terça-feira, julho 31

Caminhos (des)conhecidos.

O sol brilha sobre a cidade vazia.
Há carros congestionando a estrada, prédios em obra, pessoas caminhando em todas as direções e o vento sopra ao meu favor. Ao certo, não sei se ele sopra mesmo para me beneficiar, mas eu caminho na direção que ele sugere. Não poderemos acertar em todas as decisões que tomamos sobre nossas vidas, durante todo o tempo em que vivermos. Quando a morte nos acariciar, o que sobrarão serão as lembranças e o legado. Exemplos de decisões tomadas hoje, agora, enquanto se caminha em uma cidade em movimento, iluminada pelo sol e abençoada com um vento reconfortante. E, apesar de poder observar um grande punhado de pessoas, a cidade permanece vazia. São figurantes da minha própria história, onde ninguém pode mudar o destino. Nem mesmo o vento.
Contudo, hoje sinto que ele quer me levar para um novo caminho, um novo desafio. A palavra, antes férrea e inflexível, agora afrouxa e perde o som. Uma pontada de pena e orgulho ainda toca o peito, mas é preciso seguir caminhando. Já saí de casa outras vezes antes e, mesmo sabendo que nenhuma das outras oportunidades dera certo, os meus instintos – e este tal vento – me empurram para o precipício, naquela esperança tola de um dia conseguir acertar o caminho. Um aluno disciplinado, treinado para ser homem, para ser referência, mas que a própria professora ainda possui dificuldades de aceitar o potencial do jovem aluno, de cabeça feita, adulto, forte. Então eu me levanto desta mesa e deixo esta classe. Não tenho mais nada para aprender, a não ser que eu suba mais um degrau desta escada.
Hoje penso diferente. Já deixei esta casa, cuja saudade é menor a cada dia que passa, de diversas maneiras diferentes. E as portas também já se fecharam para mim quando precisei de abrigo.  Ficamos quites quando minha melhor escola me deixou sem aprendizado, antes de perceber que eu aprenderia muito pouco além do que já sei. Não quero ser soberbo. Quero crescer, evoluir e me conhecer. Quero subir, quero ganhar, quero aprender tendo uma visão diferente das coisas. E o vento me chama, me empurra para outro caminho. Uma casa diferente, com pessoas diferentes, onde posso aprender mais, ser mais e até querer mais, quem sabe. Se me for permitido e eu tiver a chance, eu não terei medo de tentar. Há muito abandonei este sentimento de reclusão. Hoje sou franzino de corpo, mas impenetrável como interior, como caráter.   
No fundo, não quero ir. Mas pra continuar assim, também não quero ficar. O que me resta é sair pela porta da frente, na esperança de voltar em um patamar acima. Ou ser feliz no lugar para onde estou caminhando. Pois hoje o vento é meu amigo e o sol me aquece.
Observando com seus olhos de fogo, carinhosamente, as ações da personagem principal da minha história.



Pense o que você quiser. (Y)

sábado, julho 21

A caixa branca.


O ambiente, outrora sereno, me tortura neste momento.
Caixas e papéis escritos, datilografados, retratam a história de tudo o que eu gostaria de ser. Vejo reflexos dos meus antepassados, verdadeiros ídolos e heróis, e anseio por uma oportunidade de ser somente uma partícula, uma mísera molécula, de tudo que foram para mim e para o mundo. Estou preso, entretanto. Preso num avesso de imensidão branca, pura e, teoricamente, livre. Um ambiente que sempre me trouxe calma e reflexão, o infinito, agora me prende, me acorrenta.
Ninguém deveria ter medo de tentar algo novo. A filósofa de bar, que vive em meus tempos, apesar de ter uma mente munida com séculos de experiência, assegurou-me que as pessoas não deveriam ter medo de mudar, pois mudar é evoluir e evoluir é se conhecer. A inconstância faz de nós o que somos: Seres humanos passivos de erros e imperfeições. Mudar, mais do que simplesmente se conhecer, pra mim, é se libertar e redescobrir o sentido que, em certas estradas na nossa jornada da vida, deixamos para trás.
Uma pausa forçada e um retorno para a triste realidade. A caixa é pequena, desconfortável. Não cabe a quantidade de ideias que tenho dentro de mim. Meu corpo está em ebulição. E se cortam as minhas mãos para que eu não possa escrever, se costuram minha boca para me calar, se me põem venha nos olhos, ainda assim penso. Penso, logo, existo e existo logo. Penso, formando um tudo, usando vinte e seis letras e uma infinidade de pontuações, acentuações e aspas. Reedito, entre aspas, retratos do passado que parecem que foram feitos para mim. Uma mescla de muitos genes, formando uma estrutura literária sólida e para a vida toda.
Peço, encarecidamente, que deixem o garoto brincar. Deixem o menino desenhar suas letras, suas prosas. Permitam com que ele mostre o seu retrato, que deixe sua marca. Façam com que ele saia desta caixa apertada, tortuosa, viva e conheça o seu próprio exterior. Deixem que ele mude, cresça, evolua. Que se embriague de saber e se fortaleça de sonhos e metas.
A dele – a minha – é singela.
Simplesmente sair desta caixa.



