O sol brilha sobre a cidade vazia.
Há carros congestionando a estrada, prédios em obra, pessoas caminhando em todas as direções e o vento sopra ao meu favor. Ao certo, não sei se ele sopra mesmo para me beneficiar, mas eu caminho na direção que ele sugere. Não poderemos acertar em todas as decisões que tomamos sobre nossas vidas, durante todo o tempo em que vivermos. Quando a morte nos acariciar, o que sobrarão serão as lembranças e o legado. Exemplos de decisões tomadas hoje, agora, enquanto se caminha em uma cidade em movimento, iluminada pelo sol e abençoada com um vento reconfortante. E, apesar de poder observar um grande punhado de pessoas, a cidade permanece vazia. São figurantes da minha própria história, onde ninguém pode mudar o destino. Nem mesmo o vento.
Contudo, hoje sinto que ele quer me levar para um novo caminho, um novo desafio. A palavra, antes férrea e inflexível, agora afrouxa e perde o som. Uma pontada de pena e orgulho ainda toca o peito, mas é preciso seguir caminhando. Já saí de casa outras vezes antes e, mesmo sabendo que nenhuma das outras oportunidades dera certo, os meus instintos – e este tal vento – me empurram para o precipício, naquela esperança tola de um dia conseguir acertar o caminho. Um aluno disciplinado, treinado para ser homem, para ser referência, mas que a própria professora ainda possui dificuldades de aceitar o potencial do jovem aluno, de cabeça feita, adulto, forte. Então eu me levanto desta mesa e deixo esta classe. Não tenho mais nada para aprender, a não ser que eu suba mais um degrau desta escada.
Hoje penso diferente. Já deixei esta casa, cuja saudade é menor a cada dia que passa, de diversas maneiras diferentes. E as portas também já se fecharam para mim quando precisei de abrigo. Ficamos quites quando minha melhor escola me deixou sem aprendizado, antes de perceber que eu aprenderia muito pouco além do que já sei. Não quero ser soberbo. Quero crescer, evoluir e me conhecer. Quero subir, quero ganhar, quero aprender tendo uma visão diferente das coisas. E o vento me chama, me empurra para outro caminho. Uma casa diferente, com pessoas diferentes, onde posso aprender mais, ser mais e até querer mais, quem sabe. Se me for permitido e eu tiver a chance, eu não terei medo de tentar. Há muito abandonei este sentimento de reclusão. Hoje sou franzino de corpo, mas impenetrável como interior, como caráter.
No fundo, não quero ir. Mas pra continuar assim, também não quero ficar. O que me resta é sair pela porta da frente, na esperança de voltar em um patamar acima. Ou ser feliz no lugar para onde estou caminhando. Pois hoje o vento é meu amigo e o sol me aquece.
Observando com seus olhos de fogo, carinhosamente, as ações da personagem principal da minha história.
Pense o que você quiser. (Y)