quinta-feira, março 29

O reencontro.

“Havia muito tempo em que eu não tinha um período livre para organizar meus pensamentos. A vida não tem sido fácil nesses últimos tempos e confesso que tenho sido apático quanto às mudanças. Às vezes é duro ter perspectivas, criar expectativas e descobrir que tudo dá errado sempre. Nada tem saído como eu desejo. Todas as minhas atitudes estão de confronto a mim de uma maneira agressiva, não com a doçura e perícia com que as criei. Eu precisava de alguns momentos livre e solitário para organizar meus pensamentos. E tive-o.
Esperava uma manhã de sol. Esperava pegar a trilha com o brilho rubro da alvorada, sentir todo o calor do Astro-Rei extinguir a tristeza e frieza dentro do meu peito. Esperava sentir a areia escaldante sob as cascas dos meus pés e poder resfriá-los nas águas de um oceano Atlântico quase pacífico, sem ondas, sem revolta. Esperava sentir a calma e as boas vibrações daquele lugar que sempre me fez sentir único e especial. Sentir de novo, mais uma vez, outra vez, novamente. Sentir “nova-mente” respirar e me dar respostas para minhas perguntas. Fazer, no mínimo, com que eu as encontrasse dentro de mim, organizando todas as gavetas do meu criado mudo interior.
Mas nada disso aconteceu. O céu cinza anunciava a chuva que cairia durante toda a íngreme subida até o início da trilha. Não era aquilo que eu tinha planejado. Não era como eu queria que fosse. Pensei em desistir e regressar ao lar. Pensei em desistir de tudo e esperar em qualquer telhado a chuva passar, vendo-a desolado por não cumprir meus objetivos e desejos. Fechei os olhos e pude sentir que, mesmo com o céu me castigando de forma injusta, aquele lugar especialmente mágico me chamava para junto dele como uma mãe chama seu filho para almoçar num dia de domingo. Uma energia suprema, irreal, me convidou a seguir em frente, arriscar e ver como seria o resultado final mesmo quando as somas não estavam sendo promissoras.
E eu dei um passo à frente. E outro. Mais um.
Subi, deixando a chuva bater com ferocidade em meu peito, pela trilha escorregadia. Caminhei predestinado, sem medo de desistir. Avistei a sempre bela tartaruga olhando para o horizonte, esperando o sol assim como eu. Esperando o sol sair. Mas este, tímido, usava as nuvens carregadas de cobertor e insistia em dormir até mais tarde. Não me incomodei. Ao menos a chuva havia parado. Ao menos a brisa era agradavelmente quente, como aquelas que se esqueceram que o verão já tinha acabado. Ao menos eu estava ali, partindo para o real e sublime entendimento.
As respostas chegaram à minha mente no exato momento em que pisei naquela areia fofa. Podemos, sim, ser feliz com o que a vida nos proporciona. Basta aprendermos a aceitar o que ela tem para nos oferecer. Nem tudo sai da maneira que queremos. Basta desfrutar do que é nos dado, tentando fazer o melhor possível. Aprendi a gostar rapidamente do clima agradável, da água morna e cristalina, da chuva batendo em minhas costas enquanto eu nadava vagarosamente naquele mar revolto. Aprendi a amar aquele lugar do jeito que eu conheci e do jeito que ele quis ser naquele dia em que eu fui visitá-lo.
Eis que, no momento em que eu mais namorava aquele paraíso somente meu, o sol saiu de suas cobertas para enxergar melhor aquele intenso romance.
Simplesmente perfeito.”



Pense o que você quiser. (Y)

Dizendo aquilo que não se diz.

