domingo, dezembro 26

Reflexos e reflexões.

Minhas pernas estão cansadas.
Caminhar exaustivamente por uma estrada que não é a minha, tomando atitudes que vão totalmente contra a minha natureza e a natureza de meus antepassados. Sem descanço ou folga. Sem regalias ou exceções. Sem documento. Sem identidade. E a pergunta que sempre martelou os pregos e até os parafusos da minha mente cessou, de súbito. "Quem, realmente, sou eu?" Eu ainda não descobri, mas também desisti de querer saber.
Hoje, fitando o espelho redondo das revelações, vendo um universo ainda mais branco do que costumava ver, olho uma imagem de um ser maltrapilho. Por vontade própria, é verdade. A barba não é feita há semanas e os cabelos não são cortados há meses. Três ou quatro? Se fosse a mesma pessoa de alguns tempos atrás, poderia me lembrar com exatidão da última vez, do último trocar de olhares. Mas, agora, não me importo mais. Não consigo mais, mesmo querendo. Do que eu estou mesmo falando?
Não consigo mais fingir pra mim mesmo, tentar ser quem eu gostaria, não quem eu realmente sou. Talvez eu não saiba mesmo ser bonzinho, como minha consciência sempre disse e eu tapava os ouvidos a ela, ouvindo opiniões e seguindo-as - o que é pior - de pessoas que pouco importaram saber se era certo ou errado ou o que quer que fosse ser.
Perdoem-me, amigos. Todos viram que já me apaixonei. Perdidamente, até. Já tentei ser sincero, justo, honesto. Fui fiel aos conceitos, imparcial aos deslizes. Relevante. Comprimi uma vontade quase enloquecedora, um desejo contido com muito esforço, porque eu precisava, acima de qualquer coisa queria, ser diferente. Não ser quem eu nasci para ser. Conseguir de vez o título de ovelha negra da família. No caso da minha, ovelha branca.
Mas o espelho me mostra, agora, as cenas vagas do eu que não deveria, passando em rápidos flashs. Não me envergonho dos erros que cometi. Na verdade, não me importo com eles. Na verdade da verdade, nem sei mesmo se errei. Tentar algo novo não é, necessariamente, cometer um erro. E essa filosofia fora a única que sempre mantive de minha personalidade. Não me envergonho, da mesma maneira que não acho glória. Não me retrato, como também não consigo me desgrenhar com facilidade. Afinal de contas, não é da noite pro dia que desistimos de ser quem queremos ser pra ser o que devemos. Não é do dia pra noite que deixamos a ilusão e a fantasia bela e singular de lado para viver a realidade e reconhecer e se libertar.
Pouco importa o passado. Esquecê-lo, talvez nem queira, mas não consigo mais me lembrar daquela minha identidade falsa. A máscara branca que tampava minha face e protegia-a dos socos da vida, fora subistituida pela verdadeira - àquela - que sempre quis emergir. Por mais que tentamos, nossa natureza sempre será mais forte. E já que um dia fica impossível renegarmos quem somos, que eu seja assim logo agora, de uma vez.
Minha boca, olhos e mente estão cansados.
Hora de negligenciar o presente e esquecer o passado. O futuro temeroso, deixo para o filho da puta e burro do Sêneca. Fodam-se os velhos filósofos. Hora de dizer o que penso, também, pros que pouco me deram suporte.
Um filho da puta, canalha. E não digo isso porque me pediram - pois pediram pra escrever de forma mais beat - Digo porque estou afim de dizer. Digo porque sempre quis dizer, sempre quis ser, mesmo nunca querendo, mesmo lutando pra nunca querer. É assim que eu sou e pronto. Foda-se o que o mundo acha. Se todo mundo pensa o que quiser, eu também posso, também devo, até. Chega de ser bonzinho, chega de ser paciente, de tentar compreender. Se em todo roteiro há um antagonista - vulgo filho da puta, canalha - Que este papel seja meu esta vez. Ao contrário das outras, em que eu era o mocinho. Ao menos esta vez, dêem-me o papel que fora destinado a mim. Como sempre era pra ter sido.
Que venha mais uma nova história.



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, dezembro 14

Em tom de agradecimento.

