segunda-feira, maio 28

Uni(co)verso

O gostar de alguém pode ser uma máscara. O gostar, em si, pode ser um jogo. Uma partida em que o querer e o não querer são tênues e incertos. Livre arbítrio. Saber ganhar também é saber perder, no idioma dos corações partidos. Da mesma forma que saber falar é saber ouvir. Ouvir o que os olhos tristes têm para nos dizer.
Se numa nebulosa distante você explodisse e conhecesse a super nova de meu ser, as palavras entrariam em uma sincronia maior. Acontece que, ainda, vivemos em universos completamente diferentes. Não sou matéria, nem material. Sou aquilo que o vento nos faz enxergar, o que o cheiro da água nos faz sentir, o que o fogo nos faz saborear. Pés fincados na terra, na Terra, planeta de água, ar e fogo. Ardendo no céu, em forma de sol, em forma de véu, impedindo com que olhemos diretamente para ele.
Mas eu olho pra você e vejo, tristes, duas partes de um universo em que anseio chamar de meu.
Já reparou como o seu olhar – não os seus olhos – lembra o infinito? Uma infinidade de pontos, brilhos díspares e ainda assim perfeitamente mágicos. Pois magia existe para os que acreditam nela. É nela uma forma de deixar as mãos dadas, os abraços, de lado e conhecer o interior. A parte de dentro acaba por ser mais fascinante. Todos os trejeitos, defeitos, devaneios. A aparência é artificializada pela dança dos soberbos e egoístas. Há de compreender, se realmente sentiu o que eu senti.
Senti e falei.
Porque os olhos tristes sorriram quando eu disse o quanto eu gostava. De maneira simplória foram ditas as minhas palavras, é bem verdade. Contudo, com um tom altamente singelo, algo raro e atípico. E pensar que o início já é o meio e que o meio já é um meio de tudo ser concretizado, abstrato pelo fato de vivermos em universos diferentes e ainda assim nos alimentarmos com o brilho dos olhares do outro. Em foco, sem perder a perspicácia.
O que dirão os poetas quando virem mais essa manifestação? E de que adianta tantas palavras disformes, distorcidas e desfiguradas, quando não há uma conexão, nem afinidade, nem intimidade e tudo o que consigo ver é um infinito?
O que é poderoso assusta. O que é veloz coage. O que é você, eu não sei.
Mas eu quero muito saber, quem sabe um dia. Para que eu possa, de verdade, conseguir reorganizar essas palavras de uma maneira que eu faça entender. E que eu entenda, igualmente.
Olha nos meus olhos e...


... Pense o que você quiser. (Y)

domingo, maio 13

Visão de nostalgia.

Óculos escuros presos no peito, fazendo com que o coração consiga refratar a luz que ilumina a paisagem. Reflete nos vidros dos carros, a iluminação das lâmpadas dos postes eretos e uniformes sobre a grama, sobre o solo fértil e molhado, chupando a água negra do asfalto em contato com o pneu.  Lentes abaçanadas, escondendo todas as rachaduras e declinações, ansiosas por enxergar um pouco mais de esperança, transformando em nostalgia o que era para ser um terno momento.
Fugaz. O aprendiz agora torna-se mestre de seu próprio sensei, mostrando-lhe o que há muito havia se esquecido. Sonhos são sonhos e desejos são desejos. Querer ser não é o mesmo de ir ser. E se os olhos tristes e protegidos por armação e lentes forem afugentados por olhares severos alheios, o aprendiz diz para ser paciente e esperar o fim chegar. Deixar para viver o amanhã somente quando vier a aurora, quando florescer o dia e este mostrar-se promissor.
Mas o que eu vejo é chuva.
Ouço o hino em que os bárbaros choram, observando o longo inverno e o tempo ruim, com uma das mãos aconchegando a garrafa de cerveja enquanto a outra brinca de apertar os botões do telefone celular escondido no bolso do casaco. Em pé, viril, de garganta cheia e corpo vazio, ansiando por um abraço que fosse, vindo dos céus ou dos braços daquela íntima desconhecida, brigando com o guarda-chuva enquanto espera o seu ônibus para regressar ao lar. Descrente de que ainda há vitória para um desbaratado, os olhos do coração choram em sincronia com o lamento do céu.
E o que se vê nesta paisagem?
Os olhos são cegos. Vêem asfalto, carros passando em velocidade pela rodovia, refletindo a luz que é refratada para outro lugar quando entra em contato com os óculos que tampam a visão, mesmo que não tampe o que se vê. Fitam a chuva, a movimentação das pessoas e amplificam a visão até o horizonte. Miram as placas, as figuras de outdoor, o galã e as árvores escassas. Captam a suave dança e a simetria e assimetria das coisas. Transformam as paisagens em paraísos melancólicos, solitários e tristes. Contudo, nada enxergam de verdade.
É preciso ver com o coração. E, se eles pudessem, Veriam frio, solidão e medo. Fitariam a saudade, a ausência, a vontade. Mirariam o querer, o querer muito e o querer bastante. Capitariam, logo, a estranha certeza de que milagres existem e transformaria tudo em esperança. Palavras ditas por uma real criança, impressas e reproduzidas por um interlocutor familiar. Àquele que julgou ensinar um dia.
Azuis. Sempre soube, sempre senti. Os olhos escondidos sob os óculos são da mesma cor da fita que carrego na mochila que carrego nas costas. São da mesma cor de sua alcunha.



