terça-feira, dezembro 13

Sem qualquer inspiração.

Quando mais queremos nos recordar daqueles antigos e longínquos pensamentos, estes se desvanecem de nossas mentes, trovejantes. Querer lembrar não é somente necessidade, mas sim perspicácia, orgulho e até certa destreza. É o autocontrole, o triunfo sobre estes vastos labirintos interiores. Como bem se sabe, sábias são as línguas do entendimento. O tênue limite do saber e do gostar. Gostar de formas, de cores e imprimi-los num pedaço de papel, digitalizado. Fugaz são estes pensamentos meus. Travessuras correspondentes à intelectualidade de sua mente que teme em ultrapassar o que é o inimaginável.

O conflito segue com brados firmes entre a mente escassa do que raciocinar e o bojo, outrora farto de sustento, sedento ainda pelo desjejum, mesmo lá para as tantas após o crepúsculo. A fraqueza nos faz repetir as palavras, vis, sutis. E, por mais que possamos compreender exatamente, parte por parte, tudo o que passa dentro de nosso pelejo, falta-nos concentração para encerrar estas intrigas sem ferir ninguém. Contudo, o próprio corpo reage em fadiga a presunções.
O que há de querer nosso próprio querer, até então, não consigo ser capaz de replicar. A vontade ímpar de conseguir progredir na vida sem denegrir o que não está mais fazendo parte de nosso mundo físico faz de nós seres humanos. O fato é que não há como não se fazer de desentendido diante das tamanhas atrocidades de um revelador e distante passado. Apagam-se da memória como se num estalar de dedos extinguissem uma chama. Voltam à tona como se o mesmo estalar de dedos fizesse o tempo voltar e a vela – no plural, mesmo que no singular aqui – reunisse sua cera e reconstruísse seu pavio.
Eis aqui mais um grande herro da umanidade. Colocar letras – ou ‘quês’ – onde jamais deveriam tanger, como fazem com seus banjos, violas e gaitas. A melodia otimista e contente, cantada com versos simples, voa como uma pomba para o destino dessa carta, voltando, tempos depois, trazendo suas respostas e mudando o itinerário para levar a outros pontos mais e mais questões. Nunca se sentem fartos de tantas questões e tantas novas respostas. Quando encontradas, essas respostas servem somente para o júbilo, para nada mais do que essa pequena e faminta grandiosidade.
Quando, logo, parece demasiadamente conflituoso tudo aquilo aqui escrito, evapora-se, novamente, mais um grande e largo pensamento. Uma grande conclusão para todas as respostas de todas as perguntas, talvez. Pois talvez o talvez nem exista. Seja, somente, uma barata intriga de mente ou pança, fome ou fome de saber, de compreender, de resgatar. O que fora dado e perdido. O que fora roubado. O que jamais fora meu ou seu ou nosso ou vosso. O que sobra é somente isso. Palavras soltas, encorpadas, efetivas. Lindas, mas soltas, sem expressão ou um sorriso sequer. Sem ternura ou adoração. Somente palavras, estas que nunca antes quis mostrar que sabia. Que jamais quis mostrar que sabia empregá-las.
Pois não importa. Por mais que mostre mais palavras vis, sutis, estas sempre serão nada mais do que meras significância de toda a minha ilustre avareza irreal. Aqui as compartilho, por falta de palavras melhores. Por falta de pensamentos melhores.
Dar-te-ei, quem sabe um dia, mais do que estas tolas sentenças. Contudo, primeiro, preciso encerrar este conflito interior, encontrar a saída deste labirinto. Encontrar, também, um sentido e uma forma adequada para escrever aquilo que vejo, que sinto e imagino, fora dessa cerâmica vazia que se chama solidão.



Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, dezembro 5

Simples detalhes.

Tantas e tantas foram as frases batidas, passadas e amareladas pelo tempo. Todas sempre dispostas nos mesmos lugares, palavras atrás de palavras, soltas e presas sobre uma folha de papel qualquer, amarrada por um ponto continuativo e um parágrafo. Reticências. A cada fim de história, de capítulo, de passagem, o pensamento no que quiser pensar fica e finda idéia de prosperidade. Há tantos clichês que já não sou todos que servem. Contudo, lembro-me muito bem de todos eles. Todos criados como um filho ou adotados como um abandonado, órfãos de seus poetas mortos, sendo assassinados ou de próprios suicídios cometidos.
Repito e repito todos, vez à vez. São estes pequenos detalhes que somente olhos como os meus podem perceber. Olhos que nunca vi, que nunca encontrei. Até então.
O tempo pode esperar, mas o relógio gira seus ponteiros mesmo assim. Parece tanto que foi em outra vida, em outra encarnação e um furo no espaço e tempo aconteceu, mas minha memória foi mantida intacta. Cada detalhe, cada gesto, cada sorriso ou lágrima. Cada cura, cada perdão, cada peça, cada chave. Cada palavra, posta uma atrás da outra como sempre pus. Como é para ser, sempre. Como era pra ter sido. Reticências. Como um filme passando rapidamente dentro da mente, em sentido inverso, vejo cada copo quebrado voltar para a mão, cada história contada voltar para a boca. Vejo o peito se preenchendo, vivendo, nascendo após dar a luz a algo tão belo! Somente até olhar mais profundamente a imensidão do mar dos olhos.
É reparar sentimentos sublimes após fitar fixamente aqueles olhos imensamente azuis, tanto em borda quanto em íris, por mais que os azuis do centro sejam só o reflexo da água do mar. É querer tanto e tanto, mais e mais, dizer essas e aquelas palavras ditas e escritas, reescritas e editadas, reeditadas e revividas, por poetas mortos e vivos. Por mim, poeta, claramente apaixonado por cada frase, cada palavra, cada letra. Apaixonado na outra vida e nessa, dia e noite, sempre e sempre, incansável e até alucinante, às vezes. Tão clichê quanto aquela mesma música, como naquela mesma posição na cadeira, como aquelas mesmas mãos postas sobre a mesma cabeça, como aquelas batidas ritmadas e aceleradas do coração. Como sempre fui, na outra vida, em outro momento. Reticências. Deixei pra lá os detalhes quando encarei seus olhos meus.
Feito de pedra bruta e mato alto, floresta intocada pelo homem, fundo do mar. Primitivo ideológico que se chama dádiva, que se chama amor. Algo que não existe, como diz palavras e textos repetitivos, como disse inúmeras vezes em minhas entrelinhas. Existe sim, eu, personificado, pedinte, querendo, nada mais nada menos do que a outra metade. Onde estará? Onde uma jangada pode navegar por esse azul, com uma vara de pesca, imaginando que nessa imensidão de olhar, eu possa fisgar o peixe da sorte, usando como isca o meu próprio coração.
Ponto final, ou continuativo, não sei dizer. Se uma pessoa é mesmo feita de detalhes, vamos ver se quem muito tem pequenas peças, se consegue perceber a importância de cada palavra e cada gesto, cada frase, dita aqui e agora. Dita há tantos tempos atrás, em outra vida, outra encarnação. Dita e escondida para ser descoberta.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, novembro 24

Querendo querer.

­Pois ele precisava ir.
Não a deixava por não gostar dela. Estava prestes a sair por aquela porta pelo simples fato de não saber o que queria, de fato. Sua certeza em sair dava-se ao fato dele não ter certeza em nada. Pois nada queria e, simultaneamente, queria tudo. Queria alcançar os mais belos bosques e conhecer grandes cidades. Queria conhecer o mundo e o interior de sua casa. Queria viajar, velejar e deixar o corpo sobre o sofá. Queria ver TV, ver a amada e ver o pôr-do-sol sentado na pedra. Queria mudar e não tinha medo disso. Queria crescer e evoluir. Queria, mais do que tudo, se conhecer para poder ter certeza do que quer.
Queria ser rei e plebeu. Queria ser cristão, ser judeu. Queria ser ateu. Queria ser preto, branco, falar alemão e japonês. Queria ser livre dentro daquelas grades, dentro daquelas quatro paredes. Queria fechar os olhos e enxergar tudo o que a vida poderia e poderá lhe oferecer. Queria resgatar o passado para entender o futuro. Queria conquistar o futuro para relembrar o passado. Queria ser dono do tempo do relógio de pulso. Queria ser o corte e a contusão. Queria ser a cura, o remédio, o destino.
Queria ser o vírus e o antivírus. Queria ser o hardware e o monitor. Queria monitorar e comandar seu próprio exército de peões do tabuleiro de xadrez. Queria afastar das magoas a velha e incômoda timidez. Queria poder plantar e colher, só para voltar com uma dúzia de frutas silvestres. Queria, de novo e de novo, caminhar sobre a superfície do nosso globo terrestre. Queria nascer, convencer e vencer. Queria ser humilde, pedir perdão. Queria dizer sim da mesma maneira que diz não.
E se aquele lugar não era seu, qual seria então? Se em qualquer parte sentia-se forasteiro, o que haveria de querer?
Ele queria muito mais do que ouros de tolo. Queria ser o tudo e o nada. O princípio, fim e meio. Verdade, mentira e anseio. Queria ser o posto, o oposto e o avesso. Queria ser o longínquo, difuso e o profuso. Queria ser o isqueiro, o fogão. Queria ser a boca, ser o chão. Queria ser tão grande, do exato tamanho de um grão. Queria ser o arroz, o Feijão e o macarrão. Queria ser destino. Queria ser exagerado.
Mas na verdade, ele se foi porque queria muito mais que isso. Ele nunca soube o que queria, de fato. Entretanto, partiu com uma certa esperança de que o que ele quisesse estaria esperando por ele e o haveria de encontrar.



Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, novembro 18

Certa incerteza.

Jazem, aqui, incontáveis garrafas vazias de vinho, cálices sujos e não retomados à boca após vazios. Livros abertos, lidos pela metade, formando, assim uma inteira opinião. Deitado no leito, descansa o corpo febril e emagrecido pela doença incisiva do saber. O tempo é o infinito, igualmente como a partida do jogo que se admira. Pratos sujos de uma mesma refeição, dia após dia, sem saber que somente saciando as necessidades chegamos em algum lugar. Espero que este seja belo como os sonhos e as visões à beira do abismo. Pois há quem diga que este mesmo corpo é mais do que um simples objeto do fruto sagrado. Há quem diga que este, mesmo adormecido e prestes à sabe-se lá o que, nasceu para ser vencedor. Nascido para ser jogador, não peça.
Nunca deixou de acreditar. Em nenhum instante que fosse, este, ainda, pudesse compreender que verdade não há além daqueles lençóis encharcados de suor. Porque será que a vitória não saiu de dentro daquela mente, mesmo com o universo - e, junto, o universo de seu corpo - desmoronando e definhando diante de seus olhos, fechados, como a porta que trancou e não soube onde pôs a chave, não sei. Não ousaria sussurrar naquele universo, tendo como partido poder gritar para todos os seus habitantes.
O toque Sagrado que por vezes tentou levar este corpo para junto de sí, para os confins da Terra, também toca imaculadamente a mente pensante e implora para que fique mais uns tempos. Para que acorde, levante e vença, como sempre acreditou que seria. Como se nunca houvesse enfermidades, devaneios e loucuras. Como se não houvesse consequências para os terríveis e temíveis atos. Pois o corpo viril que levanta, marcha e suporta, tem a mente sábia, astuta e audaciosa.
E eu, hoje, sou somente espírito. Atravesso a porta trancada como se não a existisse e olho a minha imagem. O retrato de mim mesmo preso entre lençóis, vinhos, refeições baratas e cálices. Embriagou-me, como diz marcado em meu próprio braço. Calix meus inebrians. Tão grande foi a determinação no saber que, finalmente soube, entretanto, que de nada valem as teorias sem experiências práticas. Finalmente estou de volta para amparar neste leito meu próprio eu perdido em meio de amores, em meio de solidão.
Como senti minha própria falta e como ansiei por me encontrar novamente. O mais estranho é me encontrar justamente quando estou perdido, prestes a me entregar à eternidade.
Mas e a vitória há tanto requerida? Entregar-se é mesmo a solução? Digo a mim mesmo, por telepatia, que não. Uma mente que formou uma opinião após deixar várias opiniões por formar não pode desistir justo agora, que um aliado - o mais importante - está de volta para proteger o seu flanco. Como partes de um inteiro.
E mesmo que ainda não nos fundimos novamente, minha jornada agora é outra. Simplesmente caminhar lado a lado do meu corpo e levá-lo de volta ao esplendor dos campos e dos prédios altos da cidade.

Para levantar, caminhar e vencer.




Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, novembro 10

Jogo da vida.

Cabeça baixa, olhos atentos às cartas na mão. Não há nenhuma idéia mirabolante desta vez. O cigarro preso à boca queima sem um trago sequer. A garrava do wisky de vinte e tantos anos está seca. É preciso que esta mão seja ganha, pois a última e a penúltima foram perdidas. Com a derrota, perdeu-se um pouco das suas atividades diárias. Agora está tempocioso, contudo, com mais tempo em pensar no seu próximo movimento. Os adversarios são implacáveis. O Destino é um blefador nato e o futuro é imprevisível, fazendo jogadas surpreendentes quando se menos espera. Tenho como parceiro, entretanto, a doce e experiente Esperança, que já me ajudou a virar este jogo quando eu estava passando por maus bocados. É o jogo da vida e a minha vida está em jogo.
O chapéu de bohemio cobre a cabeça pensante, que pensa, pensa e raciocina. Não se deve olhar nos olhos do Futuro e tão pouco acreditar no olhar do destino. Compra-se uma carta da pilha e de lá sai um belo e maravilhoso coringa. Uma idéia nova surge à mente. Uma capacidade de mudança, de aprendizado e de fortuna. De tantos e tantos jogos que aposto, este não é o meu predileto, mas o mais importante. Lembro-me dos tempos em que o Fururo me parecia previsível e o Destino insignificante. Até a Esperança rendia-se às minhas mãos e admitia que não era ela a pegar sempre o último morto. Canastras e mais canastras na mesa, pilhas de fichas junto à mim.
Entretanto, como todo jogo, há dias em que a sorte não está do nosso lado e que os adversários levam vantagem. Logo, é preciso pensar com essa pensante cabeça escondida no chapéu. Deixar que queime a chama do cigarro da Esperança, que beba do copo da Sabedoria, parceira de tantas e tantas partidas. Pois tenho em mim todas as coisas boas do mundo. Tenho em mim um pouco do melhor de cada jogador. A astúcia, inteligencia, imaginação, força. Ainda estou vivo, correto? O jogo ainda não acabou para mim.
O coringa, num gesto de loucura, descartei para o adversário. Minha mão é melhor. Confio no que eu consegui reunir durante todos estes anos. Na vida temos que abrir mão de uma peça individual às vezes. Perder também faz parte deste jogo. O mais importante é sempre saber quando se está perdendo e onde, em que momento, você deixou os adversários virarem o jogo. Não há estratégia melhor do que se conhecer bem, pois no jogo da vida você é sempre seu pior inimigo. Consequências de adversidades partem sempre de nossos próprios atos.
Minha mão está fraca, perante a dos outros jogadores. Estou nesse buraco que agora que parece não ter fim, tendo que dar o que eu tenho de melhor para os outros sem receber nada em troca. É ingrato, ás vezes, este jogo. Mas tenho que jogar, preciso jogar. Preciso viver. Levantar da mesa agora é o mesmo que apunhalar meu próprio peito e adormecer eternamente. MInha parceira Esperança pode ter uma boa jogada à qualquer momento. Eu sei o que estava errado, agora vejo. Vejo que os erros que nós cometemos causam vergonha e o orgulho faz com que nos sintamos derrotados. Esta partida está acabando, não se pode fraquejar. Escondo meus olhos marejados e olho fixamente para minhas duas únicas cartas na mão. Falta somente um encaixe para tudo dar certo e eu limpar a minha barra, a minha canastra.
Das cinzas, surge a Ave Sagrada. Da escuridão, surge o sol radiante.
Do fracasso, surgirá um vencedor.




Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, outubro 31

Salvando almas.

Não pode chover todos os dias. O sol também há de brilhar. O céu também há de se abrir, de sorrir, de mostrar e se mostrar grandioso. A tristeza não dura para sempre. O medo não assombra periodicamente. Não há forma, cheiro, gosto. Não há resposta estampada nesse rosto de faces distintas. Assim como os lados da moeda que gira no ar antes de definir um vencedor. Antes de mentir, diga a verdade. Somente a verdade, nada mais que a verdade.
Digo que temo. O temor me faz sair do chão, de ódio e de desespero. As palavras cessam e a cada tentativa frustrada de dizer qualquer coisa que está presa dentro desta mente inconstante, é uma dor terrível. Como seria tudo mais fácil se as coisas ruins de nossas vidas fossem expulsas com detergente. Como eu gostaria de desengordurar toda a minha mente imunda, indiscreta e alucinada. Como eu queria fechar os olhos e não conseguir enxergar o futuro.
Ventos ruins sopram em minha janela agora. Aperta o peito a tranca da sensibilidade. Não consigo pensar, não consigo agir e tão pouco reagir a nada. Passivo, omisso, preso, pequeno, infértil. Não sou nada mais do que um ser no meio de tantos bilhões. Um ponto invisível visto do céu, visto da tempestade. Que caia um raio sobre minha cabeça. Que molhe os lenços e os lençóis com estas lágrimas batidas, rendidas. Que seja salva a minha alma.
Luz, clarão.
Já pensou na possibilidade de fazer diferente à partir do agora? Já se olhou no espelho e viu um derrotado? Já pensou em enxugar as lágrimas que estão caindo, ainda, sem motivo? Então porque não tenta? Porque não luta mais? Porque não se ajoelha e junta forças em uma única palavra para se levantar e começar a encarar de vez essa verdade. Perigos sempre existirão, dúvidas também. Mas na dúvida das dúvidas, porque não criar uma própria certeza? Aquela mesma que já fora criada anteriormente e que somente quem consegue o entendimento, quem consegue olhar para a luz, encontra. Pense no quanto de bom foi feito em toda essa estrada. Pense positivo, pense à diante.
Houve um homem que desbravou o medo e não temeu pela morte. Saiu com sua espada desembainhada e trespassou todos os monstros. Venceu e foi vencido somente pelo cansaço e pela necessidade de recomeçar. A luta pela vida é eterna, até a própria morte chegar. Quero ser como este guerreiro. Quero vencer meus próprios medos, dobrar o impossível ao meio. Só eu sei o quanto além posso ter e posso querer. Somente eu posso mudar os planos, mudar meu próprio futuro.
Eu não vou cair. Eu não vou perder. Eu não vou desistir. Eu não vou me render.

"Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido." Salmos 91:7
"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo." Salmos 23:3


Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, outubro 24

Lovely Message.

Dear Mônica,

It's a pity we can't see ourselves. I don't like this distance between us, the short time to talk to you. I didn't answer your e-mails because I'm working 24-7. My life is very busy and I miss you every single day. I wanna take back your body close to my body, your lips kissing my cheeks. Living away from you is so hard, but it takes.
I'm counting the days for you to finish the college and come to live here with me. My family is waiting for you too. When I look at the empty bed, I think "Why are you so far?" Living alone is very sad.
If I can´t read your answer after this message, don't worry. I am preparing a surprise for you soon. I don't want to write anything more because I'm almost crying.

 I love you.



Think what you want. (Y)

sexta-feira, outubro 21

Violeta.

Escrever, escrever, escrever e escrever. Nunca mais tive em mãos aquele papel amarelado, tinta fresca e idéias renovadas. Nunca mais pus a mão naquele livro imaginário em que tudo sobre minha vida eu escrevi, escrevi, escrevi e escrevi. O violão envergou, perdeu o som. Arrebentaram-se as cordas como o despertar de um sono daquele sofá. Sonho bom, este. Porque escrever é uma desculpa esfarrapada para dizer que é mentira tudo aquilo que não é e desmentir tudo aquilo que pode ser. Não pode ser. Não. Pode-se ver, sentir e imaginar.  
A sina daquele andarilho que consegue compreender, mas não consegue explicar, o persegue em estradas, trilhas, linhas e entrelinhas. Cada frase é uma nova estrada e cada parágrafo é uma bifurcação. A maravilha de escrever, escrever, escrever e escrever é justamente a opção de ser o que quiser, dizer o que quiser e fazer o que quiser sem deixar de ser, dizer e fazer nada sem sinceridade. A busca, esta eterna busca pelo entendimento, passa a ser somente uma ponte para todo o El Dorado do saber. Se não sabemos respostas, criamos nós mesmos. Escrevendo, escrevendo, escrevendo e escrevendo.
Que assim seja. Meus dedos, já roxos e amassados, suportam até sangrar para conseguir a grande conclusão. Que ser seria essa? Pra que entender a sã loucura de um louco são e salvo pelo instinto intelectual criado pelo Criador? Feito de sua imagem e semelhança. Confuso, irregular, imperfeito e frágil? Ou será que somente nós, pobres seres humanos, estamos deixando de crer na energia que move montanhas dentro de cada um?
Testa suada, olhos fechados. Escrevo certo por linhas tortas. A definição de certo sempre será daquele que escreve. Não que eu queira ou ache que eu seja mais do que eu sou, mais do que carne e osso. Não sou pai, nem santo espírito. Sou filho, imagem e semelhança. Sou farto, forte, viril. Caridoso, cuidadoso, atencioso e gentil. Sou gente, cidadão, ser humano. Sou todo este paraíso que se encontra em mim, “nova-mente”.
Sou aquilo que escrevo, escrevo, escrevo e escrevo. E mais. Em minhas mãos, nada mais e nada menos, há uma espada que desafia o desconhecido e o inimaginável. Folha amarelada em branco, sedenta por tinta fresca e idéias renovadas. Sedenta e faminta por mãos canibais, para que possa rasgá-la e reciclá-la, para que se possa fazer mais um ciclo insano literário. Para que se possa mais e mais escrever, escrever, escrever e escrever.
Pois escrever é, simplesmente, dizer. Não é, nunca, falar.


Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, outubro 11

Dez considerações.

São à partir de pequenas ações que grandes feitos são alcançados. Pequenas peças de quebra-cabeças formam um desenho lindo, mágico e magnífico. São de mangas arregaçadas que vive um trabalhador. Mãos à obra, pois temos muito trabalho pela frente.
Quando aceitamos a condição da espera, esta pode ser longa. E quando desencontros são comuns em nosso cotidiano, justamente é para que o encontro possa acontecer de forma longínqua e duradoura, na melhor da pior das hipóteses. As esquinas de uma noite quente de início de verão passam a ser um martírio, para um coração ansioso em bater e braços ansiosos em abraçar. Lábios ansiosos em moverem-se para dizer qualquer bobagem. A mente trabalhando ininterruptamente, de mangas esgarçadas, não para de pensar naquele telefonema, durante a manhã. Como um choro de um alguém desconhecido pode tanto tirar a concentração, eu não sei. O que mais me intriga é o fato de, com um único olhar saber e conhecer o íntimo daquele ser que sangra cristalino e salgado de dor. Não só de dor, mas de dor, de perda e de ausência.
Entendo como é essa dor. Entendo, também, que esperar nunca foi um de meus melhores dons. Entretanto, a vida é imposta e composta por desafios. Naquele sonho que mais tarde descobriria ser um déjà-vu, não conseguia me recordar da forma, da cor do cabelo ou da voz. Mas o olhar marcou tanto minha memória que eu poderia reconhecê-lo em milhas de distância.
Reconheci.
Conheci nos olhos sofridos mais do que uma razão de viver. Passei a ser uma opção de prioridade, talvez. Não houve lição mais correta do que aquela que, há muito tempo atrás, um capitão disse para seu marujo mais aplicado. O conselho em que dizia que a razão de viver consiste em sofrer. Pois para cada vez que você sofre por conta de uma determinada situação, é porque se não vivenciássemos todos esses infortúnios não teríamos os baús de ouro e todas as recompensas no final dos mares.
Sei bem como é este sofrimento. Sei bem como é perder. Contudo, perder, hoje, fez com que eu percebesse que é preciso se permitir. Mais do que se permitir é ajudar a enxugar as lágrimas de quem nem conhecemos, mas que queremos muito o bem.
A dona daquele olhar, que eu reconheceria a milhas e milhas de distância.



Pense o que você quiser. (Y)  

terça-feira, outubro 4

Cor, ação.

Aquela maquina de fotografar não registrava mais momentos bons. Paisagens eram vagas lembranças de um rapaz olhando para um coqueiro, com um horizonte em pôr-do-sol. Cor de arco-íris, visto da varanda de um salão de beleza, da periferia, com delicadeza. Passaram-se dias, semanas, meses e anos. Passaram luas minguantes, novas, crescentes e cheias. Coração ainda vazio, sempre só, sem preservação. Onde ele estará?
Pensei que vivia sem meu coração. Pensei que meu coração era mesmo aquele que recortei de uma folha de caderno, pintei com uma caneta azul brilhante e dei. Transplantei meu coração e o transfundi em uma composição de sentimentos fortes. Quando meu presente mais singelo foi guardado dentro de uma gaveta e, aparentemente, esquecido, sofri e achei que o perderia para sempre. Achei que ele não estaria mais comigo, me completando, me preenchendo. Enchendo meu peito e circulando toda estas misturas e composições. Onde ele estaria?
Entretanto, depois de tanto tempo, senti meu coração sofrido bater.
Achava que ele não estava mais dentro de mim. Até minh'alma mandei buscá-lo. Mas ele estava, esteve, sempre adormecido, querendo voltar a pulsar todas essas composições e sensações especiais. Repentinamente o corpo voltou a corresponder às preces, aos comandos, e os olhos viram o que nem o mais puro dos corações poderia não sentir. Encontrar aqueles olhos olhando sem medo diretamente para os meus, fez como um desfibrilador. Minhas pernas tremeram como treme a base daquele liquidificador que mistura todas as frutas ao leite, às sensações ímpares que retidas ficaram e ficarão até toda a eternidade. Eterna é esta, a classe dos românticos, dos que sofrem e querem. Dos que gritam e gritam. Dos que, mesmo achando que jamais amem novamente, podem voltar a sentir a mesma euforia do primeiro encontro, do primeiro abraço.
Esta foi a primeira vez, com ela foi a primeira. E a primeira coisa dita ao copo do bar, amigo do peito, da garrafa vazia, foi um "estou apaixonado" quase inaldível. Olhar naqueles olhos me fez perceber que olhar para frente também pode ser uma boa saída para deixar para trás o vago intuito de fazer o coração, de cor e de ação, sentir o que os filósofos explicam - ou tentam - com textos extensos. Uma chance, aquela que há tanto ansiei. Chegou até mim, com aroma doce, voz melódica e toque suave.
Coração, idiota, este. Sem ação, sem cor. Sem denominação. Simplesmente aqui, vivo, bombeando aqueles meus mais íntimos sentimentos. Fotografando, novamente, meus bons melhores momentos.