A voar perdido. Vagalume, a vagar. Vago. Preenchido por um vazio que nada adiciona, que nada induz, que nada muda, por mais que mude os dias, os tempos. Mas houve um acontecimento que fez, por alguns instantes, mudar. Fez a ferida aberta, por momentos, parecer cicatriz, parecer apenas lembrança ou algo que não está mais lá. Fez só ser vista, não sentida. Um acontecimento incomparável, inimaginável. Inimaginavelmente real e concreto.
As lágrimas secaram. Congelaram em três únicas gotas pretas, desenhadas na face. A brisa do vento, lá de cima, da pedra mais alta, eu senti enquanto ouvia o som doce e choroso da flauta. Enquanto ouvia o violino, o violão e a voz de um poeta que se faz de palhaço, que se faz de famoso. Reverenciado por milhares de outros palhaços semelhantes. Gente rara, que só encontrou naquele momento uma desculpa esfarrapada para se reunir e celebrar. Se lembrar se celebrar mais e mais.
Há muito não me sentia tão acolhido, tão ouvido, tão importante. Sentindo-me um tanto bem maior. Envolto em um abraço mais do que coletivo: Humano. Um abraço em que se torna tudo uma coisa só. Multiplicam as alegrias, dividem as tristezas, somam os sorrisos e subtraem o peso na consciência. Abraço de camaradas, sejam d'água ou da breja. Que só de ver o sofrimento do irmão de nariz vermelho, viram abaçaiados e gritam para que o pajé palhaço ouça: "Toca vagalumes!"
Mais do que minha música. Uma canção feita especialmente e específicamente para mim. Para o vagalume que se transofma uma criança quando enxerga em sua frente a caixa de pandora, onde encontra-se àquela sua estrela favorita. Estrela cadente, brilhante. Pois só com o hino esta caixa pode ser destrancada e todo seu conteúdo observado. O coro foi alto o suficiente para que ele pudesse ouvir e refletir, começando assim a dedilhar os primeiros acordes.
Foi mais do que bom, mais do que perfeito. Foi completo. Ou quase, é verdade. Ainda me faltava algo, mas o êxtase era tão grande que a ferida aberta parecia cicatriz e as dores pareciam lembranças. Ainda que primitiva, era uma felicidade. Ver a caixa aberta da felicidade, mesmo sem sentí-la, já me era um alento. Um fardo a menos a carregar, mesmo que no dia seguinte eu já soubesse que tudo voltaria a ser como fora nos últimos meses.
Como se quisesse-a inteira e minha metade de volta. Como se tivesse me perdido em uma excursão à lua e tivesse pertido uma parte que não tinha.
Soul brasileiro, me mato pra não morrer. Encaro meus monstros com mérito de abaçaiado. Num passado remoto eu perdi meu controle, sim. Acusei, abandonei e fiz sofrer. Mas também sofri os mesmos crimes. Há suspeitos? Há culpados? Há vítimas?
Nos timbres, nuancias e tons que se espalharam pelos pelos, pela boca e cabelos, outros palhaços - que não são por natureza - roubaram a cena por instantes. Exagerados, mas que salpicaram a chamada "uma coisa só" com mais vida e originalidade. Como se pudessemos correr até a varanda pra ver o céu em degradé, trazendo a noite, descanso do sol que gira, que girassol. Como se pudessemos ser todos garotos, que são fracos aos mistérios do anjo mais velho.
Não há palavras, não há denominações. Foi mais que bom, mais que perteito. Foi.
Incomparável, incompreensível, impressionante, inimaginável. Inimaginavelmente real.




Muitíssimo obrigado. (Y)

segunda-feira, dezembro 6

Recordar é viver. É reviver.

Conforme caminhamos pela estrada sinuosa e saborosa da vida, deparamos-nos, por vez ou outra, com momentos em que nosso passado, presente e futuro se encontram. Uma convenção que recordam emoções, degustam lembranças e vislumbram o mistério dos acontecimentos passados e os que passarão. É como um milagre raro. Vereda ímpar, em que apresenta ao mundo um ser novo, completo. Um ser eu concreto e abstrato simultâneamente.
Passado.
A saudade que há muito entristeceu, também acalma e melhora os ânimos diante de tanta dor e infelicidade, certas vezes. Relembrar sem a vergonha adolescente é divertido e sincero. O que pensávamos naquela época? Como nos víamos? Como víamos um ao outro?
Como pode sair da minha memória aquela baixa estatura, cabelos negros e lisos até os ombros, dotada de um sorriso misterioso, radiante e ansioso para me ver. Trajada com jeans e blusa preta, rosto sujo de ketchup, lançou-me um olhar de reprovação logo ao me ver. Havia deixado-a esperando por mim durante duas longas horas, enquanto eu observava-a de longe, rindo, enquanto nos falávamos no celular. Uma Siqueira Campos que protagonizou algo inédito e único. O único encontro de "sei lá o que" com "sei lá quem".
O sol do verão intenso foi a testemunha que compartilhou comigo as primeiras palavras da senhorita que me aguardava.

" - Se importa de me beijar após eu ter comido um cachorro quente?"

Como eu me importaria com esse detalhe? Mesmo que breve, fora um beijo inesquecível. Marcou como tatuagem o que era pra ser escrito com giz.
Presente.
É de importância singular poder recordar esses fatos. Aconteceu, mas faz tanto tempo que muitas coisas se perderam em nossa memória. Gargalhadas sucessivas a cada lacuna preenchida da história. Recordar é mais do que viver, é reviver. Algo que não se faz sozinho. Algo que não se consegue ter o mesmo resultado sozinho. Recordar em par é reviver e sentir, de forma lúcida, tudo o que já não existe mais.
Futuro.
É confortante saber que o que passou, simplesmente passou. Não volta mais e nem nunca vai voltar. Por mais que o futuro cruzam os caminhos das pessoas em determinados momentos, nunca, jamais, será igual ao que foi um dia. Compreendo que é um sonho poder ter em meus braços aquela menina metida a esperta, metida a beat, com o sujo completamente salpicado com ketchup, sorrindo daquela maneira. Eu mudei, muito. Nós mudamos. Não nos falávamos durante todos esses longos 3 anos. Apesar de ser uma pena saber que o tempo não anda para trás e compreender que eu jamais verei o seu olhar adolescente e sapeca, confesso não saber como conter a curiosidade pra saber em que - e em quem - esse olhar se transformou.

