Horas se passaram enquanto um caderno vazio ansiava por palavras diante de mim. Ansiava por mais um surto literário, frases de efeito, de difícil entendimento. A vontade era tamanha que haviam períodos durante todas essas horas em que ele parecia falar comigo. Suplicava para que alguma coisa pudesse ser escrita em suas linhas, que alguma coisa pudesse ser compartilhada e guardada por sua capa grossa de papelão. Mas não houve nada na minha cabeça durante todas essas horas. Ou quase nada.
O que havia dentro de mim não eram "subidas íngremes", "alçar o voo da imaginação" ou "nova-mente". Não haviam as dúvidas, o resgate ao passado, o que era certo e o que era errado. Tentando transmitir para imagem, desenhei um pequeno círculo no centro da página aberta. Era tudo o que eu queria e precisava dizer. Um ponto, somente um pequenino e simétrico círculo diante de uma folha completamente vazia.
Horas se passaram enquanto eu encarava o caderno vazio, tentando encontrar dentro de mim qualquer coisa que pudesse compartilhar com meu querido amigo e acabar com sua angústia. Tudo que eu consegui foi colocar um ponto. Se qualquer pessoa observar aquele gesto, não verá mais do que aquilo que pode ver. Mas pra mim, aquele ponto significa uma infinidade de palavras que poderia ter dito.
Desenhei mais um circulo exatamente igual logo ao lado. Estava terminado o meu texto. Estava alí tudo o que eu precisava dizer. Dois pontos, um apontando para o outro, prestes a reproduzir a explosão do Big Bang. após esse choque, milhares de milhoes de palavras preencheriam não só aquela folha do caderno, mas todas as outras e todas as folhas de todos os cadernos ainda vazios que em meu quarto guardava.
Esses dois pontos eu apelidei de certezas. A certeza do que eu sou capaz de fazer e a certeza do que os outros são capazes de fazer por mim.
Pense o que você quiser. (Y)
quinta-feira, agosto 5
Dois pontos.
Marcadores: Olhos abertos
Postado por Dongo às 05:30
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário