sexta-feira, março 11

Um quase-paradoxo clássico.

Não há pesadelo pior do que querer ficar acordado e não conseguir. Lá se vão mais algumas preciosas horas da madrugada e o sono mais uma vez vence a batalha. Hoje, porém, tenho um nó tão grande e poderoso em minha garganta, que me sufoca, deixando-me em alerta e prontidão. Mais uma vez o caderno é o meu melhor companheiro em um quarto frio e escuro, onde somente a luz projetada pela tela do computador ilumina o pedaço de papel em que escrevo com a caneta falha.
Nunca quis sofrer, tão pouco fazer alguém sofrer. Mas este é o único meio que tenho para aliviar um pouco esse peso enorme que carrego dentro de mim durante todo esse tempo. E há tanta literatura e tanto subjetivismo em minhas palavras, fazendo-as parecer até que são mesmo somente textos. Mas nenhum par de olhos consegue mais enxergar além das entrelinhas. Pois o que escrevo é superficial, justamente pensando em poupar a todos do que realmente mora dentro de mim.
Tantas e tantas vezes quis sorrir. Tantas e tantas vezes quis ser eu mesmo novamente. Mas o que eu nunca consegui fazer, foi acreditar em minhas próprias menitras. Dizer em frente ao espelho que tudo está bem. Muito tempo já passou, muita coisa já aconteceu e eu, cego, ainda não consigo diferenciar pena e compaixão de sofrimento. Porque, na verdade, eu, sozinho, não seria capaz de entender. Não sou, no presente, capaz de entender, ainda, o que passa e porquê passa.
Há muito tempo queima dentro de mim uma chama imortal, que nada pode apagar. Não tenho culpa de ser assim, previsível. Certas coisas devem permanecer sempre enterradas. Se agora a batalha é contra os sonhos, futuramente será contra o interior, que se debate e tenta tomar o controle. Sem controle, sem rumo, sem vida. Até o presente momento.
Não será amanhã, quando acordar, que meu sofrimento terá se dissipado. Não serão mais estes parágrafos que estarão aqui, amanhã. Pois a cada manhã um sorriso novo é aberto para a vida. A cada manhã as esperanças estão renovadas. A hora de agir chegará, mas não é agora. Que eu espere pela eternidade, que eu perca oportunidades, mas que eu não faça das minhas ações precipitadas. Ou que eu seja inconstante e tente de tudo um pouco. Estou cansado de abrir mão das coisas que me fazem feliz, em troca de um pouco mais de inspiração. Que eu retorne a ser quem sempre fui. Sejamos francos. A hora de agir não é agora, mas poderá ser amanhã.
Talvez, amanhã eu mostre o outro lado da minha vida. A parte, maior, externa, da vida que eu vivo.




Pense o que você quiser. (Y)

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