quinta-feira, março 29

Dizendo aquilo que não se diz.

Foi então que eu decidi ser feliz.
A cada dia que passa em nossas vidas, aprendemos a aprender mais e mais com esse jogo perigoso, dramático, demorado e imprevisível. Ao longo da maioria do tempo de nosso dia, um após o outro, estamos pensando e tentando projetar o que vamos falar, o que vamos fazer e como faremos isso. Quando algo sai errado, é difícil não sentir aquela agonia insistente dentro do nosso peito que nos faz fraquejar, chorar e nos sentir diminuídos perante a nossa própria existência. Forçamos até o extremo para que os “erros” possam ser reparados e para que tudo possa voltar a ser como fora em outra ocasião.
E então sofremos.
Sofremos por não querer, não aceitar, que a felicidade já não se encontra mais onde nós achamos que ela ainda está, onde nós queremos que ela ainda esteja. Vendamos nossos olhos e pensamos que não é preciso ver para amar. Ver com o coração é tão essencial como ver com os olhos do concreto, pois ninguém vive só de ilusão, de magia. Ninguém vive só de imaginação, de abstrato. E é claro que o que sentimos, quase sempre, é mais forte do que nossa integridade, do que nossos braços. Contudo, basta num momento de lucidez abrir os olhos, que a verdade chega e percebemos o quanto pequenos somos.
E sofremos mais. Sofremos por ainda achar, em algum lugar dentro de nós, que não é hora de virar a página. Mas uma folha de caderno, quando preenchida, a única coisa que podemos fazer é escrever por cima do que já está escrito. O que faremos então? Borraremos nossa própria história e ficaremos a mercê de um passado que teima em ser ainda presente. Estragaremos aquela bonita passagem de nossas vidas que já foi escrita e que acabou, borrando-a na esperança de melhorar e mudar um pouco a narrativa. Tentando fazer com que ela seja inteiramente do jeito que gostaríamos que fosse.
Foi então que decidi aceitar.
A vida não é como nós queremos que seja. Nunca.  Aceitei um dia chuvoso como se houvesse no céu o sol do solstício. Aceitei quem foi me dado de presente ao invés de perseguir insistentemente aquele amor impossível, que eu jamais conseguiria e que ainda acreditava que pudesse ter. Aceitei a opção de escolha quando ela foi me dada e aceitei o que veio quando não tive escolha. “Dancei conforme a música”, como minha sábia mãe me disse uma vez. Virei a página e percebi que ainda tinha uma página em branco linda, esperando para que fosse preenchida.
A vida nos dá muitas coisas que, ás vezes, nem achamos que são presentes, mas que são. Cabe a nós aceitá-los de bom grado ou brigar inutilmente com uma força que sempre será maior do que a gente, na esperança de dobrar o mundo e conseguir o que é improvável.
E eu decidi aceitar. De bom grado e feliz. Porque sempre há um arco-íris após uma tempestade.



Pense o que você quiser. (Y)

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