco, meu coração apertava com cada palavra, cada frase dita pelo Daniel. É impossível escrever exatamente tudo que conversamos, mas citarei o que foi impressindível para me fazer pensar durante toda essa semana. A dor está me consumindo de uma maneira em que eu simplesmente não consigo mais viver sucumbida a ela. É como em um jogo de xadrez: Para darmos o cheque-mate, há horas em que temos que sacrificar uma torre ou um cavalo. Mas, no meu jogo, eu sacrificarei um sentimento, uma virtude, que equivale a rainha.
E Daniel disse:
"Eu posso ver nos seus olhos que ainda há um sentimento muito vivo dentro de você. Posso ver além. Posso ver que esse sentimento é reciproco. Posso ver ainda mais! Posso ver em que, no fundo, mesmo duvidando em alguns momentos, no fim você também consegue ver em que existe alguém no mundo que te ama tanto quanto você ama. É notório, todos aqui já perceberam. Não há frase que você complete sem dizer o nome ou algo que lembre-a. Isso é belo!
O que você deve fazer para deixar a dor partir e voltar a ser feliz? Desequilibrar a balança. Vejo em vocês duas pessoas extremamente iguais em um certo aspecto: O de não admitir algumas coisas e não tomar certas atitudes, por medo de fraqueza, por medo de se mostrar fraco.
Agora, repare quando você consegue sorrir verdadeiramente. São nesses momentos em que você lembra dela com todo o carinho que tem, são esses momentos em que você se recorda de tudo o que fora bom. Vejo um sorriso triste? Sim, eu vejo. Mas é o sorriso mais singelo e verdadeiro que posso ver em sua face.
E vocês equilibram essa balança de orgulho, força e, na minha opinião, idiotice. Quando um fraqueja um pouco, o outro teme procurar mais, ser mais presente e se machucar mais, por consequência. Ou é o medo de machucar mais o outro. Ou é qualquer medo que somente vocês dois podem saber. Algo que só há dentro de cada um de vocês e dos dois, ao mesmo tempo.
Se você quer acabar com a dor, você deve desequilibrar esse equilíbrio. Se libertar do "entre". Se ela está sofrendo igualmente como você, ela também está nesse "between". Acredito, ainda, que ela está mais dividida do que você. Mais perdida também. Mais um motivo para você começar a agir para acabar com essa dor múltipla.
Quero agora que pense. Pense, antes, em todos os momentos ruins que você passou ao conviver com essa dor. Pense em todos os dias em que chorou, todos os dias em que sofreu, todos os dias sem dormir. Pense em como sua alma caleijou e em tudo o que você perdeu por devoção a ela. Agora, pense em todas as coisas boas que sua vida em conjunto lhe proporcionou. Dos momentos em que você poderia ver o mundo acabando, mas que não se importava, pois estava com a pessoa que ama. Pense nas duas coisas e veja se tudo o que você passou de ruim foi compensado pelos momentos bons que vieram antes.
Se tudo o que passou de bom supera toda essa dor, eu digo a você que lute. Não desista assim tão fácilmente, não abra mão. Aposte todas as suas fichas. É o "All In". Aposto que ainda há algo pra fazer que você ainda não fez. Está na hora de quebrar os paradigmas, as regras e lutar. Deixe esse medo de lado. Deixe o orgulho de lado. Rebaixe-se se tiver que se rebaixar, diga tudo o que seu coração quer dizer, mas que a razão cisma em não permitir. Mostre-se. Mostre que você não é mais o mesmo. Surpreenda. Surpreenda-me, a você mesmo e a ela. O que custa? Será que fazer isso tudo vai aumentar a dor? Será que fazer isso tudo é pior e mais difícil do que conviver com a dor?
Deixe que ela decida o destino dela. Infelizmente, ficar junto com uma pessoa é uma decisão que depende dos dois. Pra não ficar junto, basta um se negar. Entretanto, por qualquer que seja o caminho que ela vá escolher, eu te garanto que junto com ela irá toda a sua dor. E se precisar chorar, para culminar o fim desse seu período turbulento, ombro amigo é o que não faltará pra você.