Pense o que você quiser. (Y) 

quarta-feira, setembro 21

Escolhas e escolhas.

Já não importam os caminhos que escolhemos, quais estradas procuramos seguir e quais obstáculos queremos ultrapassar. O carro que leva mais do que simples histórias, leva para longe um sentimento e um coração que cisma em não querer parar de bater. Vejo quem me ensinou a enxergar a paz em uma canção, em um beijo no sapo mágico, explodindo a própria cabeça com uma arma cujo calibre é a embriaguez. Os quinze minutos de fama viram quinze dias de feridas e quinze anos de ausência. Dia após dia, a dor diminui e a saudade aumenta como a gasolina, a quilometragem.
Sigo no volante, sem controle. Cem quilômetros por hora, sentindo o vento balançar meus cabelos. Apenas olhando para o sol, rubro e soberano no horizonte. Outro dia nasce e eu sigo vazio, com o tanque cheio. Sigo cheio, farto de tanta sobra que há dentro da oficina do Diabo. Preso neste inferno que se chama passado. Em marcha ré, na contra mão. Queimando pneu no barro, no asfalto, na subida e na ladeira.
Um oásis. Refresco a alma em um banho milagroso nas águas da oportunidade. Procuro meu foco em tons de azul. Cristalino, turquesa, opala. É preciso voltar para a estrada, sabendo para onde quer chegar. Escolhendo a estrada em que haverá um alguém de malas prontas e esperando para estender o dedo e pedir para que a leve para qualquer lugar que eu deseje ir. Aventurando-se ao sair de casa e parar na beira na estrada, esperando bater no meu peito e fazer, por ela, meu coração parar.
Hora de partir. O banho nessas águas me fez piscar. E fechando e abrindo meus olhos tristes e cansados percebo que mesmo sendo por uma fração de segundo, muita coisa deixei naquele oásis. Perdi a chave do carro, a chave da porta. Deixei de sentir um pouco mais de brisa, deixei de ver o último raio de sol no céu. Vejo a estrada obscurecida pelos meus receios, assombrada pelos meus fantasmas.
Não vejo mais aquela mão estendida, as malas prontas. Talvez tenha entrado em outro carro, mais novo, mais bonito e mais potente. Talvez eu tenha passado em alta velocidade e não tenha a percebido. Talvez eu tenha piscado justamente na hora em que ela se foi. Ela não está mais lá. Agora, à noite, não tenho farol, não tenho mapa e não tenho bússola. Só sei ir adiante porque é pra onde a minha estrada leva. Rezando e esperando mais um dia nascer, mais a estrada se iluminar, mais uma mão estendida na beira da estrada eu encontrar.

Pense o que você quiser. (Y)

domingo, agosto 28

Batom vermelho.

Não custa nada sonhar. Não paguei nem pelo meu cérebro, nem pela minha maneira de pensar e nem pela minha imaginação. Sou destes, sim. Que sorri para o espelho, que sonha acordado, que finge não ser só para poder ser o que se é. E quando perguntado quem sou eu, digo apenas que basta me dar as mãos e dançar comigo para descobrir, pequena. Podemos dançar ao som da tempestade, ao som das molas do colchão ou ao som do vento, este que adoro. Vento este que trás pra mim sua voz, longe milhares de milhas.
Como gostaria de ver você usando aquele batom vermelho que tanto gosto. Uma pena você dizer que não combina com seu rosto, com sua boca. Que não combina com seu cheiro ou com seu gosto. Vermelhas ficam suas bochechas, quando em uma simples conversa nós simplesmente extrapolamos, conseguindo enxergar além do horizonte. Porque não houve, nunca, sob nenhuma circunstância, horizonte para nós. Logo ali, além, encontraremos nossa recompensa, um pote de ouro, chocolate e umas cervejas. Beberemos e veremos o sol se pôr.
Como eu desejo pegar minha mochila, aquele ônibus que vai pra longe, pra perto de você, dormir, acordar, ver o sol se pôr e raiar, só para te buscar em casa. Você com aquela blusa larga, caindo ombro abaixo, calça jeans apertadinha e um all star. Eu com aquela minha bota velha, um bermudão e uma blusa social - rosa, porque eu sei que você sempre gosta. Com cortejo, te levarei para tirar a sorte em um realejo qualquer, andaremos pela noite iluminadas com as luzes de aço da sua cidade. Como é mesmo aquele barzinho que você vai me levar? Poderemos olhar nos olhos de almas feridas e ver reflexos de uma felicidade perdida em algum lugar dentro de cada corpo de cada planeta individual e particular.
Esta música dançaremos, desajeitados. E quando tocar, sinceramente, mostrarei o meu pé de valsa, como sempre faço em meus pensamentos quando lembro-me de você ao ouvir essa canção. "Swing, swing, swing the spinning step. You wear those shoes and i will wear that dress". Somos somente isto. Assim, pedaços de dois inteiros distintos que por conta de obra milagrosa do destino conseguem se encaixar, assim como a palma de sua mão encaixa em meu ombro, assim como nossos passos entram em compasso, mesmo que não seja o mesmo compasso da música. Quero ver o seu sorriso misterioso de perto. Desvendar os segredos e dizer que eu acertei em cada opinião que tive, no duro. Depois disso eu entregarei-me à noite, às bebidas, só desejando acordar em qualquer quarto no dia seguinte, vendo um breve sorriso naqueles lábios em que não haverá batom vermelho, porque não combina, mas que me conquistou mesmo assim.
Nada é em vão. Toda regra tem exceção. Se somos a falta de regra, a falta de fartura e a falta de opção, se não somos quem queríamos, se não temos nada que não seja o outro, que não seja este vazio, então vamos nos preencher. Vamos bater no portão do outro, na porta do coração. Não custa nada dançar. Em sonho, em pensamento, em imaginação. Mas só enquanto a realidade descansa, como nossos corpos descansam agora.



Dedicado à liberdade e ao perfume de Mônica Aguiar.

Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, agosto 23

Ponto de partida.

Eu pus, passo à passo, milhões de milhas sob meus calcanhares. Enfrentei chuvas e tempestades, mas também tive o prazer de ver inúmeras vezes o sol se pôr. Incontáveis foram as vezes em que me decompus, dilacerando-me com as chacoalhadas dadas por este liquidificador chamado vida. Recompondo-me, peça por peça, usando a pouca cola chamada esperança que tinha guardada, e que ainda não se acabou para que eu possa me colar, caso precise, até o fim da minha vida.
Um dicionário de questões, frases prontas, sem respostas, simultaneamente. Dentre essas afirmações, fica aquela que diz que o mundo sempre gira e volta para o mesmo lugar. Vão-se as estações, mas elas sempre retornam. Foi naquele rigoroso inverno, lembro muito bem, que decidi começar a caminhar. Pegar minha mochila e partir pr'além mar. Desbravar o desconhecido e chamá-lo de lar. Esquecer tudo o que deixei, tudo o que me deixou. Imaginar que o horizonte é uma cachoeira e que eu cairia num abismo sem fim quando o fim chegasse. Navegando às cegas, sem a Estrela que guiava os passos do meu coração.
Vaguei desordenadamente, infeliz, infelizmente. Conheci e experimentei todas as coisas mais banais que o mundo pode oferecer. Comi farelo com porcos, dormi de cabeça para baixo com morcegos. Fui chacoalhado, dilacerado, tentando esquecer a dor que é não enxergar. Se for pra ficar cego, prefiro que seja pela luz do que pela escuridão. Contudo, nem sempre o que queremos é o que conseguimos. No escuro fiquei, sem ao menos uma estrela para me guiar.
Na escuridão eu meditei. Preso nessa solitária cela de um corpo fechado, sem janela e nem porta neste quarto, pude perceber e compreender que cada passo que eu dei não foi em vão, mas não me levou à lugar nenhum. Salvo e são, quando um fio de luz surgiu dentro de mim e eu encontrei minha prórpia cola, para me recompor mais uma vez. Primavera, verão, outono e inverno novamente. Descobri que dentro de mim posso fazer sempre verão em todas as estações, posso caminhar com destino, para o ponto de partida, naquele inverno que me lembro bem. O ponto em que parei minha vida, achando que estaria começando-a.
O ponto onde eu perdi os meus passos foi justamente o mesmo em que eu reencontrei-os.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, agosto 4

Esses 2.

