A hora de dormir é quase a mesma que a de acordar. Um turbilhão de responsabilidade e seu inverso me tira para dançar. A sinfonia dos loucos sãos, dos que caminham de perna manca pois não conseguem se manter em pé. Minhas pernas são firmes. Meus olhos estão atentos. Uma ordem repassada que atravessa as minhas logo perdem o valor. Eu estou no controle. Minhas pernas ainda estão eretas, firmes. Meu corpo dói a todo instante. Há muito não sei o que é poder sonhar. Nem sonhos bons, tão pouco aqueles pesadelos maravilhosos. Meus olhos não se fecham por mais tempo do que um piscar. Minha vida está fadada ao progresso. Doloroso caminho à se percorrer, chamado progresso.
Estou preso, como o vento está preso ao ar. Preso em uma liberdade que assusta, de tão grandiosa e valorosa que é. Apesar de não poder fechar os olhos e repousar, sinto cada dia de fúria dentro de mim, de todas as maneiras. Assim como eu. Pois sinto tudo de todas as maneiras, vivo tudo de todos os lados, sou a mesma coisa de todos os modos possiveis ao mesmo tempo. Realizo em mim toda a humanidade de todos os momentos. De todos os dias e noites em claro, de cada partícula de cada segundo de cada fração. Num só momento difuso, profuso, completo e longíquo.
Vejo a rua deserta. Sinto o frio do vento das trevas. A noite me acolhe, solitário. Espero, cercado de pessoas, a hora de repousar em minha cama. Espero e vejo a fumaça subindo. O cigarro aceso na mão do estranho me faz ver e sentir a vibração do frio do vento das trevas. Serei um oceano em meu quarto, quando repousar. Serei um furacão. Não sei o que escrevo, não sei mais pensar.
Tudo o que eu quero é que não me esqueçam. Estou de pé, firme, esperando o meu progresso e o meu regresso ao lar, para minha cama. Posso fazer chover, fazer a neve cair. Basta eu continuar a caminhar. Basta eu esperar mais um pouco. O inferno queima todo o meu corpo lentamente. Estou livre dentro de um incêndio de tortura e sacrifício. E quando eu chego ao ápice, pergunto a Deus porque ele me escolheu para isso. Porque eu resolvi percorrer esse caminho tão cheio de pedras, tão cheio de cacos de vidro e de espinhos. Quero sangrar, quero ingressar na selva. Quero sobreviver.
Quando penso em tudo de ruim que fiz, o quanto eu pude ser monstruoso, recordo-me que apenas quis me defender. Defender meus próprios interesses. Na verdade, nunca pensei em ninguém antes de pensar em mim. Essa é a verdade e eu assumo-a. Quando me questiono, logo, se tudo que sofro, se minhas olheiras, é por castigo divino, recordo-me, contudo, de tudo de bom que já fiz e de todas as pessoas que ajudei, ensinei e doutrinei.
Este não é um castigo, mas sim uma provação. Enquanto não posso dormir, resisto, de pé. Minhas pernas ainda estão firmes e eu estou vencendo. Sim, eu vou vencer.
Pense o que você quiser. (Y)
domingo, junho 12
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