quarta-feira, janeiro 25

Sinopse de você.


Na sinopse de nossos filmes, descobri você.
Em mim, mais do que descobrir você, também,
descobri um suspense de vertentes e lacunas inexploradas.
Pois, diante de palavras soltas, sou drama e melancolia.
Sou espaço vazio e continuação. Se fosse livro, seria crônica.
Semearia o pesado fardo de viver e amar e viver sem amor
Pois longe de sua presença, sou nada mais sou.
Em mim descobri sua presença e percebi
que neste presente momento sou comédia, sou ironia.
sou sorriso largo, piadas e brincadeiras. Sou romantismo.
Há quem diga que não há fim o nosso roteiro. Desejo mesmo que não.
Pois o início já é de tirar o fôlego e prender a respiração.
Seremos ilícitos, se permitir. Seremos carne, maiores de dezoito anos.
Seremos poesia em tom de prosa, poesia em tom de longa metragem.
Pois muitas de nossas sinopses saíram de dezenas de páginas
que juntos escrevemos.
Quero que sejamos, enfim, no mínimo, felizes para sempre
para que possam subir as letras com os nomes dos atores
e para que eu possa dizer minhas palavras finais.
Considerações finais.
Fim.

sexta-feira, janeiro 20

Amor e nada mais.

Talvez pudesse mesmo deixar para dizer e escrever amanhã tudo aquilo que me aconteceu hoje. O amanhã é o oposto do oposto, a face da face. A essência e o saber. Ontem não me foi dado de bom grado fardo este que desempenho hoje, o de descobrir que o amanhã não poderia ser diferente do que pudera ser no amanhã de ontem. Se ontem o amor fora mesmo aquela dádiva divina, o amanhã servirá somente para que me faça provar do novo, de novo, deste tempero fabuloso e, ao mesmo tempo, veneno mortal.
Hoje não sinto mais o cheiro dos cabelos que ontem senti. Da mesma forma em que não escrevo as mesmas cartas, ouço as mesmas músicas. O amanhã virá e mudará meu caminho. Fará com que eu retorne para o mesmo caminho que viajei ontem e antes do antes do ontem, quando o amanhã, que hoje é o hoje, era apenas algo que julgava jamais acontecer: Ter eu um coração partido, remendado e remendado como novo, de novo.
Será que amar é ter a mesma graça do outrora? Ser soneto, ser sinfonia?
Perceber que o todo é um quebra-cabeça de tão grande complexidade é o mesmo que perceber que os olhos mudam com os olhares, que as bocas mudam a fala com expressões. Que inodoros e insípidos serão se, como água, estes sentimentos também forem incolores. Amante de cores que sou, deixei de lado essa grande discussão e voltei a dizer que a minha Azul existe para confortar meu coração e meu nariz de palhaço. Existe em cada momento em que o hoje me faz lembrar a felicidade do ontem, que me faz lembrar a felicidade de que era pensar no amanhã. Este, ainda desconhecido para mim, passa a ser somente mais uma silueta estranha nas entranhas das minhas próprias páginas e histórias, onde o dito amanhã que nunca morre se extinguirá, deixando para que os olhos duros e cheios de tanto vazio permitam-se avistar o que e o qual grandioso era o seu dia anterior, do crepúsculo à alvorada.
Àquela, não esta que vaga pelos bares e sambas da vida, mas àquela que um dia pude dizer tudo o que eu direi amanhã para outra aquela que, no presente momento será ”esta”, eu deixo as cartas do ontem que eu voltarei a ler amanhã e guardar. Amor, hoje, pra mim, deixou de ser amor para se tornar verdade. Deixou de ser sonho e passou a ser realidade. Não é mais infinito - tão pouco infinito do infinito - porque por tanto tempo durou, pois passou a ser um mínimo de tempo mágico.
Enfim o amor que, no fim das contas, passa ser o que nunca foi. Amor que não é amar. Amor que não é amor. Amor que não é nada.
A não ser que seja amor.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, janeiro 12

Super Herói.