Por Giselli Duarte.
Dois corações que batem em sincronia chocam-se antes de se distanciarem. A dor, entretanto, é muito maior quando estes rebeldes corações estão longe do que quando um atinge o outro. O choque é a felicidade. Rara e passageira. Acontece tão rápido que nem os olhos conseguem enxergar. Jamais pôde ser visto tanta pureza como se pode com esses dois pares de olhos. Enquanto um par chora, o outro se esconde atrás das pálpebras cansadas. E quando o um desiste de chorar e olha para o horizonte, o outro surge e os olhares jamais se encontram. Jamais se cruzam porque o vento leva e trás o aroma da pele e do perfume.
Dois lábios que se tocam dizem, em forma de beijo, mais do que qualquer sábio diz saber. Duas línguas, quando se entrelaçam, formam mais figuras e fazem mais mímicas do que um palhaço. Pois então que sejam pintados esses dois narizes para que brincar de ser feliz possa ser uma obrigação. Porque quando duas bocas juntas puxam o ar e inflam os pulmões, a canção que pode ser ouvida é emocionante e bela. Onde quer que estejam esses dois pares de ouvidos, estas vozes serão ouvidas.
No fim do dia, deitado na cama, sozinho, pronto pra dormir, um destes dos dois corpos pega seu par de mãos e acaricia os cabelos, imaginando que são as mãos do outro. Nessa de imaginar, o outro corpo sai vagando pelos bares, pensando naquela canção que separados cantavam um para o outro e quando seria o instante em que aquela voz que a janela aberta permite o vento trazer falaria segredos no par de ouvidos que são surdos e não sentem nenhuma boca que não seja a do outro.
Há dois telefones. Dois pares de pernas que se balançam ansiosamente, esperando o aparelho tocar e em seu visor aparecer o nome que a memória não quer lembrar, mas que a vontade de ler é insuperável. Há dois computadores. Vendo as fotos e lembrando do que se deveria deixar guardado, mas que a saudade é invencível.
Duas mentes brilhantes e envergonhadas que tentam usar deste artifício para enganar a todos de que não há saudade, não existe desespero e nem vontade para um novo choque de coração e alma. Que sabe, lá nas entranhas do interior, do verdadeiro significado e do que estes corações acostumados com a dor do vazio precisam para serem preenchidos novamente. Está tudo bem, por fora. Os lábios que procuram outros lábios encontram a garrafa da oitava cerveja. Os olhos que procuram os outros pares encontram um céu nublado. Sorrisos são cobrados, mas sorrisos que não vêm da alma não têm o mesmo brilho.
E esse abismo, esse vácuo, essa ausência chamada saudade faz com que esses dois corpos, duas mentes, dois pares de olhos, ouvidos, pernas e mãos, perguntem-se porque o outro alguém foi parar tão longe e porque estes dois corações não se chocam com mais força desta vez, para tornarem-se livres para se unirem e pulsar o amor, todo amor, de maneira uniforme. Dois corações duros como rochas, esperando que todo o resto destes dois conjuntos complete o simples quebra-cabeça de duas peças: Você e eu.




 Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, julho 28

Pretérito mais que perfeito.

Como seria se não existisse o passado? Viver um dia de cada vez, como se fosse o último, como se fosse o único, como se nada mais importasse. De tudo, de todas as maneiras, de todos os lados. O de dentro, o de fora, ao seu lado, como se não existisse passado. Conjugar os verbos seria bem menos doloroso. Não haveria o “já amou”, tão pouco o “já sorriu”. Apenas saudade, lembrança, aperto no peito e vazio na mente. Ninguém entende. Se o sentimento é uma linda estrada com face para o dia é justamente porque este caminho é íngreme.
Se for pra não entender, prefiro ficar cego. Não quero mais enxergar aquela pele, aquele rosto, daquele mesmo jeito carinhoso e feliz de sempre, mesmo que a felicidade não parta mais de mim, mesmo que não haja mais felicidade em mim, pois esta só existe porque eu tenho uma história pra contar, a mais linda história de amor que ninguém ouvirá. O mais lindo filme, protagonizado por mim, que jamais alguém assistirá. Se disser, ninguém acreditará, entretanto.
Agora, o presente que ganho deste presente frio e completamente envolvente com fumaça densa e névoa de inverno é o abraço da vida. Cada dia um novo par, uma nova nota. Meu cálice já não me embriaga mais, mesmo após tantas e tantas doses de vinho tinto com cor de sangue, com cor de dor. E o “Calix meus inebrians” escrito na pele com tinta preta, cor de tristeza e solidão, não diz mais nada. O castigo maior é já se acostumar a esquecer da dor em outros braços, outros cálices, e não se esquecer de que ainda tenho coração.
Gostaria de não tê-lo, confesso. Contudo, não posso arrancar minha própria alma de seu destino que é vagar a solta, sem voltar pra casa, procurando uma nova razão para voltar a flutuar e voltar a ser feliz. Voltar ao passado para, talvez, descobrir que pra quem sabe olhar pra trás, não há ruas sem saídas. Retroceder. Reconhecer que o passado já não importa e começar uma nova linda estrada ao partir daqui.
Somente o instante em que me embriago com tantas palavras de inconstantes sensações, eu percebo que no passado de ontem estive no mesmo lugar duas vezes. Exatamente no mesmo boteco, na mesma calçada, numa noite igualmente estrelada. O ontem que vivi sem ser entorpecido pelo amor, frio e sereno. O ontem em que o único vermelho que me restou foi o batom daquela boca em meu pescoço, já lavado, já esquecido, como se não houvesse passado.
A outra vez em que vivi, contudo, ainda fica preso a mim, como um anel, como um amuleto. E o cálice me embriagou com o vermelho do vinho, com o vermelho da carta. Com o vermelho de uma vida que foi conjugada no verbo “existiu” e que não existe mais.



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, julho 26

Menino homem.

São muitas coisas passando pela cabeça ao mesmo tempo. Tantas pessoas, tantas ordens, tantas subjeções. Tanto peso para esse menino carregar. Menino com corpo de homem, com mente de homem, com atitudes de homem. Ainda assim menino, entretanto. O rosto vermelho e molhado não são nada mais do que uma distração. Homem não chora. Nem menino que quer ser homem.
Onde há uma bifurcação, se escolhemos o caminho errado estaremos sendo imaturos em demasia. Não escolher nenhum sentido e permanecer estático é omissão e falta de experiência. Homem não erra, não permanece. Ele enfrenta, vence todo e qualquer obstáculo imposto pela vida. Qualquer que seja o caminho escolhido pelo homem será sempre o certo, pois não há decisões infortunas. Movimentos sempre serão frios e calculados. Homem não tem coração.
Se o tom de voz almenta e os gritos tornam-se soberanos, seremos rebeldes e grotescos. Se permanecem-se mudos, seremos medrosos e introvertidos. Homem não grita, nem fica calado. Ele se impõe, é gentil e firme, verdadeiro e inflexível. Sua palavra torna-se lei. Torna-se regra – ou exceção. Meninos dizem tantas bobagens que homens escutam e ignoram. Meninos mudam facilmente de opinião, de tom de voz e sempre serão vistos com desconfiança. Sua palavra não será refletida, não será repetida. Seremos apenas meninos.
Ser homem ou ser menino? Não sei. Ser alguém e representar qualquer uma das duas faces têm sido cada vez mais difícil. É quando a voz do homem se cala e o choro de menino explode na face e escorre até o chão, ouvindo a velha canção que falava do homem que nem por amor chorava, que ninguém pode ser capaz de ver. O homem obtém o que o menino perde. O rosto do menino molham e as mãos do homem secam. O menino sonha e o homem continua atento olhando para a janela vazia, esperando, ansiosamente, este amor aparecer.
Se hoje eu sou um homem, penso como homem e tenho respeito de homem, haverão duas coisas do meu menino que jamais se partirão: Meu sorriso, singelo. Meu choro, vencedor.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, julho 21

Passa tempo.