Reedição do texto "Recordar é viver" de 22 de janeiro de 2009.
Com as modificações que a ocasião exige.
Dedicado à caróu.

Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, dezembro 2

Algo entre as lágrimas.

Sorria. Mesmo que sua alma chore, seu coração também. Mesmo que o dia pareça improdutivo, mesmo que o mundo pareça um caus, mesmo que a vida esteja bagunçada. Sorria, com todos os dentes à mostra. Mesmo que não sinta vontade, mesmo que não queira realmente. Se de nada vale um sorriso não sincero, acha que chorar adianta? Adianta.
Chore, sim. Chore todas as lágrimas que puder chorar durante o dia. Deixa esvaziar o cantil de sentimentos, temores, surtos e instabilidades. Chore a perda, chore a saudade, chore o tempo que passou e que nenhum abraço recebeu. Chore cada lágrima como se fosse a única, como se fosse a última. Se de nada vale o choro, porque choramos em prece?
Reze. Ajoelhe-se diante de sua fé, seja ela qual for. Entrelasse os dedos, dobre as pernas, baixe a cabeça e peça, agradeça. Peça paz, peça serenidade, coragem e sabedoria. Agradeça por poder viver mais um dia para alcançar o novo e despedir-se do que não mais te importa. Mas de que adianta rezar quando não podemos enxergar o amor?
Ame. Ame e grite com todas as forças que ama. Que pode não ser o melhor amor do mundo, nem o mais correto, nem o mais bonito, mas que é verdadeiro e crescente. Ame mesmo que não seja compreendido, mesmo que não compreenda. Mesmo que com sorrisos, mesmo que com lágrimas, mesmo que com fé. Mesmo que o chão pareça desaparecer e você despencar, mesmo que pareça que ele não esteja presente, mesmo que não se possa enxergá-lo ou senti-lo. Basta olhar pra dentro. Ao redor. O amor é tudo isso. O amor é a poesia, é a música, é a energia, é a fé, é o sol, a lua e as estrelas. O amor é a cura, a doença, o vício, a tristeza. O amor simplesmente é.
Sorria. O amor está ao seu redor. E se o sorriso não basta, já ajuda um bocado!

"Nada do que possa acontecer vai tirar esse sorriso do meu rosto."






Pense o que você quiser. (Y)

Fogo que arde sem se ver.

Mais uma vez, aquela mesma velha e companheira melodia soa calma em meus ouvidos. E, novamente, encontro-me parado, mirando o horizonte vazio de meus pensamentos e sensações. Cada dia mais vazio, mais fraco, mais confuso e indeciso. Nada adianta. Nada. Por mais que eu tente fazer qualquer coisa que me acalme e me faça submergir de vez desse pesadelo vivo, um abraço apertado da dor a faz se fundir a mim como se fossemos um só. Uma só pele, um só corpo. Alma? Não há. Esta está desaparecida, vagando em busca da cura, de qualquer objetivo.

" - Você é louco! É mesmo um monstro!"

