A sensação é a mesma de ser expulso de casa sem saber o motivo. Ser demitido do trabalho, levar o cartão vermelho do juiz, quebrar o carro em uma estrada deserta e longe de um mecânico. Mesmo tendo a consiencia livre de culpa, não há como não se culpar e se perguntar como poderia ter se evitado tamanha dor. Recapitulamos a história. Uma vez, outra e mais outra. E com mais recordações, mais detalhes chegam e mais confusos ficamos em relação ao que queremos e o que devemos fazer.
Felicidade, definitvamente, não é algo que se compra ou que nos obrigamos a ter. Ela vem sempre de onde menos esperamos, quando esperamos e, muitas das vezes, não nos damos conta até ela partir sem dar endereço, sem permitir que procuremos por ela. E mais doloroso do que perder a felicidade é vê-la partir, sem piedade, sem honra, por medo ou pelo sei lá o que. Vê-la partir, ainda não é o pior do que vê-la partir contra nossa vontade, fazendo-nos atar os braços e apenas observar o caminhar para o horizonte daquilo que nos faz desatinar ao choro pelo simples fato de não sorrir os meus melhores sorrisos.
Eu não me conformo em saber que minha felicidade se parte para me ver feliz. Felicidade não se encontra em qualquer esquina, em qualquer bar. O que encontramos são ilsórios sentimentos que, depois passado o efeito das brejas, passa a ser arrependimento, lágrimas descomunais e mais vontade de procar a felicidade verdadeira. Se despedir ou simplesmente fechar a porta sem dizer uma palavra não é um ato de heroísmo, de força, de pulso firme. Quem abre mão das coisas que ama por heroísmo, por sacrifício, acaba não preservando, mas destruindo todos os planos otimistas daquela pessoa que se tem afeto. E se o tempo passa e cura todas as feridas, assim como um arranhão cria cascas e é capaz de regenerar a pele, essas feridas demoram demasiadamente a se cicatrizar. E quando cicatriza, não é como antes fora. Deixa marca, deixa as lembranças do tombo.
Talvez um dia eu volte a sorrir se não tiver minha felicidade aqui perto de mim. Mas o que era um sorriso largo, se transformará em um sorriso de canto de boca. Posso afirmar isso. Se um dia eu voltar a ser feliz, será uma felicidade contida, de meias verdades. Os olhos que observarei não serão os mesmos, os meus olhos também não serão. Ficarão mórbidos, cegos, obscurecidos por uma sombra de uma felicidade que me fechou as portas sem saber o que estava fazendo. Que me privou de ser feliz achando que assim me faria contente. Achando que afogar-se em sofrimento duradouro me faria mais forte e resistente. Mais amado, mais importante.
Não posso remar contra a maré e nem caminhar com os pés amarrados. O maior sofrimento é ter que ver aquilo que se mais arduamente trabalhou pra se conquistar partir e não poder fazer absolutamente nada. Não poder, ao menos, dar um último abraço, um último beijo, dizer pela última vez que eu havia encontrado o verdadeiro sentido da palavra felicidade. Dizer que todos os momentos bons foram melhores do que eu poderia imaginar e que os momentos tristes foram amenos, por apesar de tudo, ter um colo onde recostar a cabeça, ter pernas para se difundir às minhas, ter um silêncio enigmático, mas estranamente confortante. Dizer que, por mais que o tempo passar e o futuro me reserve boas surpresas, nenhuma será melhor ou me trará mais conforto do que o conforto de dois braços finos, mas que conseguem sustentar toneladas de sentimentos, tais esses que nem nome existem para citá-los. Que não haverão olhos e sorrisos como aquele, que me faz esquecer de tudo e faz todos os problemas se tornarem simples.
Desejaria ver a silueta da minha felicidade crescendo pelo horizonte, trazendo duas mãos e paciência para desatar os nós das cordas que me prendem. E mesmo que eu me corte quando um facão desfiar essas amarras, eu ainda me sentiria feliz, pois pequenos sacrifícios sempre podem ser feitos em pró de um verdadeiro motivo. Prefiro que me ranquem os olhos do que ter que ser obrigado a ter que sempre imaginar em qualquer par aqueles que eu gostaria realmente de ver. Prefiro ficar mudo à dizer que amo alguém, que não fosse aquela quem eu realmente sinto algo.