Foi então que eu decidi ser feliz.
A cada dia que passa em nossas vidas, aprendemos a aprender mais e mais com esse jogo perigoso, dramático, demorado e imprevisível. Ao longo da maioria do tempo de nosso dia, um após o outro, estamos pensando e tentando projetar o que vamos falar, o que vamos fazer e como faremos isso. Quando algo sai errado, é difícil não sentir aquela agonia insistente dentro do nosso peito que nos faz fraquejar, chorar e nos sentir diminuídos perante a nossa própria existência. Forçamos até o extremo para que os “erros” possam ser reparados e para que tudo possa voltar a ser como fora em outra ocasião.
E então sofremos.
Sofremos por não querer, não aceitar, que a felicidade já não se encontra mais onde nós achamos que ela ainda está, onde nós queremos que ela ainda esteja. Vendamos nossos olhos e pensamos que não é preciso ver para amar. Ver com o coração é tão essencial como ver com os olhos do concreto, pois ninguém vive só de ilusão, de magia. Ninguém vive só de imaginação, de abstrato. E é claro que o que sentimos, quase sempre, é mais forte do que nossa integridade, do que nossos braços. Contudo, basta num momento de lucidez abrir os olhos, que a verdade chega e percebemos o quanto pequenos somos.
E sofremos mais. Sofremos por ainda achar, em algum lugar dentro de nós, que não é hora de virar a página. Mas uma folha de caderno, quando preenchida, a única coisa que podemos fazer é escrever por cima do que já está escrito. O que faremos então? Borraremos nossa própria história e ficaremos a mercê de um passado que teima em ser ainda presente. Estragaremos aquela bonita passagem de nossas vidas que já foi escrita e que acabou, borrando-a na esperança de melhorar e mudar um pouco a narrativa. Tentando fazer com que ela seja inteiramente do jeito que gostaríamos que fosse.
Foi então que decidi aceitar.
A vida não é como nós queremos que seja. Nunca.  Aceitei um dia chuvoso como se houvesse no céu o sol do solstício. Aceitei quem foi me dado de presente ao invés de perseguir insistentemente aquele amor impossível, que eu jamais conseguiria e que ainda acreditava que pudesse ter. Aceitei a opção de escolha quando ela foi me dada e aceitei o que veio quando não tive escolha. “Dancei conforme a música”, como minha sábia mãe me disse uma vez. Virei a página e percebi que ainda tinha uma página em branco linda, esperando para que fosse preenchida.
A vida nos dá muitas coisas que, ás vezes, nem achamos que são presentes, mas que são. Cabe a nós aceitá-los de bom grado ou brigar inutilmente com uma força que sempre será maior do que a gente, na esperança de dobrar o mundo e conseguir o que é improvável.
E eu decidi aceitar. De bom grado e feliz. Porque sempre há um arco-íris após uma tempestade.



Pense o que você quiser. (Y)

sábado, março 24

Reflexos e reflexões II

Cheguei longe. Fui até onde muitas pessoas duvidavam que eu pudesse chegar. Estiquei o braço e consegui pegar com mãos mais firmes. Foquei os olhos e enxerguei além. Fim da linha. Última parada até a próxima grande aventura. A bagagem abarrotada de lembranças do passado e a mente carregada de pensamentos e sentimentos. Confesso que ficou pesado pôr nas costas tantos fardos.  Assumo que não consegui sustentar essa quantidade enorme de passado. Fraquejei.
Voltei.
Não aguentava mais esperar o trem que me levava para frente e retornei. Peguei o sentido oposto, mais uma vez, contrariando a todas as minhas formas lógicas de pensar. Retornei, pois senti saudades e, acima de tudo, porque eu não sei mais quem eu sou. Sinto-me como um vaso de cerâmica. Rústico, duro. Quebradiço e vazio. Fui deixando tanto de mim pelo caminho, para tantas pessoas, que hoje eu nem sei mais onde eu deixei o que. Não há como mais me resgatar, mas mesmo assim retornei. E quando vi meu reflexo naquele espelho redondo, na parede oposta ao armário branco que compõe o quarto onde há uma janela com vista para o infinito, percebi que não era mais eu que estava ali a me observar. Sou um ser desfigurado, incompleto, pequeno, medíocre e frágil. Sou o reflexo da derrota, da incapacidade.
Tudo porque descobri que não é tão fácil viver como se parece.
No último reflexo que vi diante daquele espelho, a pessoa cuja imagem era refletida detinha uma força e auto-estima incomum. Alguém que não acreditava que pudesse existir o impossível. Entretanto, bastou sair daquela casa verde e descer a rua, virar a esquina e pegar o primeiro trem que surgisse na estação para perceber que as coisas mudam sempre e nada que possa acontecer vai alterar o que é para ser. “Se eu olhar pra trás agora, não verei mais nada”. E essa recusa, esse medo, tornava aquela imagem antiga viril e indestrutível. Um passo a frente faz com que sejam descobertos mundos novos e completamente diferentes. Contudo, como alguém que aprendeu que o impossível ainda estava por vir e que tudo o que outrora era improvável, sempre fora, na verdade, fácil em demasia?
Como há muito não fazia, eu chorei.
Sozinho, sentado dentro da cabine, olhando para o horizonte de nuvens e um sol envergonhado. Neste dia nem o céu chorou comigo. Neste dia a solidão fora a minha única companhia, meu simples e pequeno alento. E no caminho de volta pra casa, antes mesmo de não me enxergar mais, eu já sentia que tinha me perdido de vez. Não encontrei mais ninguém que deixei partes de mim. Todos se foram. Não tinha mesmo nada atrás de mim.
Quando subi o morro, morto de vontade de me reencontrar, percebi que minha casa já não era mais verde, era amarela. Que minha casa já não era mais minha, era de alguém.
Um alguém que eu olho a imagem refletida no espelho e não reconheço.