E as palavras ecoam em minha mente como se fossem ditas pela primeira vez. O que me faz acreditar que eu seja mesmo um monstro. Não sou um monstro por que sou mal caráter ou porque pratiquei o mal. Muito pelo contrário. Minha penitência é pelo simples fato de eu ter tentado ser o melhor desde os dias em que pude ter a certeza de que seria responsável pelos meus atos. Não fui o melhor, porque sou um monstro.Não sou um monstro porque acham que eu sou. Muito pelo contrário. Há em mim uma beleza tão bonita como um jardim florido e colorido por vagalumes dançantes. Meu jardim agora morre, porque sou um monstro. Não sou um monstro porque não tenho mais alma. Já tive um dia. Já pude conhecer de perto o amor. O amor morreu, a alma também. Isso porque sou um monstro.
Sim, eu sou. Um monstro. Porque eu vivo num lugar que não pertenço. Sinceramente, eu não pertenço mesmo a esse mundo de ilusões, mentiras e fuga. E, até poucos dias, não me conformava com uma série de coisas. Talvez eu só quisesse apenas ser amado mais uma única vez. Receber um último abraço, um último beijo. Poder caminhar de mãos dadas num lugar só meu, que queria compartilhar uma única vez. Somente para dizer que era a última, somente para dizer que acabou. Sinto que seria a paz tão sonhada que almejo durante meses e meses. A paz que só posso encontrar em meu lar, onde não me sinta diferente de todas as outras pessoas.
As palavras têm poderes magníficos, entretanto. O peso de algumas páginas de um livro há muito tempo escondido em meus guardados pessoais, me fez, novamente, entrar em contato com tudo o que há de puro e bom. Em certa hora eu não pude conter. Derramei mais lágrimas do que havia derramado durante toda minha vida. Dois dias. Chorando, somente. Sem conseguir comer, beber, dormir. Chorar, somente.
Mas o choro foi a bênção mais forte que pude receber. Após secar minhas lágrimas, um estranho abraço recebi. Estranho e novo. Pois era vivo, através de uma mulher que passava na rua e via meu sofrimento maltrapilho. Pois era sobrenatural, como os braços de Deus, acolhendo-me e me fazendo despedir da dor que eu aprendi a amar.
Entendi que o amor verdadeiro é aquele que não força. É aquele que não sugere, não escolhe, não obriga. Simplesmente ama e respeita. Entendi que o amor existe, mas é muito difícil de se alcançar. Então, perguntei-me se o que sinto ainda é realmente amor. Talvez não seja. Mas talvez seja, sim. A dor se foi e deixou uma curiosa questão. Mas esta eu não me apego. Prefiro olhar somente para as lições que meu sofrimeito deixou de herança. Se o silêncio for o espaço necessário, praticarei. Se a mentira for o espaço necessário, praticarei. Se ser alguem que eu não sou, alguém como os que vivem nesse mundo, for o espaço necessário, praticarei. Não posso mais interferir nos caminhos, apenas posso abrir as portas. E elas estão abertas, ainda. Estão abertas enquanto eu acreditar que o sentimento é verdadeiro, mesmo que não mais visível.
Se tiver que ser pra ser amor, eu continuarei a amar. Agora, quem sabe, da maneira correta. Amor com livre arbítrio. Até porque, acredito que até eu mesmo precise de espaço, para me adaptar, ou tentar, a esse mundo que não pertence a mim, mas que eu tenho que chamar de lar e aprender a viver.

"Se você dizer adeus a quem se ama e afastar-se quilômetros e quilômetros de distância, ao mesmo tempo a carregará em seu coração e mente, pois você não vive apenas no mundo, mas o mundo vive em você"



Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, novembro 22

Diferente de todos os outros.

Porque eu sou.

" - Poeta?"

Sim. Sou um poeta, um literário. Mas não sou simplesmente porque escrevo. Sou poeta porque consigo ir além, muito além. Sou literário porque escrevo mais do que vejo ou imagino. Escrevo, também, o que sinto. Sou poeta, literário, porque amo as palavras e amo o universo que me cerca, acima de todas as coisas.
Por mais difícil e triste que possa parecer, a dor que sinto é infindável. A dor que sangra tinta, preta, nos pergaminhos infinitos, escritos com nosso suor e rabiscos frouxos. Dor que sangra molhada, salgada, saída dos olhos, avermelhando-os e formando um rio de sentimentos sobre as maçãs. A dor que, mesmo trespassada, não deixa de ser a coisa mais bonita que há dentro de mim.
Leio os monstros do passado em que o amor era insolúvel. Antes do samba, da bohemia, que hoje me submergem, na ânsia da cura e de dias melhores, de paz. Cura para a dor que não existe remédio.
Mortos.
Poetas antes de mim, que me deixaram suas monstruosidades como herança. Todas as cartas mais belas e sensações de singularidade especial. Tudo igual, mesmo que, agora, o tom sépia não esteja tingindo-me.
Mas eu sou diferente.
Eles dotaram um sentimento forte o suficiente para perderem o rumo, a sã consciencia. O necessário para tirarem suas próprias vestimentas e correrem a peito nu na chuva e frio. Suicídio.
Mas eu sou diferente.
Estou morto tanto quanto qualquer um. Mas minha morte é diferente. Minha morte é o fato de continuar vivo para observar-me definhando. Sou vago, preenchido de um vazio que nada me adiciona. Vazio de desespero. E em minha lápide imaginaria, há escrito: "O último romântico"
Contudo, ainda caminho, ainda respiro e meu coração ainda palpita, mesmo que fraco como o sol da alvorada. É perdido que sempre acabo encontrando o caminho certo. Muitas das vezes o único caminho que tenho pra seguir.
Enquanto vivo morto, continuo e espero. Fé e coragem naquilo que há dentro de mim neste momento. Coragem e fé. Pois eu sou diferente. O poeta que ainda vive pra contar seus contos, derramar seus prantos. Sentindo a brisa dor, sentindo a selva densa e esperando o tempo que for necessário para que só que importa e o que for bom da dor permanecer.
Mais uma cerveja em minha mesa. Mais um samba triste em meus ouvidos e pulmões.




Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, novembro 18

Simplicidade.

" - Veja bem: Você sabe quanto tempo se leva para encontrar um alguém em que você diga, já no primeiro encontro, algo como 'é ela'? Você sabe quanto tempo leva para se acostumar com os defeitos dessa pessoa e aceitá-los? Sabe quanto leva pra respeitar as limitações e se moldar para encontrar o encaixe mais próximo do perfeito? Sabe quanto tempo leva pra conseguir esse encaixe perfeito? Não só tempo! Dedicação e muita, mais muita sorte!"

-
Não sei.