Pense o que você quiser. (Y)

domingo, julho 15

Meia-noite

(Sugestão de áudio - CLIQUE AQUI)

Passou-se tanto tempo que eu não imaginava mais que você pudesse estar aqui, comigo, novamente. Agora, com sua volta em meus olhares, em meus ouvidos, sinto toda a nostalgia que o passado em conjunto já nos proporcionou. Sinto as vibrações, ouço os uivos de uma sinfonia íntima entre uma alma e sua "canção-gêmea". Somos, então, envoltos por claves, pentagramas e semínimas. As pregas vocais, os pulmões sendo preenchidos de oxigênio, os olhos se revirando, preparando o corpo de todas as formas para gritar, em uníssono com a melodia interna, a canção e a serenata dos mortos. Eu sei.
Pois não há lembrança melhor, não há passado mais glorioso e marcante, não existe uma vida tão intensa quanto esta, com esta trilha sonora. Não há. E repito sempre que as sensações sentidas ao submergir neste mundo confuso e imprevisível são singulares, ímpares. Um par de um. A alma pedinte e sua canção confortadora. Onde, juntas, todas as palavras são ditas de maneira espontânea, todas as pausas são um instante de fôlego, não uma aresta necessária para o raciocínio. Todos haverão de saber.
Traga a mulher, o casal e toda a inspiração de um punhado de milhares de grãos de areia. Assim eu aprendi. Coisas desconexas fazem sempre todo o sentido. O que as partituras dizem são os recados realmente importantes. Um piano, um contrabaixo. Eis aqui mais um começo. Sustenidos e bemóis, paradoxos. As ordens variam de acordo com a escala. O recado é alterado de acordo com a ordem das palavras. Trocando-as de lugar, podemos perceber uma perspectiva nova, mas não harmônica o suficiente para preencher. Reconstituir? O que? Tome nota disto.
Saudade e arrependimento. Hoje eu compreendo porque tive dias difíceis. Não sabia que você bastasse para salvar a minha vida sofrida e difícil e que eu poderia te carregar compactada, dentro de um aparelho, dentro do meu bolso. E quando eu digo que amor e devoção podem, sim, ser paralelas, eu lembro de tudo aquilo que me ensinou e me ajudou a compreender durante esta minha longa caminhada. Suavizou todos os apertos do meu peito, ajudou-me a me libertar destra prisão mental, compartilhou comigo a sua brilhante lua cheia da meia noite e, nos tempos de hoje, sou grato por tê-la sentido sem ao menos vê-la.
Aprendi, acima de tudo, que enxergar com os sentimentos é uma excelente forma de progredir como ser humano. Ajudar, dar carinho, evoluir. Conhece-me ao ponto de tocar a nota que mais me fere e me conforta, simultâneamente. E para aqueles que ainda não puderam te ver agir e mudar uma história, uma vida, inteira, apresento-te ao meu mundo exterior. Um pedaço de mim, uma parte da minha história. Um conjunto ritmado sem ser composto por mim, mas que adotei e também chamo de "minha".



Pense o que você quiser. (Y)

quarta-feira, julho 11

Ponte para o amanhã.

