quinta-feira, fevereiro 24

XXI

O envelope já estava lacrado. Contudo, assim como eu estou durante todo esse tempo em que estamos distantes um do outro, senti que faltava algo a ser escrito naquelas folhas ainda. Então, pus mais esse pequeno anexo:

"Tantas coisas já aconteceram em nossas vidas, que nem sei como e porquê começar o fim de algo. Não entendo se são minhas últimas ou primeiras palavras. Ou se são últimas primeiras palavras, ou se são primeiras últimas palavras. Não sei nem se são mesmo simples palavras, pois cada uma delas, cada letra de cada um delas, contém tanto sentimento, tanta paixão, tanta saudade, que fica difícil e simplesmente pequeno chamá-las somente assim. 
Lembra aquela última vez em que nos falamos, Estrela? Uma troca de mensagens que durou dias, até, súbitamente, você dizer, praticamente, para eu desaparecer de sua vida. Foi isso que eu fiz, basicamente. Pois, no fundo, ainda tenho você bem viva e bem presente no meu cotidiano. Nas preces, naquela foto impressa que ainda tenho em meu porta-retrato, nos presentes que me deu. Não há como comer uma trufa de caipirinha e não me recordar de quase todas as nossas viagens de ônibus, ou das minhas sozinho, ansioso, esperando o momento de te ver.
Recordo-me que te convidei para visitar um lugar lindo. Onde, talvez, nunca estivera antes. Pois se tivesse que haver um fim, que fosse em paz, que fosse amigável. Que fosse logo e cedo, para que superássemos com mais facilidade. Com ajuda um do outro, ao menos. Um último abraço, um beijo nos olhos, quem sabe? Aquele que conseguia arrancar o mais belo sorriso. Aquele que iluminava qualquer caminho obscuro e qualquer problema.
E é na forma de mensagens, essas mesmas que me trazem uma dor enorme no peito mas que me faz lembrar do sorriso e ainda consegue iluminar o caminho pelo qual percorro agora, é na forma de lembrança, um misto de bom e ruim, que eu vivo. Nelas você perguntava se o que eu sentia era mesmo verdade. Empolgada, me contando as novidades. A vontade de responder é enorme, pode ter certeza. Escrever que você pode me ligar em qualquer hora, por qualquer motivo. Dizer que eu ainda estou aqui pra conversar e ajudar em qualquer situação. Que não é tarde pra me entender, pra se entender e que cada minuto a mais é precioso.
Pois se houvesse um minuto a mais em cada momento em que estivessemos juntos, mais uma despedida poderíamos ter dado, mais uma troca de olhares, mais um abraço, mais um cheiro, mais um minuto daquela dádiva que se chama amor.

E, agora, feche mais uma vez, pela última vez, os seus olhos. Pense nos dias que se passaram em sua última semana. Mesmo fazendo tanto tempo em que não nos sequer falamos. Os bares foram, de início, um simples refúgio. Depois tornou-se prazeroso, até. Os outros braços que te abraçaram pareciam sufocar. Depois tornou-se um simples refúgio, até. E passou a ser rotina o que era desespero. Passou a ser viver o que era fugir. Passou a ser presente.
Mas e depois? E ao deitar-se na cama? Qual era mesmo o pensamento? De quem era mesmo o pensamento? Como era mesmo o pensamento? Quais eram as perguntas? Quantos eram os porquês? Será que era fácil dormir? Às vezes penso muito que estou enganado, mas há algo mais forte dentro de mim que sempre diz que não sou eu só que sinto todas essas loucuras, esses devaneios. Uma vez quis tentar me enganar e descobri que estava sendo enganado fazendo isso. Sei que aprendi errando, mas agora sou capaz de acreditar mais no que vem de dentro. No meio de tantas perguntas, no meio da vida normal que se vive agora, não acontece aqueles dias em que um vazio repentino toma conta? Sem razão, sem motivo.Mesmo após dias ou meses, um buraco no peito simplesmente surge. Uma solidão assombrosa, por mais que esteja cercado de milhares de pessoas. Há horas em que quando falta uma única, o mundo parece desabitado. Quando falta um único músico, parece que a orquestra é muda. Um pouco de silêncio e de som. De escuridão e luz.
Há, também, os dias em que nada dá certo e quando a noite chega, tudo o que você mais deseja é ter alguém pra contar tudo o que aflinge. Qualquer pessoa passa ser o ouvinte, mas nunca é o ideal, o encaixe perfeito. As peças perderam a forma, realmente. Logo, vem a pergunta que não quer calar: Você é realmente feliz?
É realmente feliz? Mesmo sorrindo, mesmo vivendo. Será que se é capaz de ser feliz com algo faltando? Viver como que sem braços, para serem entrelaçados aos seus. Viver como que sem pernas, para caminhar ao lado das suas. Viver como que sem coração, para bater acelerado, em uníssono, pois ambos conseguimos mais do que ver, sentir ou imaginar. Conseguimos ser, ouvir, viver, ser o espelho. Almas que se adotaram e que se cuidam enquanto os corpos sonham sonhos bons.

