domingo, setembro 5

Túnel do tempo.

Fora um sonho tão belo! Completamente diferente dos pesadelos aterrorizantes que me atormentaram nas noites anteriores. Pareceu-me tão real o sol quente em pleno inverno, o céu limpo, infinitamente azul e enrubrescido em suas bordas por um poente do tamanho da palma de minhas mãos. Meus olhos estavam realmente abertos e o sonho não fora deitado em minha cama, como de costume.
Meu corpo, necessitado de movimento constante, tomou domínio e posse de suas próprias pernas e partiu caminhando em direção ao nada. Saiu em busca, novamente, do seu universo infinito que procura dentro de suas próprias frases soltas em um caderno onde só escreve-se vestígios românticos do que já fora um coração. Algo que é tão visível como o vento, mas tão perceptível quanto.
A ferida funda deixa a cicatriz. A verdade não dita corrói a alma. Viver sem desfrutar da vida é o mesmo que passar despercebido pela Terra. Ver aquilo que se tem apreço afastar-se de nós como uma frecha atirada do arco negro de Thomas é como ser atingido pela mesma frecha bem no centro do peito. E com o sangue derramado pela esfera da existência que guardamos dentro de nós, se vai cada elixir de alma que ainda resta, mesmo após tantos consecutivos golpes e perfurações.
Pobre alma, mente, coração partido e olhos criam esse conjunto. Pernas firmes e enfeitiçada com uma "berserk spell" rumam para o oeste. Leva consigo a pesada bagagem de desilusões, perdas e inidiferença. A armadura, pele enferrujada e remendada após tantos cortes, segue trajando-me firme. Meio pano de fino linho das florestas, e ferro das minas, corpo este é metade de nobre cavaleiro, e outra apenas mais um soldado.
Fora um sonho tão belo! Parecia imaginação, mas era real. Meus sapatos descalçados eu carrego em uma das mãos, enquanto meus pés afofam a areia recém tocada pelo mar. A realidade dói, mas é bela e intensa, mesmo assim. Viagens e mais viagens dou a cada passo à diante. O vento trás o aroma das migalhas de frases e poesias perdidas em meu caderno de antigas realidades e novas ilusões. A última frase de um livro não é, necessáriamente, o fim de uma história. O fim talvez virá, como a alvorada do amanhã, ou talvez já se fora, como o poente que não mais enrubresce as bordas do céu azul como o oceano.





Pense o que você quiser. (Y)

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