Passam dias, semanas. Passam meses, passam anos. Passa o trem, passa o carro. Tudo passa. Como nuvem, como vento. Como verdade dita e imposta sobre o tempo. Passo a roupa amarrotada, já lavada, já posta no varal. Já vejo cadente a estrela que plantei, que vi crescer e vi voar. Passam horas, minutos, segundos, frações de todos eles. Já não sei mais o que é relógio, o que é futuro ou passado. Já não sei mais se esse presente que vivo foi mesmo dado, se foi presenteado.  Passa o horizonte para descobrir que a Terra é redonda e que toda a estrada nunca vai ter fim. Passa calor e passa frio, simultaneamente, dentro de mim. Vejo-a passar, somente alma, no universo paralelo, envolto a esse termômetro sem regras. Em meio aos meios, às entranhas de minha própria história.
Sigo, se verdade, a verdade que me cabe no peito. Que pulsa sob a pele, sobre o pensamento, sobre pensamento. Sobra a constante falta de manifestação e torna-se distúrbio o que fora dádiva outrora. Torna-se medo e torna-se pesadelo. Passa a noite, fica a escuridão. A luz do sol me rega, derrama torrentes de calor e meu corpo continua adubado pela fumaça negra de algo maior que a indiferença. Algo maior que a solidão. Solidão que rói que dói. Solidão que me destrói.

Então passo. Questiono-me porque, por mais que eu corra, caminhe e fuja, essa sensação de que é sempre comigo e que sempre serei eu o resultado final dos atos daquela menina, daquela mulher, ainda transfunde-se em toda essa densa fumaça. Porque tudo o que ela faz, ainda, está afetando-me, está completamente presente em minha árdua vida? Todo o desejo de se sentir, de ser feliz, apagou como um sopro simples apaga a chama da vela, da última, carregada com a esperança que coube dentro desta caixa misteriosa que Pandora batizou.
Passa uma mão sobre a outra. Entrelaçam-se e descobrem que estas pertencem ao mesmo corpo só e confuso. Tateia a caixa e descobre que agora ela está vazia, sem cartas, sem vestimentas, sem amor. Apenas fumaça. Cinzas de uma brasa incandescente em um tão distante passado próximo. Pois parece que são centenas de quilômetros que separam duas almas que estão ao alcance de um passo. No universo em que eu criei – e que acredito – não há entrelinhas que as linhas do mundo real tratam de subjugar. É um diálogo. Íntegro, firme, direto, objetivo.
Passa a sensação, passa a vontade. Fica o que tiver que ficar, o que for verdade, o que for essência. Fica o desejo e a saudade. Fica, “nova-mente”, o "até pra sempre".






Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, julho 18

Em tom de respostas.

Busco, em tom de respostas, em livros e revistas, um ideograma para ideologia. Quero tatuar em minha pele, meu peito, a bandeira que carrego nas costas, que envolve-me e aquece-me. Preciso identificar meus ideais e minhas ideias. Mostrar que minha identidade não é somente mais um papel com foto, com indicação à qualquer prêmio e promoção. Quero marcar de maneira diferente. Marcar-me. Escrevendo com tinta preta, manchada, tudo aquilo que quero dizer sem que precise ser exilado, como muitos de meus heróis foram. Aqueles que viveram e vivenciaram a indiguinação de seu povo, com sua marcha, com cores estas que carrego em uma bandeira nas costas.
Os inimigos assombram os pobres e ingênuos espíritos mortais. Mostram a face do Diabo que mora dentro da casa do nosso Senhor. O mal agora é recriminar a religião do outro, a opção sexual do outro, a cor de nossa pele. Se Barbosa defendesse aquela bola, seu prêmio não seria nada mais do que o esquecimento. O índio morreu, queimado. O povo, omisso, sem voz, calado. Parado esperando o dia do juizo, sem saber que as trombetas prometidas pelos céus são anunciadas pelos mesmo farsantes que engordam suas contas bancárias com dízimos.
Não entendem que a passeata cuja bandeira de arco-íris que envolve e aquece tantas pessoas não passa de uma manifestação à favor da igualdade. Passeata colorida com verde, com seda, com sabedoria. O que todos querem é direito de expandir mais suas mentes, conhecer e compartilhar novas histórias. Mas as serpentes estão à solta, esperando para dar o bote.
Liberdade em troca de dinheiro. Sempre foi assim. O mais rico manda no país e qualquer "galo" na mão do policial nos tira da blitz. Cobras sedentas por presas fáceis. Houve ainda quem disse que o grande problema do ser humano é não crer no Todo Poderoso. Eu vejo, entretanto. Posso ver o Todo Poderoso dos muçulmanos, dos budistas, dos hinduístas. Cada qual com sua forma, com sua reza. Todos faces de um denominador comum.
"C" de covardia, "A" de amargura, "P" de prisão, "I" de ignorância, "T" de tortura, "A" de atraso, "L" de luxúria, "I" de inconveniência, "S" de suborno, "M" de mentiras, "O" de overdose. Overdose de poder, mentiras em fartura. Seguindo o caminho inverso, encontramos mais "P" de podridão e "C" de criminalidade. Mais um alfabeto inteiro de uma única palavra que cega todos os seres humanos fracos em demasia para entender que não importa qual é a cor da pele do rapaz ao lado, ele não é um criminoso.
Por isso que eu quero tatuar. Quero um ideograma para minha ideologia. Uma ideologia de ser humano católico, mestiço, brasileiro, trabalhador, heterossexual, sem vícios, mas que compartilha com todos os alternativos deste mundo um único anseio. O de liberdade.
Minha mochila está nas costas. Não estou fugindo. Quero conhecer mais.




Pense o que você quiser.

domingo, junho 26

Jogando o jogo.

Têm acontecido sempre as mesmas coisas. As cartas mudam, as pessoas e os dias também. Contudo, eu ainda permaneço nesse jogo repetitivo e sem alternativas que não consigo parar de jogar. Um telefonema para ela. Logo consigo encontrar um lugar para mais uma longa noite de sensações intensas.
A cada toque em sua pele, vejo os pelos do seu corpo corresponder com arrepios. Eu sei jogar este jogo. Conheço cada centímetro de corpo, de tabuleiro, e sei dispor todas as minhas peças com facilidade. Apagar as luzes e ligar a música com baixo volume. Sempre as mesmas canções. "The Beautiful Girls". Para lindas garotas. Como num dia claro, de céu limpo, ou numa noite tempestuosa. O cenário sempre muda, pessoas também. O cenário sempre muda as pessoas também. Aquela mulher recatada e tímida, anseia pelo apagar das luzes e a vibração da música.
A dança suave de mãos começa lentamente. Dedo por dedo, palma. Pelo rosto, lábios, roupa. Com a majestade e delicadeza de um rei, tiro-lhe a blusa já suada. Desprendo o sutiã com a maestria de um regente e faço-o deslizar por toda a extensão do corpo, para cair esquecido no chão. O coração bate mais forte e a disritmia aumenta. Em uníssono, nossos gemidos ecoam pelo aposento iluminado somente pela luz da lua e contrastam harmônicamente com a "Manhã de Sol". A cama está à espera e esta é a parte do jogo em que pego-lhe com firmeza e faço ambos os corpos repousar sobre o colchão macio.
Uso o verbo, baixinho, em seus ouvidos. Uso a boca. Com sua boca, com seu pescoço, seus seios. Com a minha mão, sinto seus lábios sendo mordidos por seus dentes carinhosamente. O êxtase está sendo injetado neste corpo feminino sob o meu e a cada fisgada de prazer tudo vibra e se contorce. As pernas se contraem e os braços abraçam meu corpo. Unhas arranham minhas costas e puxam meus cabelos. Estou jogando, estou vencendo. Como sempre.
Os gemidos começam a aumentar e dominar o ambiente. "Aprenda quem você é". E eu aprendo mais de prazer cada vez que escorrego meus lábios pela barriga, virília. As súplicas daquela pobre mulher, vencida pelo tesão, por pouco não rompem meus tímpanos. Implora para que eu explore seu íntimo com ferocidade, que façamos de nossos corpos um só. Eu obedeço. Esta é a parte do jogo em que ela escolhe pra onde eu movimento minhas peças.
É intenso e duradouro. Rápido passa o tempo, tornando-se um momento mágico em que o jogo chega ao fim num estalar de dedos. Relaxam-se os corpos. Troca-se as posições. Antes de reorganizar as peças para uma nova partida, posso sentir aquele corpo de menina deitado sobre o meu, de olhos fechados, imaginando qualquer coisa e falando qualquer bobagem. Eu não escuto, nunca escutei. Meu olhos estão em desfoque, longe. Pensando e imaginado como seria, se todo esse jogo fosse mais poético, como sempre quis que fosse.
Com quem sempre quis que fosse.



Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, junho 24

Narcótico esferográfico.