Peço que reflita e responda essa pergunta somente quando souber a diveferença do ser para o estar.
Um beijo."


O que falta dentro de mim, eu sei, caso falte mesmo. Até hoje as pessoas me fazem essas duas perguntas: Se me falta algo e se eu sou realmente feliz. Eu sei as respostas, mas pra quem pergunta-as, sempre digo a mesma coisa:


Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, fevereiro 18

Porque não se pode dormir.

- Em nome do pai, do filho e do espírito santo. Amém. Senhor: mais uma vez eu ajoelho-me, diante de sua palavra, de seu espírito, para pedir, implorar, que proteja-a onde ela estiver neste momento. Que seus sorrisos possam ser sinceros e que amenize seus sofrimentos. Que ela possa ter um dia bom e promissor amanhã. Amém.
Cabeça sobre o travesseiro. Olhos fechados. Corpo dormente...

"Que bom que você está novamente aqui comigo, querida. Hoje está ainda mais linda do que ontem. Nossa praia deserta, ao pé da tartaruga de pedra, nem se compara à sua beleza e ao seu encanto. Cá estamos nós denovo, como antes, como antes do antes. Como quando não existíamos. Diga que me ama, mais uma vez, ao menos! Há quanto tempo não ouço seu sussurro em meu ouvido! Diga a verdade, toda a verdade que existe dentro de você! Pois eu sei, eu juro que sei que você ainda sente o mesmo que eu.
Que bom que você está novamente ao meu lado, nesta tarde ensolarada e maravilhosa. Hoje meu violão ficou em casa, mais temos tanto o que conversar! Como anda sua vida atualmente? Me abraça forte? O aperto de seus braços me faz esquecer de todos os problemas que tenho passado. Faz-me criar forças pra aguentar todo o peso em minhas costas e a ultrapassar qualquer obstáculo que a vida me impõe. O cheiro do mar e a brisa que toca meu rosto não existiriam se você não estivesse presente aqui, agora. Fique perto de mim por hoje, te peço.
Que bom que a noite está chegando, querida. Como é bom poder dormir junto à você. Poder recostar minha cabeça sobre sua barriga e sentir suas mãos acariciando minha nuca de uma maneira ímpar. Do jeito que só você sabe, pois só você conhece a maneira que me agrada. Somente quando estou unido a você é que consigo dormir em paz. Saber que haverá alguém alí quando eu acordar, para eu poder observar um rosto de pele rosada sorrindo de leve. Saber que haverá alguém se preocupando em colocar as mãos perto do meu nariz, só pra saber se eu estou respirando. Me dê um beijo de boa noite? E, quando acordarmos, me dê um de bom dia? Pode ser sem escovar os dentes! Sabe que o mais importante é ter alguém especial sempre por perto.
Que bom que estou preso à essa realidade, ao seu lado. Pareço estar sonhando, mas é tão real, tão verdadeiramente real, que não vejo o tempo passar. Ele, simplesmente se resume em um suspiro. Diga que me ama, só mais uma vez. Diga toda a verdade que há dentro de você, pois há um barulho estranho que começa a estragar o nosso novo dia. Insistente..."


Uma batida forte no botão do despertador. Uma batida forte no coração. Um instante de desespero. Era mesmo um sonho. O mesmo sonho de todas as noites. Mas mesmo com o coração apertado por ser somente um sonho, um alívio de saber que, ao menos, ainda tenho sentimentos vivos e raros dentro de mim...



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, fevereiro 15

Caneta na mão.