" - Agora imagina você: Agente leva tanto tempo pra encontrar uma pessoa que tem certeza, desde o primeiro instante, que te fará muito feliz. Insiste em se adequar àquela. Faz com que ela se adeque a você. Olha quantas pessoas há nesse mundo. Contudo, olhe antes quantas pessoas podemos contar nesse imenso mundo."

-
Eu não sei. Não sei quanto tempo leva, nem quanta sorte se usa.

" - Pior do que é ser o sacrifício de encontrar, é o sacrifício de conseguir ser feliz. Mas não há sacrifício pior do que o de, subita e simplesmente, deixar de lado tudo aquilo que se construiu. Não há fim. Não houveram últimas palavras. Mas posso afirmar que estou realmente bem e com o coração limpo. Puro novamente."

-
É. Acho que você deu pra mentir, agora.

" - Enquanto eu conseguir enganar a todos, por mim tudo bem." 

- E quanto a te enganar.

" - Impossível. Agente pode tentar fingir de tudo pra qualquer pessoa, até conseguimos nos convencer às vezes. Mas podem passar-se anos, décadas que, por mais que eu tente fingir tudo o que tenho dentro de mim, lá no fundo eu sempre saberei que é mentira. Por isso, então, eu te engano. Está tudo bem. Eu estou feliz e vou viver."






Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, novembro 8

Relatos em questões.

Antes de mais nada, gostaria de me desculpar com os assíduos leitores do imaginadongo (que está aumentando cada vez mais a sua família!) pela demora com a nova postagem. O tempo está ficando cada vez mais curto e os dias cada vez mais corridos. Logo, para compensar vocês, amiguinhos, preparei um único texto abordando todos os temas pelos quais quis escrever esta semana. Meu moleskine está quase no fim e ainda há muito para compartilhar com vocês, eu sei. Mas prometo que assim que conseguir um dia inteiro de folga, me empenharei em transcrever e publicar todas as minhas aventuras, opiniões e tudo mais. NÃO DEIXEM DE LER ESTE POST! Não se intimidem com o tamanho do texto. Está com uma leitura envolvente e fiz com todo carinho para vocês!
Agradeço a atenção de todos, mais uma vez. Espero que desfrutem dessa leitura e...
Pensem o que vocês quiserem! (Y)








"- Gozarei, desta vez, de toda linguágem corriqueira que puder. Tentarei.
- E porque não conversou assim comigo desde o início, Sábio?"

Seguiu-se, então, um diálogo entre o sábio e o aprendiz. O que está de ouvidos apurados, esperando para ouvir o que viria a ser mais um conselho decisivo para o futuro a se trilhar sou eu, o Poeta, o Sonhador. Sou eu, o Verde.
Jamais pensei que, após sair daquela porta em que um triângulo com as cores vermelho, amarelo e verde, voltaria a rever o sábio Daniel. E se há algo mais impressionante do que rever o sábio ressurgindo do interior de um nobre rapaz amigo meu, cujo acaso fez ser batizado pelo mesmo nome, é o fato de me ver, mesmo após ter me convencido de que seria improvável, dentro do quarto branco novamente.
Justo no dia em que estava de malas prontas para. O destino ás vezes te faz trilhar um caminho que parece ser mais torturoso, mas que revelam as maiores glórias em seu horizonte.

"- Não é preciso ver. Basta sentir. Basta imaginar. Feche os olhos e estará no quarto que te ensinou a viver mais uma vez."


Então, como num passe de mágica, pude repousar minhas pálpebras e poder enxergar toda aquela imensidão celéste que cobriam as paredes, chão e teto. Por um momento, a dor, que carrego como fardo e por não conseguir me perdoar por erros cometidos e situações que acabei fazendo uma pessoa pelo qual tenho um amor imenso passar, sumiu por completo de dentro de mim. Essa dor, que já acostumei a tratar como companheira nos afazeres diários, pois ela jamais me abandona, ficou do lado de fora das portas repletas de símbolos e formas. Estava somente eu, as estrelas e o Sábio.

"- Jovem rapaz! O que trás de volta aqui?
- Preciso encontrar um jeito de acabar com essa dor que está me consumindo dia após dia. Preciso por um fim. Mas tem que ser de verdade. Não consigo mais suportar por tanto tempo."

Passaram-se horas enquanto eu estava conversando com o meu jovem amigo, a beira da churrasqueira e entre dezenas de latas de cerveja. A breja jamais havia se tornado tão produtiva como a daquele dia. O seguinte após reencontrar uma pessoa que não via há dois longos meses. Se forem um pouco espertos, descobrirão de quem estamos falando.
Pois bem. Enquanto passaram-se horas em que conversava com o sábio, dentro do quarto branco, meu coração apertava com cada palavra, cada frase dita pelo Daniel. É impossível escrever exatamente tudo que conversamos, mas citarei o que foi impressindível para me fazer pensar durante toda essa semana. A dor está me consumindo de uma maneira em que eu simplesmente não consigo mais viver sucumbida a ela. É como em um jogo de xadrez: Para darmos o cheque-mate, há horas em que temos que sacrificar uma torre ou um cavalo. Mas, no meu jogo, eu sacrificarei um sentimento, uma virtude, que equivale a rainha.
E Daniel disse:

"Eu posso ver nos seus olhos que ainda há um sentimento muito vivo dentro de você. Posso ver além. Posso ver que esse sentimento é reciproco. Posso ver ainda mais! Posso ver em que, no fundo, mesmo duvidando em alguns momentos, no fim você também consegue ver em que existe alguém no mundo que te ama tanto quanto você ama. É notório, todos aqui já perceberam. Não há frase que você complete sem dizer o nome ou algo que lembre-a. Isso é belo! 
O que você deve fazer para deixar a dor partir e voltar a ser feliz? Desequilibrar a balança. Vejo em vocês duas pessoas extremamente iguais em um certo aspecto: O de não admitir algumas coisas e não tomar certas atitudes, por medo de fraqueza, por medo de se mostrar fraco.
Agora, repare quando você consegue sorrir verdadeiramente. São nesses momentos em que você lembra dela com todo o carinho que tem, são esses momentos em que você se recorda de tudo o que fora bom. Vejo um sorriso triste? Sim, eu vejo. Mas é o sorriso mais singelo e verdadeiro que posso ver em sua face.
E vocês equilibram essa balança de orgulho, força e, na minha opinião, idiotice. Quando um fraqueja um pouco, o outro teme procurar mais, ser mais presente e se machucar mais, por consequência. Ou é o medo de machucar mais o outro. Ou é qualquer medo que somente vocês dois podem saber. Algo que só há dentro de cada um de vocês e dos dois, ao mesmo tempo.
Se você quer acabar com a dor, você deve desequilibrar esse equilíbrio. Se libertar do "entre". Se ela está sofrendo igualmente como você, ela também está nesse "between". Acredito, ainda, que ela está mais dividida do que você. Mais perdida também. Mais um motivo para você começar a agir para acabar com essa dor múltipla. 

Quero agora que pense. Pense, antes, em todos os momentos ruins que você passou ao conviver com essa dor. Pense em todos os dias em que chorou, todos os dias em que sofreu, todos os dias sem dormir. Pense em como sua alma caleijou e em tudo o que você perdeu por devoção a ela. Agora, pense em todas as coisas boas que sua vida em conjunto lhe proporcionou. Dos momentos em que você poderia ver o mundo acabando, mas que não se importava, pois estava com a pessoa que ama. Pense nas duas coisas e veja se tudo o que você passou de ruim foi compensado pelos momentos bons que vieram antes.
Se tudo o que passou de bom supera toda essa dor, eu digo a você que lute. Não desista assim tão fácilmente, não abra mão. Aposte todas as suas fichas. É o "All In". Aposto que ainda há algo pra fazer que você ainda não fez. Está na hora de quebrar os paradigmas, as regras e lutar. Deixe esse medo de lado. Deixe o orgulho de lado. Rebaixe-se se tiver que se rebaixar, diga tudo o que seu coração quer dizer, mas que a razão cisma em não permitir. Mostre-se. Mostre que você não é mais o mesmo. Surpreenda. Surpreenda-me, a você mesmo e a ela. O que custa? Será que fazer isso tudo vai aumentar a dor? Será que fazer isso tudo é pior e mais difícil do que conviver com a dor?
Deixe que ela decida o destino dela. Infelizmente, ficar junto com uma pessoa é uma decisão que depende dos dois. Pra não ficar junto, basta um se negar. Entretanto, por qualquer que seja o caminho que ela vá escolher, eu te garanto que junto com ela irá toda a sua dor. E se precisar chorar, para culminar o fim desse seu período turbulento, ombro amigo é o que não faltará pra você.
Faça-a descobrir o que ela quer. Pois, pelo que estou a ver agora, você finalmente se decidiu."

