terça-feira, dezembro 13

Sem qualquer inspiração.

Quando mais queremos nos recordar daqueles antigos e longínquos pensamentos, estes se desvanecem de nossas mentes, trovejantes. Querer lembrar não é somente necessidade, mas sim perspicácia, orgulho e até certa destreza. É o autocontrole, o triunfo sobre estes vastos labirintos interiores. Como bem se sabe, sábias são as línguas do entendimento. O tênue limite do saber e do gostar. Gostar de formas, de cores e imprimi-los num pedaço de papel, digitalizado. Fugaz são estes pensamentos meus. Travessuras correspondentes à intelectualidade de sua mente que teme em ultrapassar o que é o inimaginável.

O conflito segue com brados firmes entre a mente escassa do que raciocinar e o bojo, outrora farto de sustento, sedento ainda pelo desjejum, mesmo lá para as tantas após o crepúsculo. A fraqueza nos faz repetir as palavras, vis, sutis. E, por mais que possamos compreender exatamente, parte por parte, tudo o que passa dentro de nosso pelejo, falta-nos concentração para encerrar estas intrigas sem ferir ninguém. Contudo, o próprio corpo reage em fadiga a presunções.
O que há de querer nosso próprio querer, até então, não consigo ser capaz de replicar. A vontade ímpar de conseguir progredir na vida sem denegrir o que não está mais fazendo parte de nosso mundo físico faz de nós seres humanos. O fato é que não há como não se fazer de desentendido diante das tamanhas atrocidades de um revelador e distante passado. Apagam-se da memória como se num estalar de dedos extinguissem uma chama. Voltam à tona como se o mesmo estalar de dedos fizesse o tempo voltar e a vela – no plural, mesmo que no singular aqui – reunisse sua cera e reconstruísse seu pavio.
Eis aqui mais um grande herro da umanidade. Colocar letras – ou ‘quês’ – onde jamais deveriam tanger, como fazem com seus banjos, violas e gaitas. A melodia otimista e contente, cantada com versos simples, voa como uma pomba para o destino dessa carta, voltando, tempos depois, trazendo suas respostas e mudando o itinerário para levar a outros pontos mais e mais questões. Nunca se sentem fartos de tantas questões e tantas novas respostas. Quando encontradas, essas respostas servem somente para o júbilo, para nada mais do que essa pequena e faminta grandiosidade.
Quando, logo, parece demasiadamente conflituoso tudo aquilo aqui escrito, evapora-se, novamente, mais um grande e largo pensamento. Uma grande conclusão para todas as respostas de todas as perguntas, talvez. Pois talvez o talvez nem exista. Seja, somente, uma barata intriga de mente ou pança, fome ou fome de saber, de compreender, de resgatar. O que fora dado e perdido. O que fora roubado. O que jamais fora meu ou seu ou nosso ou vosso. O que sobra é somente isso. Palavras soltas, encorpadas, efetivas. Lindas, mas soltas, sem expressão ou um sorriso sequer. Sem ternura ou adoração. Somente palavras, estas que nunca antes quis mostrar que sabia. Que jamais quis mostrar que sabia empregá-las.
Pois não importa. Por mais que mostre mais palavras vis, sutis, estas sempre serão nada mais do que meras significância de toda a minha ilustre avareza irreal. Aqui as compartilho, por falta de palavras melhores. Por falta de pensamentos melhores.
Dar-te-ei, quem sabe um dia, mais do que estas tolas sentenças. Contudo, primeiro, preciso encerrar este conflito interior, encontrar a saída deste labirinto. Encontrar, também, um sentido e uma forma adequada para escrever aquilo que vejo, que sinto e imagino, fora dessa cerâmica vazia que se chama solidão.



Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, dezembro 5

Simples detalhes.

Tantas e tantas foram as frases batidas, passadas e amareladas pelo tempo. Todas sempre dispostas nos mesmos lugares, palavras atrás de palavras, soltas e presas sobre uma folha de papel qualquer, amarrada por um ponto continuativo e um parágrafo. Reticências. A cada fim de história, de capítulo, de passagem, o pensamento no que quiser pensar fica e finda idéia de prosperidade. Há tantos clichês que já não sou todos que servem. Contudo, lembro-me muito bem de todos eles. Todos criados como um filho ou adotados como um abandonado, órfãos de seus poetas mortos, sendo assassinados ou de próprios suicídios cometidos.
Repito e repito todos, vez à vez. São estes pequenos detalhes que somente olhos como os meus podem perceber. Olhos que nunca vi, que nunca encontrei. Até então.
O tempo pode esperar, mas o relógio gira seus ponteiros mesmo assim. Parece tanto que foi em outra vida, em outra encarnação e um furo no espaço e tempo aconteceu, mas minha memória foi mantida intacta. Cada detalhe, cada gesto, cada sorriso ou lágrima. Cada cura, cada perdão, cada peça, cada chave. Cada palavra, posta uma atrás da outra como sempre pus. Como é para ser, sempre. Como era pra ter sido. Reticências. Como um filme passando rapidamente dentro da mente, em sentido inverso, vejo cada copo quebrado voltar para a mão, cada história contada voltar para a boca. Vejo o peito se preenchendo, vivendo, nascendo após dar a luz a algo tão belo! Somente até olhar mais profundamente a imensidão do mar dos olhos.
É reparar sentimentos sublimes após fitar fixamente aqueles olhos imensamente azuis, tanto em borda quanto em íris, por mais que os azuis do centro sejam só o reflexo da água do mar. É querer tanto e tanto, mais e mais, dizer essas e aquelas palavras ditas e escritas, reescritas e editadas, reeditadas e revividas, por poetas mortos e vivos. Por mim, poeta, claramente apaixonado por cada frase, cada palavra, cada letra. Apaixonado na outra vida e nessa, dia e noite, sempre e sempre, incansável e até alucinante, às vezes. Tão clichê quanto aquela mesma música, como naquela mesma posição na cadeira, como aquelas mesmas mãos postas sobre a mesma cabeça, como aquelas batidas ritmadas e aceleradas do coração. Como sempre fui, na outra vida, em outro momento. Reticências. Deixei pra lá os detalhes quando encarei seus olhos meus.
Feito de pedra bruta e mato alto, floresta intocada pelo homem, fundo do mar. Primitivo ideológico que se chama dádiva, que se chama amor. Algo que não existe, como diz palavras e textos repetitivos, como disse inúmeras vezes em minhas entrelinhas. Existe sim, eu, personificado, pedinte, querendo, nada mais nada menos do que a outra metade. Onde estará? Onde uma jangada pode navegar por esse azul, com uma vara de pesca, imaginando que nessa imensidão de olhar, eu possa fisgar o peixe da sorte, usando como isca o meu próprio coração.
Ponto final, ou continuativo, não sei dizer. Se uma pessoa é mesmo feita de detalhes, vamos ver se quem muito tem pequenas peças, se consegue perceber a importância de cada palavra e cada gesto, cada frase, dita aqui e agora. Dita há tantos tempos atrás, em outra vida, outra encarnação. Dita e escondida para ser descoberta.



Pense o que você quiser. (Y)


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