Silêncio.
Quem me dera, nessa vida, se realizasse metade dos meus sonhos. Se realizasse, somente, uma pequena parte dos objetivos que almejo. Mais uma vez, de súbito, pego minha mochila e ponho-a nas costas, num ritual quase que diário. Parto, logo, rumo ao meu cotidiano: Rumo ao nada. Pois estou livre pra poder fazer todas as coisas que quiser. Observo as fotos da minha infância e vejo como passa rápido o tempo. Aprendi a não depender das mãos de meus pais para atravessar a rua e, agora, atravesso a vida sem parar de andar um único momento. Pois o tempo não para, nunca.
Mas porque sempre olho para trás? Porque essa impertinente mania de querer ver ao horizonte tudo aquilo que passou? "The past is only the future with the lights on." Será que a resposta é mesmo essa? Não sei. Ou, talvez, até saiba muito bem. O que passou já não importa, mas as lições deixadas são marcantes e eternas. E se ainda penso em como aquela voz, aquele sussurro ou aquela gargalhada ainda me trás lembranças boas, percebo que assim como o tempo passa, as coisas mudam. As pessoas mudam. E, mesmo sendo sempre elas mesmas, jamais tornarão a ser quem foram um dia.
Aprendi muito mais coisas do que chorar e me comover com qualquer ato de amor, cumplicidade ou heroísmo. Aprendi a manipular a minha própria verdade. Ser transparente ao ponto de tornar as coisas ocultas sob essa tal transparência. É o benefício da dúvida. Sempre foi assim. Agora não preciso mais de canções para me derreter em lágrimas e soluçar. O choro vem do canto da alma, da maldição que roguei a mim mesmo. E isso não é uma reclamação. Isso não é uma fraqueza, também. É uma força sobrenatural que fora causada pelo sacrifício. Se valerá à pena eu não sei, mas se já me sinto um tremendo bobo por tudo que um dia fui capaz de fazer, o que me custa ser um palhaço completo?
Houve uma história daquele palhaço de nariz azul, mas esta, deixo pra contar outro dia.
E, agora, o que eu faço com toda essa saudade que me assola? " - Mate-a!" , diz o sábio. Eu já tentei, mestre. Quis aproximar este corpo doente e frágil de sua alma que vigora em algum lugar depois das chaminés, depois dos eucaliptos. Entretanto, quando mais próximo do meu objetivo eu chegava, mais longe ele parecia estar. A caixa de pandora continua guardada em meu armário, contendo todos os utencílios que um dia eu prometi dar. O que acontece é que não importa o que aconteça, sempre haverão promessas que não poderão ser cumpridas. Não podemos nos cobrar tanto, pois somos seres humanos. Então eu espero. Fé e esperança nunca me faltaram mesmo. Aguardo ansiosamente um momento em que eu possa perceber que há uma brecha para tentar denovo.
Enquanto isso eu vou vivendo. Tão intensamente que chego a não ter mais tempo para dormir. Ou porque não quero mais dormir. Qualquer dia eu conto um desses sonhos sublimes que presencio dentro de minha própria mente. Agora faço coisas que todos duvidariam que eu fizesse. Mas eu não conto essa outra parte da minha vida. Deixo apenas registrado, sempre, tudo aquilo que mais interessa. A única coisa que eu ainda mantenho pura dentro de mim. "Eu te amo."



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, fevereiro 8

Responsável por aquilo que cativa.




Tive tantas coisas pra dizer, durante todos esses longos dias em que deixei de lado o papel e a caneta. Deixei de lado a minha principal arma contra essa solidão que, a cada dia que passa, toma mais conta de mim. Talvez esteja eu em uma redoma de vidro. Talvez eu seja mesmo o intocável, o sensível em demasia. Talvez seja eu, entretanto, aquele adulto tão insensível e incompreensível. Os dois extremos. As duas verdades e as duas mentiras.
Talvez, a vida seja mesmo uma canção. Pois não precisamos de muitas palavras para compreender o que sentimos. Cada doce letra se encaixa perfeitamente em cada lacuna mal ou não preenchida em nossas vidas. Cada estrofe traduz exatamente àquilo que queremos, que precisamos ou que almejamos, de certa forma. Há certas coisas que não sei dizer com clareza, mas memos assim tento. Mesmo assim tento expôr toda a força magnífica de melodias tão puras quanto o sorriso e a insistência de uma criança, que jamais permite que uma pergunta não seja respondida.
Respostas sem perguntas é o que mais há de comum em nosso cotidiano. Tudo é tão corrido, que o fim chega muito antes do próprio início. E, depois que algo termina, começa um sentimento novo, tão sublime e concreto que às vezes parece até magia. Como pode um amor se perpetuar desta maneira? Como pode o sono ainda se perder dentro do quarto e os olhos vazios encherem-se d'água enquanto assiste àquele filme em que há um homem que não desiste dos seus sonhos, mesmo quando o mundo parece lhe virar as costas? Como pode se comportar um ser que ainda sente dentro de sí todas as batidas daquele coração, ouve todos os sussurros à noite e lembra, mesmo quando não quer, daquilo que um dia fora momento bom.
Sábio menino, príncipe, viajante. Sábios os que o rodearam e aconselharam. Mesmo não entendendo nada daquilo que estavam dizendo e fazendo, amadureceram as idéias. Porque temos de chorar quando cativamos alguém? Porque a saudade existe? Amar não é olhar um para o outro. Mas pra onde estamos olhando agora? Pra onde eu posso olhar e poder ver?
O essencial é invisível aos olhos. Mas não se pode haver perguntas sem respostas. E, se há tantas interrogações em tudo que é escrito aqui, é para provar que as respostas existem. Muitas vezes, elas são as mais óbvias e estão evidentes. Só se vê bem com o coração. Ver com o coração, sentir com o coração e imaginar com todo o coração que lhe cabe, que cabe seu amor e sua amada. Minha amada, meu amor.
Tanto tempo somente pensando, pra não chegar a conclusão nenhuma. Não chegar a lugar nenhum, mesmo caminhando incansávelmente pela estrada que não me leva a nada, à não ser um futuro desconhecido e, talvez, um pouco feliz.
As respostas são as perguntas das respostas que virão.




Pense o que você quiser. (Y)


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