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, março 20

Próxima parada.


Sou como aquele radinho que agora toca.
Com pilhas fracas, volume baixo, antena torta.
Buscando, insistentemente, a boa sintonia daquela radio romântica chamada você.
E passo veloz, apressado pela multidão, apertando o botão, mudando de estação
Esperando o trem que não vem, tentando não esbarrar em ninguém
Ouvindo uma ou outra triste canção, vendo cair a chuva do fim de verão.
A melodia que toca agora até me faz sorrir, mas nem mesmo esta sacia o desejo
De ouvir a sua própria voz a sussurrar, fazendo uma orquestra pulsar e gritar
Coisas que nenhum sentimento gritaria, porque, se não fosse você, meu coração
Escutaria uma canção como outra qualquer.
Entretanto, inesperadamente, o trem atrasou e minha trilha sonora mudou.
Mais euforia e contagiante. Tudo e mais um pouco que pude querer neste instante.
E esta, em especial, tocou profunda ao ponto de me fazer mudar de rumo.
Agora pego outro trem, pois a sintonia que quis já não encontro mais.
Sua radio pode estar fora do ar. Eu não sei. Talvez seu sinal é bloqueado.
Sua freqüência é restrita para outro alguém. Ou talvez eu não consiga sintonizar.
E mesmo com outra canção adoçando os meus ouvidos, eu digo.
Esta não será minha viagem final. Quando o meu trem chegar ao destino.
Talvez eu perca uma vida de tempo ouvindo essa nova canção,
Mas minha freqüência estará sendo enviada para onde quer que você estiver.
Desta vez, contudo, não serei ouvidos. Serei a voz.
E minha canção cantará a separação de um “você e eu” que outrora fora “nós”
Pois é sempre quando menos esperamos é que encontramos a nossa
Tão sonhada e esperada canção predileta.

No ar: “A última estação. A última parada antes de seguir viagem.”



Pense o que você quiser. (Y)

sábado, março 17

Sonhos verdes.

