Mais uma vez, aquela mesma velha e companheira melodia soa calma em meus ouvidos. E, novamente, encontro-me parado, mirando o horizonte vazio de meus pensamentos e sensações. Cada dia mais vazio, mais fraco, mais confuso e indeciso. Nada adianta. Nada. Por mais que eu tente fazer qualquer coisa que me acalme e me faça submergir de vez desse pesadelo vivo, um abraço apertado da dor a faz se fundir a mim como se fossemos um só. Uma só pele, um só corpo. Alma? Não há. Esta está desaparecida, vagando em busca da cura, de qualquer objetivo.
" - Você é louco! É mesmo um monstro!"
E as palavras ecoam em minha mente como se fossem ditas pela primeira vez. O que me faz acreditar que eu seja mesmo um monstro. Não sou um monstro por que sou mal caráter ou porque pratiquei o mal. Muito pelo contrário. Minha penitência é pelo simples fato de eu ter tentado ser o melhor desde os dias em que pude ter a certeza de que seria responsável pelos meus atos. Não fui o melhor, porque sou um monstro.Não sou um monstro porque acham que eu sou. Muito pelo contrário. Há em mim uma beleza tão bonita como um jardim florido e colorido por vagalumes dançantes. Meu jardim agora morre, porque sou um monstro. Não sou um monstro porque não tenho mais alma. Já tive um dia. Já pude conhecer de perto o amor. O amor morreu, a alma também. Isso porque sou um monstro.
Sim, eu sou. Um monstro. Porque eu vivo num lugar que não pertenço. Sinceramente, eu não pertenço mesmo a esse mundo de ilusões, mentiras e fuga. E, até poucos dias, não me conformava com uma série de coisas. Talvez eu só quisesse apenas ser amado mais uma única vez. Receber um último abraço, um último beijo. Poder caminhar de mãos dadas num lugar só meu, que queria compartilhar uma única vez. Somente para dizer que era a última, somente para dizer que acabou. Sinto que seria a paz tão sonhada que almejo durante meses e meses. A paz que só posso encontrar em meu lar, onde não me sinta diferente de todas as outras pessoas.
As palavras têm poderes magníficos, entretanto. O peso de algumas páginas de um livro há muito tempo escondido em meus guardados pessoais, me fez, novamente, entrar em contato com tudo o que há de puro e bom. Em certa hora eu não pude conter. Derramei mais lágrimas do que havia derramado durante toda minha vida. Dois dias. Chorando, somente. Sem conseguir comer, beber, dormir. Chorar, somente.
Mas o choro foi a bênção mais forte que pude receber. Após secar minhas lágrimas, um estranho abraço recebi. Estranho e novo. Pois era vivo, através de uma mulher que passava na rua e via meu sofrimento maltrapilho. Pois era sobrenatural, como os braços de Deus, acolhendo-me e me fazendo despedir da dor que eu aprendi a amar.
Entendi que o amor verdadeiro é aquele que não força. É aquele que não sugere, não escolhe, não obriga. Simplesmente ama e respeita. Entendi que o amor existe, mas é muito difícil de se alcançar. Então, perguntei-me se o que sinto ainda é realmente amor. Talvez não seja. Mas talvez seja, sim. A dor se foi e deixou uma curiosa questão. Mas esta eu não me apego. Prefiro olhar somente para as lições que meu sofrimeito deixou de herança. Se o silêncio for o espaço necessário, praticarei. Se a mentira for o espaço necessário, praticarei. Se ser alguem que eu não sou, alguém como os que vivem nesse mundo, for o espaço necessário, praticarei. Não posso mais interferir nos caminhos, apenas posso abrir as portas. E elas estão abertas, ainda. Estão abertas enquanto eu acreditar que o sentimento é verdadeiro, mesmo que não mais visível.
Se tiver que ser pra ser amor, eu continuarei a amar. Agora, quem sabe, da maneira correta. Amor com livre arbítrio. Até porque, acredito que até eu mesmo precise de espaço, para me adaptar, ou tentar, a esse mundo que não pertence a mim, mas que eu tenho que chamar de lar e aprender a viver.
"Se você dizer adeus a quem se ama e afastar-se quilômetros e quilômetros de distância, ao mesmo tempo a carregará em seu coração e mente, pois você não vive apenas no mundo, mas o mundo vive em você"
Pense o que você quiser. (Y)
quinta-feira, dezembro 2
Fogo que arde sem se ver.
Marcadores: "Nova-mente", G.B., Olhos fechados
Postado por Dongo às 02:53
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