Talvez
nós não sejamos tão diferentes assim, como outrora pensei.
E ela veio, doce e súbita, como uma abelha, dançando e se preparando para dar
um beijo na flor e dela consumir todo o néctar. Talvez estes beijos sejam
carregados, além da matéria prima do mel, de uma utopia delicada. Talvez seja
própria utopia, de fato, que devesse se personificar e descrever o longo e
duradouro trabalho de tudo o que vive. Quente como o sol, natureza. O que os
rios de águas correntes refrescam e movem os moinhos, como palavras são
sopradas pelo vento e, mais do que ouvidas – ou lidas – são sentidas na pele,
fazendo os pelos da nuca se arrepiarem, como se arrepiariam se lábios a
tocasse.
A subtração de dois corpos em um, de duas mentes em um ideal, quem sabe. Talvez
não sejamos tão distintos assim. Agora acredito no que sei.
Uma fração. É o tempo em que a opinião se distorce, muda de lado, “vira a
casaca”. O que na aurora eram duas peças distintas e distantes deste grande
quebra-cabeças chamado “uni(co)verso”, já ao sol do meio-dia passam a se
modelar e a perceber que há vários encaixes em cada uma das arestas de nossas
personalidades e atitudes. Tendo, logo, algum ponto em comum, mesmo que seja um
único, pequeno e pouco visível. Peças, em momentos, que se encaixam com uma
invejável maestria.
Somos diferentes, sim, pois somos homem e mulher. Somos sonhos e virtudes
divergentes. Somos pontos errantes. E o que eu achava que era a íntegra
distorção dos fatos, passo a assimilar como “única divergência”, sem mais nem
menos. Descobri – não só descobri como, também, pude ver – Que você viaja e eu
também.
Você conhece novos lugares, respira novos ares. Pisa na terra árida, toma para
si o mar, a cachoeira. Desbrava os asfaltos, as planícies, os planaltos. Sente
sensações novas, vê o verde da grama, das florestas. Faz com que se incorporem
os deuses antigos dentro de si. Usa a fita no braço e deixa as mexas de ondas
de cabelos castanhos dançarem com o vento, assim como a abelha dança, em seu
ritual de carinho e destino. Dias e noites. Crepúsculos e alvoradas. Céu
turquesa – com algodão branco – ou marinho, salpicado de pequenos e infinitos
pontos brancos, formando desenhos no céu.
E eu te digo. Também sou assim, apesar de não aparentar. Também visito mares e
terras distantes. Também sou capaz de sentir o cheiro do mar, da natureza.
Fecho os olhos e sinto o mesmo vento que você, mesmo que não no mesmo lugar.
Sento na pedra e assisto ao pôr-do-sol, transformando o céu em um fenômeno
ímpar. Também sei fazer sorrisos virarem aventuras inigualáveis. Mesmo que, em
meus olhos “racionais”, o que vejo acabam por ser tinta de caneta, papel, luz
acesa, cortinas fechadas e plantas sobre uma escrivaninha de vidro. Tudo esperando a hora de repousar e fazer com que eu descanse.
Olho para o meu mundo e vejo palavras, em preto e branco. Você olha para o seu
e vê ações, em todas as cores que o mundo pode fazê-la enxergar. Talvez não
sejamos tão diferentes. Talvez sejamos lados opostos de um mesmo significado,
sendo o meu abstrato e o seu concreto. Sendo tudo real. E, quando vejo que
minha vida não passa da ânsia de ser uma cópia do seu espírito, percebo que já
sou uma pequena parte dele. Zombas de mim e diz que o viver é passageiro e que a
vida não foi feita para outra finalidade que não seja ser vivida e aproveitada
ininterruptamente, de todos os lados e formas. Não, repito, não somos tão
diferentes assim. Somos o casal, uma moeda.
Como sabemos, toda moeda tem duas faces. Nestas, as faces são a “eu” e a
“você”.
Pense o que você quiser. (Y)
segunda-feira, setembro 10
Diferenças.
Marcadores: Olhos fechados, Quase-paradoxos
Postado por Dongo às 18:15 0 comentários
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