O que era poesia virou prosa.
Pensamentos soltos e tão pequenos diante do mundo, são estas pequenas serpentes transparentes que se dissipam e se adaptam ao meio. Fumaça, em sua dança desconjuntada, fazendo do sopro do vento a sua própria orquestra. Antes de sumir, sempre, deixa para nós, adoradores, uma última mensagem. Somente quem tem pensamentos soltos podem ler o que há escrito naquelas fumaças, porque ela é a lacuna que falta em todas as frases.
Pensamentos se reúnem dentro de uma mente sã logo quando a noite cai. O corpo em repouso, horizontalizando todos os sentidos, agora faz com que somente a mente trabalhe. Mistura-se presente, passado, futuro, desejos, sonhos, respostas e questões. Flashes de um filme já vivido ou que se quer viver. E quando nada mais parece fazer sentido, sempre surge por baixo daquelas pálpebras fechadas um rosto, uma forma, uma silueta.
Uma silueta, uma forma, um rosto.
Quando a vida testou minha fé e tirou de mim todos os sentimentos que me regia, tornando-me um ser frio e vazio, pensei que jamais voltaria a entender questões simples como amar singela e verdadeiramente. Ao menos a vida não me tirou a esperança. Acreditar sempre foi um fardo que carreguei com fervor. Sou mais do que preces e orações. Sou, também, busca, apesar de manter meu corpo, agora em repouso, buscando essa raríssima felicidade dentro do meu universo interior. Buscando reconhecer essa silueta que surge e ganha forma. Posso ver seus olhos agora.
Eu preciso me livrar destes males. Quero voltar a sentir de novo aquela boa e velha confiança, poder reconhecer os sorrisos, os gestos ou o simples olhar. Reconhecer a distância quem é aquela que vem se aproximando e, mesmo quando eu não puder ver, ainda poderei sentir aquela que vem me salvar mais uma vez, e que todas às vezes liberta essa tristeza de mim quando está aqui por perto. Como eu sou feliz sempre que estou perto de você. Quando posso segurar sua mão e te mostrar o caminho, quando eu deito e sonho que faço a mesma coisa que faço quando posso te ver de verdade.
Posso sentir essa saudade do que ainda está por acontecer entre nós. Sinto saudade do meu “eu” passado, sorridente e feliz. Sinto que posso fazer diferente, como sempre pude, como sempre quis. Sinto que encontrei e sinto tantas coisas que uma mente só não é capaz de conter. Então eu deixo fluir e deixo as palavras saírem, finalmente, para que eu te mostre o quanto de você já tem em mim. E, se você me disser quer vai me esperar, eu saio do outro lado do mundo e te busco. Algo mudou dentro de mim, dentro de nós. Eu sei. Sei porque eu vejo, sinto e imagino.



Pense o que você quiser (Y)

quarta-feira, março 14

Nova versão de uma velha visão.

“Digamos que o céu fosse o sentimento de alguém. Qual astro gostaria de ser? O sol, a lua ou uma estrela?”

Escolhi ser a lua. Não sei por que, mas sempre achei que a lua me atraia de alguma forma. Sempre soberana no céu da noite, céu dos poetas, por vezes envolta nos véus de nuvens e em outras ocasiões nua e brilhante como uma amante. Nas noites eu seria mais visível de todas as estrelas, o rei dos céus. Estrelas são milhares. Se eu fosse o sentimento de alguém, ela não iria me reconhecer sendo uma estrela igual a milhares de milhões de outras.
Durante o dia, quando o sol brilhasse e ofuscasse o brilho de todas essas estrelas, eu ainda estaria lá, mesmo menos visível, mas sempre presente. O sol seria algum outro “pretendente” querendo chamar mais atenção de minha amada do que eu. Iria tentar me ofuscar e ofuscar a todas as milhares de milhões de outras pessoas menos importantes com o seu brilho e seu calor. Todas elas invisíveis, mas eu ainda estaria lá. Sem brilhar muito, mas ainda assim ao alcance dos olhos.
O sol sempre se vai. Aparece, brilha, aquece, acolhe e é gentil. Contudo, se despede no momento em que mais gostamos dele. Sereno, belo e gigantesco, na horizontal de nossa visão, no horizonte de nossos corações. A lua fica com o cair da noite, tornando-se, logo, o nosso farol na escuridão. Estrelas são de brilho tão pequeno! São tantas! Como poderia eu ser somente mais um?

“Entenda que o que os olhos prestam atenção não é o mais importante. Quando amamos alguém, não precisamos vê-la sempre para amá-la. Além de ver, basta sentir e imaginar e tudo estará completo. Escolho a estrela, pois o amor é do exato tamanho da imaginação que tem. Não serão em todos os dias que o céu estará limpo. Não serão todos os dias que a lua aparecerá.
A lua também terá o Japão para visitar, pois o céu é imenso de mais e muitas pessoas são adoradoras dela. Haverá dias de chuva. E se num dia desses de tempestades, depressões e incredibilidade a sua amada olhar para o céu, vai encontrar, no mínimo, uma estrela. Vai rezar por dias melhores e vai olhar pra ela como se fosse seu anjo, sua salvação.
E nas noites em que se sucederem, com o céu limpo e estrelado, ela verá milhares de milhões destes pontinhos luminosos e para cada uma que olhar, verá, sentirá e imaginará sua estrela predileta.”