Pense o que você quiser. (Y)

domingo, maio 6

O melhor até amanhã.

A inspiração é uma criança travessa. Pequena o suficiente para se esconder entre os neurônios e demasiadamente grande para sua existência ser contestada. O ser humano é pequeno – mesmo os grandes – para compreender que uma partícula pode tornar-se um infinito universo de estrelas, planetas e desconhecido. O baú do conhecimento sempre terá mais um fundo falso escondido, mais uma aresta a se explorar. E se há limites para centenas de coisas, a dúvida é o que sempre nos impulsiona. “E se...?” é o que se perguntam os filósofos, matemáticos ou qualquer ser humano, grande ou pequeno, velho ou novo, que busca refutações. Homens estes, como eu, que não passam de corpo e massa cefálica, insignificantes, envoltos em brilhantismos e em descobertas intimamente denominadas como improváveis. Eu contesto.
Contesto por ser leigo, ser cego e ignorante. Contesto por saber que há limite em meu campo de visão, nos termos que domino na escrita, no que posso fazer de melhor hoje. Pois ontem me afugentei ao conhecimento, deixando de perceber que o termo “possibilidades” pode ser no singular, mesmo escrito em plural. Não há limites em ter limites e esta acaba sendo a nossa maior restrição. Delimitados a olhar, tocar, cheirar, degustar e ouvir, esquecendo-se de que o maior impedimento é não saber que regras foram feitas para ser quebradas ou, simplesmente, ignoradas. E eu contesto.
Contesto por ter dentro de mim uma imaginação infantil, pura e travessa. Contesto por saber que minha limitação está em repetir termos e palavras, frases de efeito, por não ser mais bem instruído. Contudo, a subjetividade dos textos nos leva a perceber que não há limites e que nossa massa cefálica, pequena como um átomo, pode se transformar em um infinito universo de idéias, perguntas, teses e réplicas duvidosas. Não sabemos o que cada inspiração esconde em cada cabeça de cada ser humano, homem ou mulher, barroco ou contemporâneo, de corset ou geek. O que é pertinente frisar, nutrindo esta grande teia de informações e necessidade do saber, é o fato da raça humana conhecer seus limites e alcançá-los, ultrapassá-los e, enfim, conhecer o infinito: Um novo limite mais adiante, melhor protegido e com uma tênue sensação de que o simples e o complexo são uma só coisa.
E são.
São palavras, feitas de pequenas letras e grandes significados. Amantes que se descobrem em uma alcova de metonímias, ironias e antíteses. É o campo do infinito em sua melhor vista, aveludando o toque em suas rosas palavras, exalando o cheio da acepção presente e futura, provando do néctar desta pequena viagem e ouvindo o vento dizer palavras novas, aumentando a limitação para que possamos, outra vez e mais uma, alcançar e superar restrições. Descobrindo, então, o óbvio: Minha imaginação limita-se em ver, sentir e imaginar.



Pense o que você quiser. (Y)


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