Repentinamente, tudo torna-se escuridão. Meus olhos vendados pelas trevas numa trilha de destino fazem-me tatear o corrimão cortante daquela escada em que para cada degrau que subo, mais longe fica o topo. A luz da lanterna que me guiava agora se apagou. Resta agora somente eu e meus sonhos decadentes. Tentativas frustradas de construir um futuro, participar do futuro de alguém e cumprir algumas promessas.
Promessas não são somente aquelas em que vêm antecedidas pelo "eu prometo" ou "eu juro". Fazemos promessas diárias com todos quando, simplesmente, damos nossa palavra e exigimos confiança. Quem não tem consciência disso, acaba tropeçando na própria capa de soberba e deixando um punhado de coisas para trás por não assumir responsabilidades. Ser responsável por alguém é prometer cuidados. Cuidar é prometer carinho. Assim por diante.
Houve o tempo em que eu desisti de fazer promessas. Cheguei a acreditar, inclusive, que elas são desnecessárias em nossas vidas e que sem elas viveríamos melhor. Doce engano. Sorte minha que ainda sou uma variável. O orgulho faz das pessoas uma constante. Eu já fui uma constante inflexível, como muitas pessoas que me rodeam atualmente. Como essas pessoas que sobem pela mesma escada que eu e que, a cada passo, deixa pelo chão desejos, vontades, tudo. Mesmo sangrando, não são capazes de tentar salvar aquelas coisas que realmente importam.
Penso nas pessoas que são regidas pelo orgulho severo e imponente. Pobres seres que sempre ao dormir pensam em tudo aquilo que gostaria de ter ou de recuperar, mas ainda sim não se esforçam. Preferem esperar que o prêmio venha fácil e acredita que aguentar a espera faça um sofrimento melhor do que buscar as respostas e encontrar a frustração e a derrota.
Sou um derrotado, confesso. Opto sempre por sacrificar o meu esgotado orgulho e lutar um pouco mais para segurar em minhas mãos tudo aquilo que desejo. Ora ou outra eu deixo cair algo e, quando tento recuperar, acabo deixando cair mais e mais coisas importantes. Mas porque não descer alguns degraus e tatear também o chão para, quem sabe, reencontrar minhas coisas queridas?
Prometi ser mais sensato, menos eloquente. Prometi sempre ser sincero e nunca omitir nada. Prometi amar para sempre. Prometi fazer sempre o possível para ajudar as pessoas. Prometi ser menos frio e rígido. Nenhuma dessas promessas eu disse que prometeria, no entanto. Algumas eu cumpro, outras já deixei há tempos. Por mais que não quisesse, sempre prometi algo para alguém ou para mim mesmo. Uns podem chamar de metas, outros de objetivos. No final, contudo, tudo será fruto de um mesmo denominador. Variáveis de uma mesma constante, numa tentativa frustrada de ludibriar a verdade.
Os dotados de orgulho não admitem, mas podem ser as menores e mais fracas pessoas que conheço. Promessas foram feitas para serem cumpridas e para não serem cumpridas também, pois quando deixamos de conseguir algo, tornamos-nos mais fortes e melhores. O orgulho mais nobre é ter a humildade de admitir que não foi capaz de ser quem "prometeu" ser, ou de voltar atrás de uma decisão. Nada volta a ser como antes, mas quando nos redimimos, nos comprometemos a não pecar nos mesmos pontos.
Se desculpar, se redimir ou retroceder é um passo importante na subida dessa escada sinuosa, mesmo que esse passo seja para o degrau abaixo.
Pense o que você quiser. (Y)
segunda-feira, setembro 20
Variáveis e constantes.
Marcadores: Quase-paradoxos
Postado por Dongo às 21:26
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