Sentado. Olhando. Sozinho. Vazio.
Palavras que não se encaixam em uma frase com conjunto harmônico. Não são notas musicais, tão pouco formam uma sequência simétrica. Vejo, hoje, subitamente, após tantos e tandos dias sentado olhando o vazinho sozinho, o quanto a vida pode nos reciclar e o quanto eu posso estar errado sendo tão inflexível. Todos os dias, naquele banco de praça, vendo o saxofonista de cobre. Vendo gente e gente me vendo. Vendo todos os tipos de vícios. Vendo brejas e vendo fumaça. Vendo fumaça fria, dançando com pássaros e com a nossa atmosfera.
Ontem eu fracassei. Olhei minha mãe fumando aquele seu cigarrinho de após o almoço e esbravejei. Minha namorada também já foi vítima dos meus ataques de fúria, após vê-la com o mesmo cigarrinho em mãos, escondida de mim. O que nunca percebi, foi o quanto pode ser difícil largar os vícios. Quantos amigos não conseguem largar a garrafa de vodka das mãos. E quanto eu já tentei tirar todos de suas perdições, achando que sempre fui livre de todo e qualquer tipo de mal.
Jamais notei que quando fico dois dias sem pegar no caderno e escrever uma frase boa sequer, meus olhos desanimam e minha mente pesa. Simplesmente necessito, mais e mais, em ver meu caderno preenchido com todas essas bobagens que me fazem respirar e me sentir vivo. Se saio sem minha mochila nas costas, parece que o mundo fica mais pesado e meu corpo sente a ausência de um braço. Logo eu, achando que é fácil abandonar tudo aquilo que faz mal e que o mal é apenas o que a sociedade impõe.
Hoje eu percebo. Escrever é meu vício e me aventurar pelas ruas sinuosas e obscuras do centro e dos ônibus são minhas necessidades. Quando me sinto preso me sinto mal e me sinto como se fosse inútil. Todos precisam de seus momentos de total relaxamento. Agora eu entendo. Faço mal a mim mesmo em toda essa loucura de escrever textos extremamente românticos.
Pois o amor é ruim.
Ainda não aprovo todas as coisas. Minha mente impenetrável ainda não conseguem aceitar certas idéias. Contudo, agora eu vejo o quanto é horrivel viver sob pressão. Sem fazer o que se quer, quando se quer, quando se pode. Quando não se deve, inclusive.
Sentado, olhando a fumaça subindo e dançando, eu percebi que me sinto vazio sem minha caneta, sem meu papel. Que não consigo ser eu mesmo quando não escrevo, quando não penso, quando não imagino. Não quero largar, não quero deixar de usar essa droga tão boa e que me acalma, me acolhe.
Agora eu entendo. Não perfeitamente, mas entendo. Precisamos de uma fuga. Precisamos de um pouco de paz, fazendo qualquer coisa que se quiser. Como pensar.
"Nota: Este texto faz, hoje, um ano de existência. Por ironia do destino, encontrei-o em meus arquivos num momento em que realmente lhe caiu bem. Quando escrevi o original (este eu mudei um pouco o primeiro parágrafo), pensei em publicá-lo somente quando estivesse completamente convencido de que meu vício realmente era a escrita. Não estou fazendo apologia a nada. Quero somente que as pessoas façam de suas vidas o que acharem melhor. Eu melhorei. Agora eu aprendi a aceitar melhor as coisas. Espero. Obrigado, mais uma vez, a todos os leitores do imaginadongo."
Pense o que você quiser. (Y)
sexta-feira, junho 24
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