Sentado. Olhando. Sozinho. Vazio.
Palavras que não se encaixam em uma frase com conjunto harmônico. Não são notas musicais, tão pouco formam uma sequência simétrica. Vejo, hoje, subitamente, após tantos e tandos dias sentado olhando o vazinho sozinho, o quanto a vida pode nos reciclar e o quanto eu posso estar errado sendo tão inflexível. Todos os dias, naquele banco de praça, vendo o saxofonista de cobre. Vendo gente e gente me vendo. Vendo todos os tipos de vícios. Vendo brejas e vendo fumaça. Vendo fumaça fria, dançando com pássaros e com a nossa atmosfera.
Ontem eu fracassei. Olhei minha mãe fumando aquele seu cigarrinho de após o almoço e esbravejei. Minha namorada também já foi vítima dos meus ataques de fúria, após vê-la com o mesmo cigarrinho em mãos, escondida de mim. O que nunca percebi, foi o quanto pode ser difícil largar os vícios. Quantos amigos não conseguem largar a garrafa de vodka das mãos. E quanto eu já tentei tirar todos de suas perdições, achando que sempre fui livre de todo e qualquer tipo de mal.
Jamais notei que quando fico dois dias sem pegar no caderno e escrever uma frase boa sequer, meus olhos desanimam e minha mente pesa. Simplesmente necessito, mais e mais, em ver meu caderno preenchido com todas essas bobagens que me fazem respirar e me sentir vivo. Se saio sem minha mochila nas costas, parece que o mundo fica mais pesado e meu corpo sente a ausência de um braço. Logo eu, achando que é fácil abandonar tudo aquilo que faz mal e que o mal é apenas o que a sociedade impõe.
Hoje eu percebo. Escrever é meu vício e me aventurar pelas ruas sinuosas e obscuras do centro e dos ônibus são minhas necessidades. Quando me sinto preso me sinto mal e me sinto como se fosse inútil. Todos precisam de seus momentos de total relaxamento. Agora eu entendo. Faço mal a mim mesmo em toda essa loucura de escrever textos extremamente românticos.
Pois o amor é ruim.
Ainda não aprovo todas as coisas. Minha mente impenetrável ainda não conseguem aceitar certas idéias. Contudo, agora eu vejo o quanto é horrivel viver sob pressão. Sem fazer o que se quer, quando se quer, quando se pode. Quando não se deve, inclusive.
Sentado, olhando a fumaça subindo e dançando, eu percebi que me sinto vazio sem minha caneta, sem meu papel. Que não consigo ser eu mesmo quando não escrevo, quando não penso, quando não imagino. Não quero largar, não quero deixar de usar essa droga tão boa e que me acalma, me acolhe.
Agora eu entendo. Não perfeitamente, mas entendo. Precisamos de uma fuga. Precisamos de um pouco de paz, fazendo qualquer coisa que se quiser. Como pensar.

"Nota: Este texto faz, hoje, um ano de existência. Por ironia do destino, encontrei-o em meus arquivos num momento em que realmente lhe caiu bem. Quando escrevi o original (este eu mudei um pouco o primeiro parágrafo), pensei em publicá-lo somente quando estivesse completamente convencido de que meu vício realmente era a escrita. Não estou fazendo apologia a nada. Quero somente que as pessoas façam de suas vidas o que acharem melhor. Eu melhorei. Agora eu aprendi a aceitar melhor as coisas. Espero. Obrigado, mais uma vez, a todos os leitores do imaginadongo."


Pense o que você quiser. (Y)

Passagem para: Liberdade.

A fila é grande para se comprar mais um ticket. Outra passagem, após dias, semanas, meses de espera. O tempo é curto se compararmos à espera que tivemos para poder partir. O tempo sempre é mais curto quando estamos em paz com nosso interior.
Este nem parece ser aquele mesmo homem que chorou nos braços da mãe natureza e a viu chorar e dividir suas tempestades internas. O vento trouxe a chuva que é o choro do céu. O mar mostrou sua face, sua fúria, tomando para sí o asfalto construido pelo homem. Nem parece ser aquele ser "eu" sem ser "você". De tanto perecer, tornou-se pó. Voltou para terra e se desfez. Refez-se. Como tantas e tantas vezes antes, como a ave mitológica e sagrada, agora inflama suas asas e começa a batê-las. São sempre as mesmas formas, as mesmas situações. O ciclo se repete. A cadeia de acontecimentos, como a natureza quer.
Jamais pude ver este rapaz do jeito que ele está agora. Dono de uma confiança que nem ele mesmo acreditava ter. Temeroso quanto ao futuro? Pode ser. Contudo, o que importa é que ele aprendeu que caminhar para frente é necessário e desvendar o misterioso também. A vontade de rumar pronde o nariz apontar primeiro sempre existiu. O ticket de viagem que ele comprará nesta fila só desvendará seu destino quando ele chegar no guichê. Não importa o lugar. O que importa é a realização de mais um pequeno sonho.
Um ensaio para fazer pra valer no futuro. Pois ainda existem coisas que prendem esse ser solto. Existem responsabilidades e dose de prudência. Mas sua mochila, seu violão e sua vontade de desbravar este ponto azul no meio do universo estão à espera deste corpo necessitado. O tempo é curto, se compararmos ao tamanho de nosso pequeno ponto azul chamado Planeta.
O tempo é curto, mais uma vez. Sempre foi e sempre será enquanto estivermos em paz com nossos ideais. Mesmo os períodos de crise, em que o tempo parece estacionar em nossa porta e permanecer ali quase que eternamente, percebemos que o tempo passa depressa. Vivo de pressa, de correria, de tempo curto. Pois há muito desejei estar nessa fila, para comprar mais um ticket, para mais uma viagem sem destino. Pois não há destino melhor do que a liberdade.



Pense o que você quiser. (Y)

domingo, junho 19

Sem horas e sem dores.

Por Wall Oliver
Se sorri, foi porque chorava. Se chorei, foi porque estava sorrindo. Não sei o que houve, não houve nada, pra falar a verdade. Só sei que, em mim, estava tudo aquilo que me cabe. Coube, em mim, tudo o que não cabe na dispensa. De todas as formas, de todos os momentos. Um pequeno ovo se quebrando e mostrando a face mais pura da vida. Meu início, meu nascimento.
E como uma pedra jogada no rio, minhas águas vibraram a cada saltitar, a cada abraço. Seguindo fielmente o compasso da canção. Do salto, do chão, do ar, do chão. Do impulso. Disparava meu coração, meu pulso firme, jogado para o ar. Jogado eu fui, diversas vezes. Contra a parede, contra o próximo. Vi meus irmãos jogando-se ao chão. Pesadelos e sonhos. Tudo uma coisa só.
Mas faltavam algumas coisas. Uma parte que eu não tinha levou minha metade que quero de volta. E quero inteira, novamente, minha outra metade. Enquanto ela não volta, minha certeza e contradição não têm cura. Não há palavra, não há pena, não há sonho e nem flauta pra se tocar. Faltava o passarinho recém nascido começar a cantar, começar a bater asas. Sua voz ainda é tão fraca, e o barulho da lona, do circo, é tão alto! Falta uma chance. Encontrar um vácuo no meio de tanto oxigênio. Encontrar silêncio em meio de tanto esporro.
Silêncio.
Uma luz se acendeu. Ascendeu, esta luz. E a voz, o grito, ecoou perfeitamente, milagrosamente, no meio daquela fração de escuridão. Medo e desejo somos. Vontade de ver os desejos se realizando, mesmo que sejam tão poucos e pequenos. Não houve nada mais importante do que me ver refletido naquela canção. O pássaro se transformou. Virou um vaga-lume.
Brincando entre os campos de tantas outras luzes acesas, o vaga-lume ouviu seu hino, sua própria canção. Mais uma vez, este pedido foi concedido. O desejo se realizou. E o destino fez com que a memória unisse o futuro, presente e passado num único momento. O momento em que nada importa e que todo aquele mar de gente parece ser parte de você. Como se fosse um espetáculo para uma única pessoa cantado por ela mesmo. Nem teatro e nem magia conseguem explicar o que acontece nessa hora. Nem palhaço, nem fantasia.
Vi lágrimas do mais forte dos homens. Vi uma unção de almas. Uníssono, todos clamando por mais um pouco de amor, um pouco de paz. Aquela paz que só se consegue quando muitos corpos se abraçam e giram. Na varanda, na palavra, na respiração.
Às vezes, contudo, quando falta uma única pessoa, parece que o mundo inteiro está despovoado. Mas não me faltou nada. Tudo o que preciso está dentro de mim. Coube tudo aqui dentro. E só enquanto eu respirar, me lembrarei. Um dia, as pessoas irão entender porque todas essas passagens musicadas por um cara lá de Osasco e sua trupe me comovem tanto. Todos saberão.
É a melhor forma que tenho para agradecer e explicar o que sinto. Hora de ir embora, mais uma vez, com a alma lavada e limpa. Livre.



Pense o que você quiser. (Y)

domingo, junho 12

Nas trevas, o vento.