Mais uma vez, fui pego pelas pernas em minha própria contradição. Eu que havia dito que não devemos desistir, estava prestes a tomar essa decisão e conviver com a doce dor. A dor que é letal e, ao mesmo tempo, vagarosa com seu veneno. A dor por ter algo tão belo e bonito dentro de sí. Algo que, mesmo passando por transformações, segue intacto, imutável. Algo que nunca deixou de ser presente, por mais que faça mais parte do passado agora.
A vida, através do sábio, mais uma vez me ensinou a nunca, NUNCA, N-U-N-C-A desistir. Além disso, ultimamente ela tem me ensinado a não crer no impossível também. Como, por exemplo, acreditar que pode-se adivinhar onde vai fazer uma prova, entrar sem o cartão de confirmação e com uma hora de atraso, algo que não aconteceu em nenhum outro lugar do país! Algo que, pra qualquer um pareceria impossível, mas pra quem acredita no próprio potencial, o improvável passa a ser somente uma questão de opinião. Eu, o Verde, o Poeta, não estou morto. Fui ao inferno e voltei. E, quando fui, penetrei entre o magma e as rochas vulcânicas, encarei nos olhos o Diabo e disse: "Eu tenho duas mãos fechadas e sei brigar". E apanhei. Acabei por vê-lo manipulando a minha mente e fazendo-me fraquejar diante dos problemas, confundir quem seriam meus verdadeiros amigos e tirar toda a confiança que eu tinha em mim. Não posso dizer que perdi tudo, mas posso afirmar que perdi diversas coisas que me faziam a diferença. Distanciei pessoas que jamais gostariam que saíssem de meus olhos, deixei passar oportunidades que mudariam o meu futuro pra melhor. Entretanto, assim como Jó, jamais deixei de perder a fé. A fé de que eu poderia reencontrar a minha confiança e fechar os punhos novamente, partindo para a minha luta solitária contra os pequenos demônios chamados problemas e obstáculos.
Se antes achava que tinha todo o tempo do mundo para mudar o meu futuro, percebi que cada instante em nossas vidas pode ser o último. A prova disso foi quando comprava algo pra comer no mercado e senti um forte arrepio. Momentos depois, um burburinho me chamou atenção no corredor paralelo ao que eu me encontrava. E lá estava uma senhora caída no chão, imóvel. Morta.
O ceifeiro passou justo no local em que eu estava. E se ele se volta para mim e decide me fulminar com sua imagem? E o que é a vida?
Tão simples e difícil de explicar é a vida. Em um momento, a mulher estava comprando o que seria o seu jantar de domingo. No seguinte, caída no chão. Simples! Num momento você está, no outro está em julgamento divino.
Eu passei a pensar em quantos abraços eu quero dar e meus "princípios" me impedem. Passei a pensar em quanto tempo eu estou perdendo escrevendo esse texto enorme. Passei a pensar no quanto idiota eu tenho sido. De não assumir o óbvio, de tentar fazer aquilo que realmente quero. De não me importar com o fracasso, pois, talvez, eu nem possa mais estar em corpo presente para presenciá-lo.
Há ainda muitas coisas que eu poderia adicionar, mas ninguém iria entender. Daqui para frente, seria algo que só quem já viveu sabe como é, fora que eu estaria perdendo ainda mais tempo. O que eu posso dizer é que eu já sei o que eu quero, já sei o que é melhor pra mim e já sei como acabar com essa dor. O que posso dizer é que eu não vou desistir, sob nenhuma hipótese. Farei o que tiver que fazer até onde achar que devo. Será o último fôlego, o último esforço, pra reviver aquilo que jamais morreu, pra viver aquilo que jamais se viveu, pra viver.
Vejo vocês em breve e digo como foi. 


A Citação: "Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez" - Jean Coteau.
A Canção: "Stare at the sun" - Thrice.


Pense o que você quiser. (Y)

domingo, outubro 31

Diálogo de almas.

A cada passo largo que dava à frente, meu coração parecia acelerar ainda mais. Já achava estranha a forma com que ele batia em descompasso. Após cada passo, ele piorava, se debatia com mais violência dentro do meu peito. Eu não sabia o que estava fazendo. Sabia exatamente o que estava fazendo.
De longe, avistei-a. Como estava bela! Mesmo após tantos meses sem poder observar seus movimentos e seus gestos, sabia exatamente como estava se sentindo naquele exato instante em que cruzou seu olhar no meu: Algo que não conseguirei descrever. Algo que se mistura a euforia e uma felicidade contida. Um rancor pontiagudo e uma tristeza constante. Uma vergonha e, ao mesmo tempo, inibição.
Era o mesmo que eu sentia. E um abraço frio demos um no outro, como dois desconhecidos. Como se jamais tivessemos sequer o conhecimento da existência um do outro. Como se não houvesse passado. Como se o passado fosse ainda o presente.
Durante todo aquele tempo em que permanecemos próximos um ao outro, falamos-nos por mera formalidade. Por um instante me senti a pior das pessoas, mas não haveria de culpá-la. Somos responsáveis por nossos próprios atos e responsáveis pelas consequências que eles nos trazem. Por sorte, havia mais um elemento mediando nossa conversa, pois caso contrário, seria um diálogo mudo, onde não conseguiríamos olhar para os olhos do outro.

"E lá estava ele, com seu copo de cerveja nas mãos. Eu não o conhecia. Este era outro, de fato. Parecia triste, mas com um brilho no olhar que jamais havia observado antes. Um brilho de quem está vencendo barreiras e derrubando obstáculos. Meu peito disparava. Quando ele havia chegado, nada mais do que um abraço frouxo pude dar. Ele não merecia o meu melhor abraço. Fora patético ao me acusar e desconfiar de mim. Apesar da dor estar amena, ainda não conseguia olhá-lo e não lembrar de quantas lágrimas derramei e de tudo o que acabei por fazer. Agora tudo estava voltando ao normal.
Ele não merecia meu melhor abraço, mas mesmo assim eu queria dar. Não houve pessoa, nunca, que tenha se encaixado melhor em meus braços. Não houve, nunca, ninguém em que eu pudesse recostar minha cabeça, fechar os meus olhos e ter certeza de que eu estava segura. Já não tenho mais, mas está tudo ali, bem na minha frente. Sentado com seu como de cerveja na mão e conversando distraidamente, sem ao menos notar tudo o que eu estava sentindo"