Fecham-se os olhos, em busca de inspiração. A janela aberta para a escuridão trás os ventos de nostalgia e saudade. Um aperto, leve e contínuo, contrai ainda mais o peito, recordando o como era bom olhar, outrora, a visão da alvorada por entre aquelas grades. As folhas, antes verdes e cheias de vida, agora estão secas e cansadas. O pó não fora limpo da mesa, os pratos não foram limpos – tampouco as roupas. Os óculos já não servem mais. A alma é que está cega, não são os olhos. Os olhos estão fechados, somente.
As paredes se estreitam diante de mim. O branco do infinito já mostra o meu reflexo cansado de tanta repetição e mesmice. O corpo delgado se encolhe ainda mais, com a finalidade de se enquadrar com harmonia no ambiente. Corte e profusão. As agulhas imaginárias que perfuram o boneco de pano são as mesmas que figuram em minhas paredes em degradação. A sopa esfriou e o hashi não me serve. O estômago reclama a coluna inclinada e a cabeça baixa diz respostas que a mente oculta. Grito alto.
A felicidade é mesmo cruel ao ponto de permitir que nós degustemos dela para, depois, deixar um gosto amargo em nossa língua? Boca esta que provou o beijo e agora amarga uma bêbada derrota. Há tempos em que o amanhã será o último dia. Esperávamos que este amanhã nunca chegasse. Dia após dia, semana, mês. Quando os singulares tornam-se um plural inflexível, o dia chega e o dia que seria o fim, o amanhã, passa a ser hoje.
Minha felicidade comprou uma passagem somente de ida para o outro lado do universo. E eu, ajoelhado e com a cabeça encostada no piso frio, estou de mãos atadas e nada posso fazer. O relógio toca a sinfonia triste e o telefone anuncia mais uma ligação. Não posso atender, não posso fazer nada. O meu lugar é aqui. Minha solidão é o meu presídio e a minha residência é o meu porto seguro. Inseguro, mas mesmo assim relaxado. Reservo minhas reservas de energia para o dia em que se sucederá, onde não haverá mais fim. O que há após o fim?
Anseio descobrir. Anseio me redescobrir. Quero saber o que quero saber. Se seguir em frente é mesmo dar de encontro com uma rua sem saída e ter que retornar é admitir a derrota, prefiro, então, voltar a ser um embrião. Se a vida é um ciclo, após o fim haveria de existir outro início. Entretanto, ainda não acabou. Ainda vivo, ainda estou de pé, mesmo que com o corpo nu e suado no chão. Mesmo que a brisa carregada de saudade e nostalgia me envolva e me conforte, ainda estou aqui e a minha garganta seca não resiste, sussurrando:
“Este aqui é o meu lugar”


Pense o que você quiser. (Y)

sábado, julho 7

Céu e mar.

A baia cinza é pequena e apertada. Copos sujos, espalhados, vazios. A breja secou e não curou, não soldou. teclas apertadas em velocidade fazem com que eu sinta inveja e vontade de imitá-las. O ambiente é estranho em demasia para meus pensamentos mais profundos e secretos. Contudo, quando os olhos se fecham, a mente pesa e o coração acelera, ansiando ser esvaziado, não há outra alternativa. É necessário, preciso, encontrar o conforto que não consigo em lugar algum. Não há conforto em dois braços gentis, não há conforto no deserto, em "nova-mente". Não há paz em qualquer lugar que não seja o meu próprio universo refletido.
Meu espelho é de papel e meu reflexo é tinta preta. Cada sentimento se traduz em letras, sílabas, palavras e sentidos. Outrora desejei, do fundo de minh'alma, ser e parecer uma pessoa normal. Nascer, existir, procriar e deixar um legado. Mas vejo cores quando deveria ver rostos, vejo luz onde deveria haver uma lâmpada apagada. Vejo uma praia confortável em um dia de chuva e uma prisão aconchegante quando a janela do meu quarto, diante de um dia ensolarado, deveria ser a passagem para a liberdade.
Mas o ser humano é pobre, descontente. Não se contenta com a felicidade que possui e não consegue conviver com a ausência que ela trás. Vive procurando o amor mas não se esforça em descobrir o que ele é, em sua mais pura e bela essência. Diz "não" quando deveria dizer "sim" e diz "sim" quando não deveria dizer nada, apenas esticar os dedos e tocar. Troca orgulho por lágrimas de dois pares de olhos que se encaram, apaixonados, mas cismam em não admitir. Abrem o coração mas fecham-se de mente, fadando uma inteligência e raciocínio desprezível.
A noite chega e não trás o sono, há muito desejado. O sonho é acordado, de olhos abertos. Sonho olhando vago para a parede manchada de loucura, imaginando meus olhos fechados e curtindo o êxtase de sonhar como jamais imaginei que aconteceria. Diferente, melhor, mais maduro e, incrivelmente, mais real. À deriva no meu bote, sozinho numa imensidão de oceano e céu azul. Um infinito da cor que se personifica em uma figura feminina, sem rosto, sem cabelo, sem pele. Transparente, como o punhado de água salgada que pego para tirar o suor de um rosto queimado. Não há limites para as mudanças, por mais sutis que elas mostram-se.
Voltar a sonhar é maravilhoso. Mesmo assim, sonhar é se propor a ter pesadelos. Hoje, após sonhar em claro, fechando os olhos abertos, eu sei que mostro o meu avesso. A intimidade mais inocente do meu peito. A intimidade que no passado era a de que não era preciso ver, somente sentir e imaginar. Que passou, depois, para ser tão preciso ver como sentir e imaginar. Agora, ver é preciso, sim. Entretanto, os olhos são cegos para muitas coisas. Agora vejo, sinto e imagino. Com um coração negro, sendo preenchido com tinta de céu e mar. Tinta azul.
Esta que, na verdade, não se vê com os olhos. 


Pense o que você quiser. (Y)


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