Faça-a descobrir o que ela quer. Pois, pelo que estou a ver agora, você finalmente se decidiu."
Mais uma vez, fui pego pelas pernas em minha própria contradição. Eu que havia dito que não devemos desistir, estava prestes a tomar essa decisão e conviver com a doce dor. A dor que é letal e, ao mesmo tempo, vagarosa com seu veneno. A dor por ter algo tão belo e bonito dentro de sí. Algo que, mesmo passando por transformações, segue intacto, imutável. Algo que nunca deixou de ser presente, por mais que faça mais parte do passado agora.
A vida, através do sábio, mais uma vez me ensinou a nunca, NUNCA, N-U-N-C-A desistir. Além disso, ultimamente ela tem me ensinado a não crer no impossível também. Como, por exemplo, acreditar que pode-se adivinhar onde vai fazer uma prova, entrar sem o cartão de confirmação e com uma hora de atraso, algo que não aconteceu em nenhum outro lugar do país! Algo que, pra qualquer um pareceria impossível, mas pra quem acredita no próprio potencial, o improvável passa a ser somente uma questão de opinião. Eu, o Verde, o Poeta, não estou morto. Fui ao inferno e voltei. E, quando fui, penetrei entre o magma e as rochas vulcânicas, encarei nos olhos o Diabo e disse: "Eu tenho duas mãos fechadas e sei brigar". E apanhei. Acabei por vê-lo manipulando a minha mente e fazendo-me fraquejar diante dos problemas, confundir quem seriam meus verdadeiros amigos e tirar toda a confiança que eu tinha em mim. Não posso dizer que perdi tudo, mas posso afirmar que perdi diversas coisas que me faziam a diferença. Distanciei pessoas que jamais gostariam que saíssem de meus olhos, deixei passar oportunidades que mudariam o meu futuro pra melhor. Entretanto, assim como Jó, jamais deixei de perder a fé. A fé de que eu poderia reencontrar a minha confiança e fechar os punhos novamente, partindo para a minha luta solitária contra os pequenos demônios chamados problemas e obstáculos.
Se antes achava que tinha todo o tempo do mundo para mudar o meu futuro, percebi que cada instante em nossas vidas pode ser o último. A prova disso foi quando comprava algo pra comer no mercado e senti um forte arrepio. Momentos depois, um burburinho me chamou atenção no corredor paralelo ao que eu me encontrava. E lá estava uma senhora caída no chão, imóvel. Morta.
O ceifeiro passou justo no local em que eu estava. E se ele se volta para mim e decide me fulminar com sua imagem? E o que é a vida?
Tão simples e difícil de explicar é a vida. Em um momento, a mulher estava comprando o que seria o seu jantar de domingo. No seguinte, caída no chão. Simples! Num momento você está, no outro está em julgamento divino.
Eu passei a pensar em quantos abraços eu quero dar e meus "princípios" me impedem. Passei a pensar em quanto tempo eu estou perdendo escrevendo esse texto enorme. Passei a pensar no quanto idiota eu tenho sido. De não assumir o óbvio, de tentar fazer aquilo que realmente quero. De não me importar com o fracasso, pois, talvez, eu nem possa mais estar em corpo presente para presenciá-lo.
Há ainda muitas coisas que eu poderia adicionar, mas ninguém iria entender. Daqui para frente, seria algo que só quem já viveu sabe como é, fora que eu estaria perdendo ainda mais tempo. O que eu posso dizer é que eu já sei o que eu quero, já sei o que é melhor pra mim e já sei como acabar com essa dor. O que posso dizer é que eu não vou desistir, sob nenhuma hipótese. Farei o que tiver que fazer até onde achar que devo. Será o último fôlego, o último esforço, pra reviver aquilo que jamais morreu, pra viver aquilo que jamais se viveu, pra viver.
Vejo vocês em breve e digo como foi.
A Citação: "Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez" - Jean Coteau.
A Canção: "Stare at the sun" - Thrice.
Pense o que você quiser. (Y)
Marcadores: Livro Branco, Olhos abertos
Postado por Dongo às 18:33 0 comentários