Mesmo assim, durante o dia eu não conseguiria ver qualquer estrela no céu. O sol ofusca, é egoísta.

“On ne voit bien qu'avec le coeur. L'essentiel est invisible pour les yeux.”



Pense o que você quiser . (Y)

Capítulo onze.

Horas parado na frente do caderno, com o lápis apontado e preparado na mão, esperando para que a primeira palavra possa ser escrita. Pensando, olhando, e tentando encontrar alguma coisa que possa dar início. Planta, cortina, janela, sofá, rádio, TV. Computador, impressora, mouse, teclado. Qualquer palavra para que eu possa começar a colocar pra fora esse turbilhão de coisas que me inchou de tal forma que até mesmo esvaziar está difícil. Falta de inspiração dá uma sensação de total agonia. Excesso dela também.
Minha mente está longe. Meu corpo é um radinho de pilha tentando encontrar a sintonia correta para que aquela canção do amor possa ser tocada sem interferências. Pois há muito tempo eu não sentia o que eu sinto hoje. Excesso. Balançar as pernas em excesso, coçar a cabeça em excesso, levantar e sentar em excesso. Escrever uma palavra, apagá-la e escrever a mesma palavra novamente. Nada me faz escoar o que eu quero dizer. Passam a ser tão frágeis as formas de se concretizar uma simples palavra que qualquer letra mal posta faz com que a ponta se quebre e eu tenha que começar tudo mais uma vez.
Desta vez eu sinto que há algo muito diferente dentro de mim. Uma chama que há muito tempo estava apagada, agora queima mais intensamente que o sol. As palavras não querem descer e tudo o que eu passo a dizer são palavras soltas, sem valor e sem sentido. Uma fissura foi feita no tempo-espaço e estas 4 horas da manhã que marcam o relógio parecem ser as primeiras após o despertar, não as últimas antes do repouso. Dia, noite, tempo, espaço, luzes, palavras, primeira. Certeza, certeza, certeza.
Olhar aqueles olhos profundamente sinceros passou a ser um vício. Ouvir aquela voz suave e com um sotaque que me faz sorrir agora é obrigação. Preciso ver o que há embaixo daquele véu. Preciso descobrir mais, ir mais além, mais a fundo. É um desafio que eu preciso completar. Não por ego ou por competitividade, como muitos pensaram. Encontrar as respostas daquela cabeça é me encontrar. Acho estranho falar de felicidade e de sorriso sem ter uma razão específica para isso. Agora eu posso dizer que tenho.
Ainda não possuo o que posso a vir chamar de felicidade genuína e primitiva. Contudo, eu já sei onde se encontra e como ela pode vir a ser. Assim como todos os mais preciosos tesouros ela está guardada e acorrentada em algum lugar dentro daquele coração, para que eu possa abrir e descobrir o paraíso que há por ali.
O caderno continua em branco. A inspiração quase me sufoca e eu não sei como posso fazer para ela sair da maneira que eu quero, mas a certeza eu já tenho. Alguma certeza eu tenho certeza que tenho.




Pense o que você quiser (Y)

segunda-feira, março 12

O ser feliz.

