Tantas e tantas foram as frases batidas, passadas e amareladas pelo tempo. Todas sempre dispostas nos mesmos lugares, palavras atrás de palavras, soltas e presas sobre uma folha de papel qualquer, amarrada por um ponto continuativo e um parágrafo. Reticências. A cada fim de história, de capítulo, de passagem, o pensamento no que quiser pensar fica e finda idéia de prosperidade. Há tantos clichês que já não sou todos que servem. Contudo, lembro-me muito bem de todos eles. Todos criados como um filho ou adotados como um abandonado, órfãos de seus poetas mortos, sendo assassinados ou de próprios suicídios cometidos.
Repito e repito todos, vez à vez. São estes pequenos detalhes que somente olhos como os meus podem perceber. Olhos que nunca vi, que nunca encontrei. Até então.
O tempo pode esperar, mas o relógio gira seus ponteiros mesmo assim. Parece tanto que foi em outra vida, em outra encarnação e um furo no espaço e tempo aconteceu, mas minha memória foi mantida intacta. Cada detalhe, cada gesto, cada sorriso ou lágrima. Cada cura, cada perdão, cada peça, cada chave. Cada palavra, posta uma atrás da outra como sempre pus. Como é para ser, sempre. Como era pra ter sido. Reticências. Como um filme passando rapidamente dentro da mente, em sentido inverso, vejo cada copo quebrado voltar para a mão, cada história contada voltar para a boca. Vejo o peito se preenchendo, vivendo, nascendo após dar a luz a algo tão belo! Somente até olhar mais profundamente a imensidão do mar dos olhos.
É reparar sentimentos sublimes após fitar fixamente aqueles olhos imensamente azuis, tanto em borda quanto em íris, por mais que os azuis do centro sejam só o reflexo da água do mar. É querer tanto e tanto, mais e mais, dizer essas e aquelas palavras ditas e escritas, reescritas e editadas, reeditadas e revividas, por poetas mortos e vivos. Por mim, poeta, claramente apaixonado por cada frase, cada palavra, cada letra. Apaixonado na outra vida e nessa, dia e noite, sempre e sempre, incansável e até alucinante, às vezes. Tão clichê quanto aquela mesma música, como naquela mesma posição na cadeira, como aquelas mesmas mãos postas sobre a mesma cabeça, como aquelas batidas ritmadas e aceleradas do coração. Como sempre fui, na outra vida, em outro momento. Reticências. Deixei pra lá os detalhes quando encarei seus olhos meus.
Feito de pedra bruta e mato alto, floresta intocada pelo homem, fundo do mar. Primitivo ideológico que se chama dádiva, que se chama amor. Algo que não existe, como diz palavras e textos repetitivos, como disse inúmeras vezes em minhas entrelinhas. Existe sim, eu, personificado, pedinte, querendo, nada mais nada menos do que a outra metade. Onde estará? Onde uma jangada pode navegar por esse azul, com uma vara de pesca, imaginando que nessa imensidão de olhar, eu possa fisgar o peixe da sorte, usando como isca o meu próprio coração.
Ponto final, ou continuativo, não sei dizer. Se uma pessoa é mesmo feita de detalhes, vamos ver se quem muito tem pequenas peças, se consegue perceber a importância de cada palavra e cada gesto, cada frase, dita aqui e agora. Dita há tantos tempos atrás, em outra vida, outra encarnação. Dita e escondida para ser descoberta.
Pense o que você quiser. (Y)
segunda-feira, dezembro 5
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