domingo, julho 15

Meia-noite

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Passou-se tanto tempo que eu não imaginava mais que você pudesse estar aqui, comigo, novamente. Agora, com sua volta em meus olhares, em meus ouvidos, sinto toda a nostalgia que o passado em conjunto já nos proporcionou. Sinto as vibrações, ouço os uivos de uma sinfonia íntima entre uma alma e sua "canção-gêmea". Somos, então, envoltos por claves, pentagramas e semínimas. As pregas vocais, os pulmões sendo preenchidos de oxigênio, os olhos se revirando, preparando o corpo de todas as formas para gritar, em uníssono com a melodia interna, a canção e a serenata dos mortos. Eu sei.
Pois não há lembrança melhor, não há passado mais glorioso e marcante, não existe uma vida tão intensa quanto esta, com esta trilha sonora. Não há. E repito sempre que as sensações sentidas ao submergir neste mundo confuso e imprevisível são singulares, ímpares. Um par de um. A alma pedinte e sua canção confortadora. Onde, juntas, todas as palavras são ditas de maneira espontânea, todas as pausas são um instante de fôlego, não uma aresta necessária para o raciocínio. Todos haverão de saber.
Traga a mulher, o casal e toda a inspiração de um punhado de milhares de grãos de areia. Assim eu aprendi. Coisas desconexas fazem sempre todo o sentido. O que as partituras dizem são os recados realmente importantes. Um piano, um contrabaixo. Eis aqui mais um começo. Sustenidos e bemóis, paradoxos. As ordens variam de acordo com a escala. O recado é alterado de acordo com a ordem das palavras. Trocando-as de lugar, podemos perceber uma perspectiva nova, mas não harmônica o suficiente para preencher. Reconstituir? O que? Tome nota disto.
Saudade e arrependimento. Hoje eu compreendo porque tive dias difíceis. Não sabia que você bastasse para salvar a minha vida sofrida e difícil e que eu poderia te carregar compactada, dentro de um aparelho, dentro do meu bolso. E quando eu digo que amor e devoção podem, sim, ser paralelas, eu lembro de tudo aquilo que me ensinou e me ajudou a compreender durante esta minha longa caminhada. Suavizou todos os apertos do meu peito, ajudou-me a me libertar destra prisão mental, compartilhou comigo a sua brilhante lua cheia da meia noite e, nos tempos de hoje, sou grato por tê-la sentido sem ao menos vê-la.
Aprendi, acima de tudo, que enxergar com os sentimentos é uma excelente forma de progredir como ser humano. Ajudar, dar carinho, evoluir. Conhece-me ao ponto de tocar a nota que mais me fere e me conforta, simultâneamente. E para aqueles que ainda não puderam te ver agir e mudar uma história, uma vida, inteira, apresento-te ao meu mundo exterior. Um pedaço de mim, uma parte da minha história. Um conjunto ritmado sem ser composto por mim, mas que adotei e também chamo de "minha".



Pense o que você quiser. (Y)

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