Eis o dia em que deitamos na cama para poder sonhar, para dormir, reunir forças para o dia que se sucederá. Não há desejo maior, nestes últimos tempos, do que simplesmente se envolver na escuridão e não enxergar nada até que a alvorada e seu majestoso sol toque nas pálpebras fechadas e distantes. Estou farto daqueles sonhos bons que só me faz lembrar a minha insignificância em vida. Tão bom seria se vivêssemos nos sonhos, se fossemos mesmo super heróis. Eis um sonho em que o maior heroísmo era salvar minha própria vida da destruição.
Pois eis algo que sou mestre em fazer: Potencializar minha vida. Tanto para o lado positivo como para o negativo. Quando o despertador avisa que devo me preparar para mais uma batalha, meu corpo mal descansado ergue-se com dificuldade e encaminha-se para uma cachoeira que limpa as dúvidas do dia anterior e encharca com novas e mais misteriosas. Eis que lembranças voltam para nos ferir. Por que elas existem? Porque nossos erros sempre estão em nossa mente para dizer que não somos super heróis como desejaríamos, que não passamos de meros, pobres e miseráveis mortais?
Eu não sei voar, não consigo andar sobre as águas. Não consigo ajudar aqueles que amo. Eu não consigo nem mesmo me salvar. O poço fundo me espera, mas ainda falta para chegar até o fundo do poço. Sem saber como, ainda me seguro em suas bordas, mesmo que não tenha forças para me render, ainda tenho forças suficientes para não me entregar. Eu posso não ser um super herói como gostaria, mas ainda luto, por mais que não sei com que força. Luto e choro. Eis aqui um alívio. Os heróis também podem sangrar, podem errar, podem perder. Os heróis também se vão. Eis que não é fácil se decompor assim.
Debruçado no parapeito da janela eu choro como nunca antes havia chorado. Recordando rapidamente, como um filme triste, tudo o que aconteceu comigo até então. Questionando-me porque e por quem eu ainda consigo viver depois de tudo, como consigo sorrir, como consigo encontrar forças para me reerguer novamente e novamente, todos os dias. Não é fácil viver assim, sem caminho, sem objetivo ou com objetivos ofuscados por obstáculos impossíveis de se atravessar como um ser humano normal. Chorando, soluçando e observando o sol brilhar imponente no céu. O quinto andar não é um dos mais altos, mas ficar de pé sobre ele e me entregar ao vento acabariam com os problemas.
Eis uma solução simples. O fim. Mas e aqueles que têm amor por mim? E aqueles que, mesmo eu não significando nada, consideram-me um herói? Que tipo de boa ação eu fiz para conquistá-los, para fazerem ser devotos a mim? Não posso desistir. Por estes, não poderia nunca. Como os verdadeiros heróis são os que me consideram tão espetacular? As contradições que a vida me impõe são sempre tão subjetivas. Não sou capaz de entender. Não é fácil saber.
Eis, no fim, que o fim é somente a continuação de mais um dia. Se eu sobrevivi até hoje, foi porque os heróis que fizeram de mim um herói não me deixaram desistir. As lágrimas nos olhos são intermináveis, mas eu vou continuar, vou sofrer. Seja como for, agora eu sei que o meu papel é ser o herói destes que me acolhem. Aqui no mundo. Eis que continuo procurando o meu caminho, minha estrada para viver e amar.




Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, janeiro 9

Al dente.

Passara o tempo e o que vi foi como um piscar. A luz apagou, mas trouxe-lhe velas. Ascenderam na madrugada fria, salvando meus olhos cansados de leitura e afazeres. Por esse tempo que passara, aprender fora melhor do que ensinar, ler fora melhor do que escrever e ouvir fora melhor do que falar. Ouvira sinos e sinais. Ouvira choro de morte e de vida. Choro, morte e vida. Morte e vida, pois ao dar a luz foi-se para o céu. Deu a própria vida ao filho, sua reencarnação.
Lindos olhos seus. Não passa de ficção, de páginas presas à capa. Diagramado, impresso, sem imagens. Somente letras e um punhado grande de imaginação. Panela cheia d'água, escorredor pronto. Óleo para não grudar a comida já grudenta, feita por um cosinheiro errante. Ajudaria ainda a plasticidade dos pratos e da colher de pau que mexe. Um passo após o outro, como sugere o livro. Dê receitas.
Diante de um compasso raso, verso mudo, canção tola e insolente, vejo meu molho borbulhar e ferver enquanto vejo letras e linhas. Vejo a bela criança se formando, órfã, mas viva e mais corajosa. Ensinara a vencer, assim como fora ensinada em seu primeiro suspiro. Assim como suspeitei. Assim como suspeitava quando ainda não tinha lido esta cena, este capítulo. Esperar o macarrão cozinhar até ficar Al dente...
Quem suspira, agora sou eu. Alívio. A donzela escapou com vida. Meu macarrão está pronto. Gozo do prazer de virar as páginas, de mastigar quantas vezes for necessário para que se torne massa o que era alimento. Para que se torne alimento o que é papel. Alimento para a alma, para a mente. Alimentar aquilo que existe somente para mim mesmo, com refeições que são feitas de paradoxos. Não se pode tocar. Entretanto, nutre-se esta massa. Carboidratos mentais, salgados, saborosos. Ao molho vermelho de sangue de morte e de vida. Sangue de ressurreição. Sangue de reencarnalção.
Sangue de molho de tomate. Macarrão.
Apague as velas. Boa noite.



Pense o que você quiser. (Y)


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