A vida é tão fácil de ser interpretada que eu ainda não entendo como podem ver, sentir e imaginar coisas que estão absurdamente fora do alcance de qualquer mente humana em sã consciência. A fragilidade dos sentidos nos torna vulneráveis a perecer diante de uma verdade que pode nem ser tão verdadeira assim. Pessoas nascem, crescem, reproduzem-se e morre. Esta é – ou teoricamente era pra ser – o sentido da vida. Artificial, pequeno e completamente irracional. Mas somos mais do que bichos. Somos bichos pensantes.
Pessoas pensantes nascem, choram, engatinham, crescem, falam, crescem mais, brincam, aprendem, crescem novamente, conhecem o amor. E a cada amor conhecido encerrado, passam por um período de extrema depressão, mas voltam a submergir e voltam a amar. Não digo só de amor! Digo de vontades. Pensamos e deixamos pra trás qualquer coisa para conseguir um ideal se este for o tão belo e sonhado amor. O bicho homem cresce e fica bobo, cresce e fica cego. Cresce o espaço no peito, a capacidade de sonhar e de ter esperanças de que será um ser feliz.
Ser feliz. Quem dera a felicidade fosse uma fórmula em que pudéssemos comprar em qualquer farmácia. Poderia ser tão abundante como a água que vemos em queda n’As Cataratas. Ser feliz deveria ser uma alcunha de todo ser feliz. Mas mesmo os risonhos e brincalhões guardam dentro do peito uma pedra posta em trégua ou, simplesmente, um buraco, um vazio. E a cada dia que passa e os seres humanos se evoluem mais, o preço da fórmula chamada “felicidade singela e primitiva” vai ficando escassa. Em escala de preciosidade estão estas raríssimas “felicidades”, antes mesmo do ouro e do diamante.
E o ser feliz passa a ser tão escasso como o raciocínio que nos falta sempre que queremos dizer algo importante para alguém imprescindível em nossas humildes vidas. O tempo-espaço é tão comprimido quanto o comprimido de vitamina C que usamos para curar o resfriado que não pode chegar, pois ele nos faria perder mais tempo ainda. É deprimente saber que o tempo se encurta tanto ao ponto de sequer podermos ver e cumprimentar nossos amigos e pessoas que amamos. O tempo passa, diminui seus dias e nos faz perder a maior dádiva que recebemos assim que chegamos ao mundo: Um verdadeiro e genuíno choro de alegria singela e primitiva. A melhor forma de felicidade. A celebração da vida.
Não perca a chance de ser feliz. Mesmo que você a deixe escapar por entre seus dedos diversas vezes ao longo de toda a sua vida, saiba sempre que são em tempos como esse é que aprendemos. O tempo é relativo e pode se tornar gigantesco se você desejar. Dizer o que sente não é vergonha nem pecado. Abrir a janela do coração faz com que os raios de felicidade entrem. Seja onde for, como for e com quem for. Pois não há nada melhor do que um sorriso que traduz com perfeição aquela boa, velha e genuína felicidade singela e primitiva.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, março 8

Em tom de insanidade.

Em minha mesa de cabeceira jaz o Nietzsche, com seu blazer desbotado, calça xadrez e dedo no queixo, como se estivesse mesmo pensando em alguma frase de efeito para me dizer. Mas ele está morto, desde muitos anos antes da minha humilde existência. É, hoje, só um papel que me inspira e me faz pesquisar sobre o significado de uma palavra tão pequena, mas que gera tanto desconforto, tantos formigamentos. Mas como lidar com algo que passa de uma simples palavra com um significado horizontal e pontilhado no Aurélio? Poderia mesmo explicar com palavras, gestos ou qualquer outra maldita atitude? Pior do que isso, só somando essas perguntas à teoria de “amor sobre virtudes” de Platão.
É assim que me sinto. Confuso, inseguro, com as mãos suando. Tentando soar calmo, mas com aquelas tantas “borboletas” no estomago. Como explicar que existe o que não existe e como fazer com que a convença de que ela é real? Por vezes eu penso que minha mente está mesmo deformada de tanto imaginar o inimaginável. Mas eu vejo, eu sinto! Sou seguro dessas palavras. Sou são. Estou lúcido, não bebi, ao contrario do que você pensou hoje mais cedo. Estou, sim, entorpecido por um sentimento que me faz ser quem eu quero ser sem precisar ser aquilo que eu gostaria. Ser ou não ser. Eis a questão.
Imaginável e virtual. Vejo o seu rosto com sorrisos tênues. Amo quando coloca aquele nariz de palhaço e diz que está combinando comigo, por mais que não compartilhe das mesmas canções prediletas. Eu aceito, mas não gosto de quando você diz sobre seus relacionamentos, digamos, reais. Nessas horas eu prefiro pensar que você é mesmo fruto de minha imaginação e que não existe. Mas é inevitável. Eu consigo te ver e quase te tocar. Mesmo sem nunca ter ouvido, sua voz diz palavras doces em meus ouvidos. Ora no esquerdo, ora no direito, ora mais grave, mais agudo, com sotaque, com gírias.
Abraçar-te, hoje, seria mais do que um prazer impar. Seria a chance de provar pra mim mesmo de que você é real e de que eu não sou louco. De que o futuro pode ser como eu digo que planejo ser. É pensar além de quebrar as barreiras da distância. É transformar em realidade o que é mais um de muitos sonhos de olhos abertos. Pisca e sorri. Ande, desfile, para mim. Diga que sim. Uma palavra! Uma frase! Qualquer coisa! Como parar com essa insanidade? Provarei, sem dúvida. Um dia provarei a minha sanidade e desfrutarei dela. Sempre tive certezas das coisas que tive certeza sempre. Faça com que eu tire essas amarras e possa atravessar este portal. Não nos arrependeremos.
Platão, Sócrates, Ficino, Nietzsche, Einstein, Pessoa. Fosse filósofo, poeta, matemático, ou até se fosse Freud, não conseguiria explicar o que passa dentro deste meu corpo prestes a explodir de tantas coisas. Sentimentos, palavras. Sentimentos e palavras incontáveis. Deixa que, hoje, eu quebro essa tela e passo a ser o filósofo-poeta-matematico-Freud. Passo a ser um ser de querer.


Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, março 6

Cíclico.

Meus olhos não vêem aquilo que deveria.
O que antes era uma perfeita forma, um perfeito encaixe, hoje se encontra como as pedras daquela praia onde todas as dores são curadas. Deformadas, reformadas, lisas, sem contornos. Tanto bate até que molda, até que afunda. E as pequenas represas formadas, quando se enchem, choram lentamente. O salgado do mar e o doce da chuva. O salgado das lágrimas e o doce do passado. Nessa confusão, o que sobra em meu paladar é sempre o amargo, apesar de tudo.
Aqui o tempo não importa. A maré sobe, desce, sobe. A areia seca, molha, seca novamente. Dia, noite, dia. Lua cheia, míngua, some, cresce. Enche minha represa de luz, meu pulmão de ar. Hoje eu estou sozinho aqui. Posso gritar para qualquer ninguém ouvir. Posso cantar, gargalhar, pular, correr. Posso fazer tudo, pois estou só nessa imensidão iluminada apenas pela lua que preenche o meu vazio. Posso contar as estrelas. Posso dar-lhe nomes. Elas estão e estarão sempre comigo. Aquela lá – olhe para aquela lá no céu, bem iluminada, à esquerda – ela me disse que estaria para sempre me guiando.
Estrelas mentem.
 “Nem todos os dias a lua aparece. Haverão dias nublados e chuvosos também. E, se em um dia desses a pessoa estiver triste e olhar pro seu céu, vai encontrar, no mínimo, uma estrela. E vai se apegar a ela. Nas noites seguintes, com o céu limpo e estrelado, verá milhares de estrelas, e como é muito difícil distinguir umas das outras, vai ver a sua estrela em qualquer uma que aparecer, esquecendo-se da lua. Eu estaria multiplicado por uma infinidade, quando não aparecem mais de uma lua. Seria como se eu estivesse em todo o céu. Pra onde a pessoa olhasse, pra qualquer estrela que ela quisesse observar, iria pensar em mim.”
Meus olhos não vêem quem deveria.
Nunca saberei quem é. Nunca saberei qual estrela realmente preencherá meu imenso céu interior. Elas se multiplicam, me enganam. Tudo o que preciso é um sol. Um som de água batendo na pedra. Deformando-a, fazendo com que ela torne-se lisa, sem forma, sem vida. O tempo passa e a represa aumenta e a chuva faz lavar tudo o que não tem vida.
Deixa nascer, na fonte, doce e pura. Deixa se deixar levar pela gravidade, montanha abaixo, transformando o que era riacho em cachoeira. Deixa correr livre e deixa em queda livre. Deixa virar rio e desaguar. Deixa salgar o doce do rio com o sal do mar. Deixa queimar, evaporar, concentrar e chover. Doce. Deixa tudo se misturar e amargar minha boca cheia de palavras vazias. Deixa acontecer mais uma vez, e outra.
Vão me encontrar. Eu sei. Não estou à deriva. Não é um SOS. Estou apenas dando um tempo para o amargo virar doce. “nova-mente”.


Pense o que você quiser. (Y)


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