A hora de dormir é quase a mesma que a de acordar. Um turbilhão de responsabilidade e seu inverso me tira para dançar. A sinfonia dos loucos sãos, dos que caminham de perna manca pois não conseguem se manter em pé. Minhas pernas são firmes. Meus olhos estão atentos. Uma ordem repassada que atravessa as minhas logo perdem o valor. Eu estou no controle. Minhas pernas ainda estão eretas, firmes. Meu corpo dói a todo instante. Há muito não sei o que é poder sonhar. Nem sonhos bons, tão pouco aqueles pesadelos maravilhosos. Meus olhos não se fecham por mais tempo do que um piscar. Minha vida está fadada ao progresso. Doloroso caminho à se percorrer, chamado progresso.
Estou preso, como o vento está preso ao ar. Preso em uma liberdade que assusta, de tão grandiosa e valorosa que é. Apesar de não poder fechar os olhos e repousar, sinto cada dia de fúria dentro de mim, de todas as maneiras. Assim como eu. Pois sinto tudo de todas as maneiras, vivo tudo de todos os lados, sou a mesma coisa de todos os modos possiveis ao mesmo tempo. Realizo em mim toda a humanidade de todos os momentos. De todos os dias e noites em claro, de cada partícula de cada segundo de cada fração. Num só momento difuso, profuso, completo e longíquo.
Vejo a rua deserta. Sinto o frio do vento das trevas. A noite me acolhe, solitário. Espero, cercado de pessoas, a hora de repousar em minha cama. Espero e vejo a fumaça subindo. O cigarro aceso na mão do estranho me faz ver e sentir a vibração do frio do vento das trevas. Serei um oceano em meu quarto, quando repousar. Serei um furacão. Não sei o que escrevo, não sei mais pensar.
Tudo o que eu quero é que não me esqueçam. Estou de pé, firme, esperando o meu progresso e o meu regresso ao lar, para minha cama. Posso fazer chover, fazer a neve cair. Basta eu continuar a caminhar. Basta eu esperar mais um pouco. O inferno queima todo o meu corpo lentamente. Estou livre dentro de um incêndio de tortura e sacrifício. E quando eu chego ao ápice, pergunto a Deus porque ele me escolheu para isso. Porque eu resolvi percorrer esse caminho tão cheio de pedras, tão cheio de cacos de vidro e de espinhos. Quero sangrar, quero ingressar na selva. Quero sobreviver.
Quando penso em tudo de ruim que fiz, o quanto eu pude ser monstruoso, recordo-me que apenas quis me defender. Defender meus próprios interesses. Na verdade, nunca pensei em ninguém antes de pensar em mim. Essa é a verdade e eu assumo-a. Quando me questiono, logo, se tudo que sofro, se minhas olheiras, é por castigo divino, recordo-me, contudo, de tudo de bom que já fiz e de todas as pessoas que ajudei, ensinei e doutrinei.
Este não é um castigo, mas sim uma provação. Enquanto não posso dormir, resisto, de pé. Minhas pernas ainda estão firmes e eu estou vencendo. Sim, eu vou vencer.



Pense o que você quiser. (Y)

domingo, junho 5

O grito.

Da tempestade nasce o arco-íris.
Aos poucos o coração deixa de bater com ferocidade e com o tempo o corpo fica frouxo e repousa. Os sentidos se relaxam e a cabeça esquece, um pouco. Tudo vai se esvaindo lentamente, escapando pela torneira improvisada e criada emergencialmente. Noites difíceis estão por vir. Portanto, melhor deixar de lado um pouco deste excesso de sentimento que ainda há.
A vontade de gritar, após alguns inaudíveis, é enorme. Poder, desta vez, abusar de toda potência vocal e explodir vidraças. O grito de "eu te amo" que está preso e acumulado precisa sair. Contudo, o que sai é apenas um punhado de ar de suspiro de saudade. A areia fina que desce pelo pequeno orifício do relógio, cai mais rápido do que o tempo que passo sem viver. A ampulheta não vira sozinha, o jogo não muda sem luta, sem entrega.
Dissiparam-se as núvens. Um novo dia está nascendo.
Inspira, respira. Inspira e prende. Não quero lembrar, não quero saber. Nem que sejam por somente alguns instantes. Ao abrir meus olhos, de súbito, após mais um de incontáveis sonhos bons, tenho a convicção de que serei uma pessoa nova. Um ser que está no meio do furacão mas que também é o próprio redemoinho de rajadas de vento. Devastarei. Descontarei em tudo e em todos, afim de me libertar deste mal e voltar a ser brisa de verão. Estou no ponto mais alto da bipolaridade. A cura é a insanidade. Loucura e inconsequência me levarão ao Nirvana do entendimento e compreensão.
Sol forte. Queima a pele de quem sai para viver.
A recompensa não é sempre reluzente. Um aperto de mão vale mais do que uma moeda. Um abraço vale mais do que um aperto de mão. Uma palavra dita vale mais do que uma escrita, como disse Branco, tempos atrás. Não é preciso ver? As coisas mudam e o furacão leva as questões de outrora. Minh'alma clama por sons de idiomas diferentes. Ecce sentiant animo finxerunt. Essa frase soa muito melhor na língua mãe.
Cai o sol. Reinam as estrelas. Destas, após dias, restam apenas poucas, pois as núvens agora imperam no céu. Dias nublados, noites com trovões e raios. A tempestade.
Jogo, mais uma vez, essa mesa para o alto. Quebro-a, novamente. Grito. Grito até que o "eu te amo" tome qualquer outra forma compatível com minha garganta e pregas vocais, para que possa ser expelida. Pois nada faz sentido. Grito mais e mais alto, na esperança de que alguém tome conhecimento da minha loucura e me dê remédios para dormir. Dormir sem sonhar aqueles sonhos bons, que me fazem acordar e querer gritar uma frase que não consegue ter encaixe mais em minha boca. Que não tem mais destinatário.
Não pode ser entregue em qualquer casa. Pois é puro, é raro. é simplesmente singular.




Pense o que você quiser. (Y)

Se for pensado.

Penso. Penso e logo existo. Logo, existo e tento utilizar essas palavras que penso, a cada fração de tempo e a cada sílaba que forma palavra e que forma frase. Que forma o raciocínio, logo. Existo porque logo penso em decifrar os misterios de minha cabeça, de minhas idéias e do chão onde piso. Molhado, o piso suga o sangue derramado por meu corpo, meus olhos tristes e minha mente prestes a explodir de tanto pensar. De tanto existir penso que posso, talvez, ser um fantasma, ser qualquer um. Ser ninguém.
Mas eu sou. Ou melhor, eu fui. Um dia, fui uma pessoa feliz e completa. Um dia fui um inteiro e a outra metade de outro inteiro. Fui coletivamente individual e compartilhei e desfrutei de um corpo que não é meu. Que não é mais meu, mas que já foi num passado não muito distante. Que não é mais meu, mas que sempre será em minha memória, em meu passado, em minha história.
O passado que se vive, nem sempre importa tanto. Mas quando o passado persiste em se manter em nosso presente a cada esquina que viramos, a cada palavra que pronunciamos, a cada pensamento, tudo o que nos deveria restar era aceitar este fardo - ou dádiva - e seguir em frente. Em frente, pra frente, adiante, para o futuro. Contudo, estamos presos. Eu estou preso, imóvel, impossibilitado. Essas idéias intermináveis que me fazem pensar e que fazem existir minha escrita, que me fazem existir e me faz ser aquilo que escrevo, brotam como a água brota de uma nascente, iniciando o fim de mais um ciclo. Nova e novamente penso. Nova e novamente existo, logo.
A distância infinita entre o norte e o sul é apenas um passo que atravessa a linha do Equador. Fogo se faz com uma única faisca e um pouco de palha. Nem tudo é tão complicado. É complexo, isto que sinto dentro de mim. Resumir em uma palavra, em quatro letras, em uma certeza e um medo, uma dúvida. A espera para que essa agonia acabe e que eu volte a ser quem eu sou, quem eu era, quem eu sempre quis ser. Lutar contra não adianta. Lutar à favor não resolve. Esperar é a única solução. Talvez ter fé, mas é difícil, depois que já tive serenidade, coragem. Sabedoria, talvez.
Sabedoria pra saber que eu existirei enquanto eu pensar. Que eu pensarei para existir e para fazer minhas ideias fluirem. Na minha cabeça, no meu raciocínio, que seca o chão molhado de lágrimas que derramo todas e de tantas vezes que quero ser quem mereço. Que não arrume desculpas para fechar os olhos e dormir, achando que o dia de amanhã será melhor, será mais feliz, será meu.
Pra escrever, logo, não preciso pensar nem existir. Não preciso de nada, pois meus sentimentos são aquilo que escrevo e pra escrever só preciso ver. Sentir e imaginar.


Pense o que você quiser. (Y)


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