Ás vezes eu me sinto um monstro. Sou um montro por que faço as pessoas sentirem medo de mim. Pois não consigo fazer quem amo feliz e nem ficar perto daqueles que amo. É isso que os monstros fazem. Afastam as pessoas, deixam-as conturbadas e intrigadas. Pareço ofuscar e responsabilizar as pessoas por parecer ser extremamente especial. Se sou especial, é porque há um motivo para me sentir assim. Se me sinto especial é porque eu estou feliz e só sou feliz quando minha felicidade está perto, se não ao alcance das minhas mãos, ao alcance do pensamento, da imaginação. Se eu me ver em apuros, à beira de um precipício e meu amor trocar sua própria felicidade pelo meu bem, se me salvar e cair num buraco obscuro e cheio de incertezas, Eu prefiro me atirar também do que ver aquele pequeno corpo sumir e perecer no vazio. Prefiro me jogar e cair de mãos dadas, de cabeça, no mar de problemas. Pois por mais cruel possa parecer a vida, saber que não estou no infinito da escuridão sozinho já é uma pequena luz que ilumina o caminho. Uma luz que só quem sente consegue ver e imaginar. E é essa luz que eu sempre vejo refletida num rosto de pele branca e rosada. Uma luz que só nós podemos ver.
Quero viver de pequenas tristezas, que são espinhos do trajeto, mas com uma alegria singular, rara, única, ímpar, completamente distinta de qualquer outra que possa aparecer no meu longo caminho pela vida. Não quero ter que caminhar com o peso de ser obrigado a viver com pequenas alegrias e uma grande tristeza, que é a de não poder ter a minha felicidade andando de braços dados comigo. Porque quando a felicidade parte, com ela está um pedaço de mim que eu dei e que não se pode devover, pois marcou como a tatuagem marca a pele. E mesmo que eu apague ou rasgue as histórias de quando eu era feliz das minhas escrituras, estas jamais sairão da minha mente. Agente pode enganar todos, mas a nós mesmos não conseguimos. Não posso me enganar ou me obrigar a querer aquilo que eu não quero. Entretanto, infelizmente eu não sou capaz de fazer além do que está ao meu alcance.
O poço fundo de águas de sofrimento eu tento esvaziar com minha xícara de chá. Mas só posso tirar água até onde os meus braços alcançarem. Será doloroso, demorado e, no final, todo esforço não vai acabar com o sofrimento. Pode diminuir, mas acabar não pode.
Se há muitas coisas que eu ainda não sei, ao menos uma certeza mesmo. Eu sei onde é, quem é e como é que eu posso ser feliz. Agora eu rezo, de olhos fechados, para que o único motivo pelo qual tem me tirado verdadeiros sorrisos do rosto, feito meus olhos brilharem, volte e me desamarre de todos esses males. Mesmo que pra isso eu precise me machucar mais um pouco. Não me importo. A dor é despresível perto do sentimento da perda, da partida. Que retorne, enxugue meu rosto e me deixe enxugar o seu. Que me deixe perdoar, deixe perdoar a mim mesmo, deixe entrelaçar os corpos. Deixe correr nas veias mais um pouco de desejo, mais um pouco daquela vontade de ficar perto, de ficar junto. Que esqueça o que passou, esqueça o que possa acontecer de ruim a frente e pense sempre somente no quanto felizes podemos ser quando estamos lado à lado. O quanto eu fico estuperfato de felicidade e o quanto gozo dela quando há um corpo cujo sentimento está além da compreensão humana. Sentimento cujo somente quem sente sabe como é. Que me faz voar com os pés no chão.
Pense o que você quiser. (Y)
quinta-feira, julho 8
Onde está minha felicidade?
Marcadores: O Antes, Olhos abertos
Postado por Dongo às 07:39
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