Somente quando pude recostar minhas costas naquela cadeira, pude perceber que meu coração, agora, batia normalmente. Acelerado, ainda, mas com uma estranha sensação de segurança. Lá estava ela, sentada em minha frente. olhando-me enquanto eu não olhava-a. Nossas conversas não eram diretas, não referíamos a palavra um para o outro, até ela sentar-se do meu lado, inventando um motivo qualquer, este que não consigo me recordar agora. Foi quando nosso olhar se cruzou pela segunda vez.
Desta vez, contudo, pude observar que algo já havia mudado. Não era o mesmo olhar vazio que antes fora trocado. agora, havia um pequeno brilho, algo que me fazia perceber que, após de tantos e tantos meses, uma pessoa diante de mim estava feliz ao me ver, mesmo após tanto sofrimento que compartilhamos quando estávamos longe um do outro.

"Ele acendeu um cigarro. Espantei-me com o modo natural que ele agiu. Geraram-se dúvidas em minha mente. Mas pouco importava-as agora. Eu precisava chegar mais perto dele. Precisava olhá-lo nos olhos e tentar decifrá-los.
Puxei, então, minha cadeira para o seu lado. Pedi-lhe o isqueiro. Olhamos-nos. Eu vi um brilho incandescente. Tive a certeza: Ele me amava. Amava como nunca amara outra mulher. Como, talvez, nunca irá amar. Mas eu me questionava. Há tantas coisas dentro de mim que eu não faço idéia do que fazer, do que pensar, de como agir.
Minha cabeça briga comigo diáriamente. Tenta fazer de mim uma pessoa sensata, tornando impossível ver a mim e a quem me ama e a quem eu amo juntos. Mas e o meu coração? Este, nunca se esqueceu de todos os momentos felizes que sentimos. Momentos em que eu pude tocar naquela pele morena, naqueles cabelos revoltos e leves como seda.
Minha mente e meu coração estavam em uma queda de braço interminável. Até aquele momento, antes de eu encontrá-lo novamente, tanto fazia pra mim manter contato ou não. Agora, cada palavra que eu disesse, sentia que era importante ao ponto de fazer toda a diferença na vida de ambos."

Eu senti o corpo dela me puxar para mais perto ainda. Como um ima tras para sí o parafuso solto no chão. Mas eu não podia. Não podia me aproximar mais. Algo dentro de mim dizia que seria o ato mais imprudente. Não era tudo de bom como antes. Não era nada, não havia nada. Apenas dois corpos cansados pelas noites de sono que perderam, feridos por terem feito coisas que afetaram ao outro e duplamente a si mesmo.
Não resistiria ficar mais muito tempo por ali. Resolvi levantar. Já era a hora de partir. Já passara da hora de partir. Não houve momento, durante esse tempo todo em que longe ficamos um do outro, que eu não tenha me sentido mais infeliz. Ter que forjar uma naturalidade nas palavras, ter que fingir tudo o que eu sentia, tudo o que eu queria. Nem eu sabia mais o que queria.
Era perigoso. Não poderia ficar nem mais um segundo perto daquela detentora de todo o meu amor. Afinal, ela estava feliz! Ela estava vivendo, estava progredindo, estava recuperando sua vida de antes. Eu não queria atrapalhar, não podia atrapalhar. A observaria de longe, até vê-la se perder dentro de mim. Sofreria mudo, somente sorrindo.
Levantei-me. Aquele fora o último momento em que eu iria ver um par de olhos onde existe minha felicidade.

"De súbito, meu corpo gelou. Ele se fora e sequer olhara pra trás. Se houvesse no mundo uma pessoa mais infeliz do que eu naquele instante, esta seria ele. Eu sentia, sabia, estranhamente. Mesmo após tanto tempo, eu sabia reconhecer cada gesto. Estava infeliz. Tanto quanto eu estava. Mas eu o entendia. Sim, o entendia. Com uma claridade tão imensa que não poderia deixá-lo partir, supostamente para sempre, sem dar-lhe um último afago. Não era o mínimo que eu queria fazer, mas o máximo que meu coração permitia diante da minha razão orgulhosa e impenetrável.
Ao quase perdê-lo de vista no horizonte, eu gritei o seu nome. Tenho certeza que aquele grito ecoou durante longos minutos nos ouvidos de sua alma. Ele parou e se virou no instante seguinte. Seus olhos haviam perdido aquele brilho. O amor estava me deixando. Era preciso, era necessário. Não poderiamos mais ficar juntos. Não suportaríamos mais ficar separados.
Inventei qualquer desculpa para me aproximar dele. Pedi-lhe mais um cigarro. Ele me deu e, novamente se virou. Deu, então um passo curto em direção ao adeus. Passo esse que parecia nunca alcançar o chão."

Virar as costas naquele momento foi a coisa mais difícil que eu já havia feito na vida. Ter que partir, querendo ficar, mas não podendo, por saber que minha presença naquele local só a faria mal. E eu me sentia mal. Por querer muito fazer alguém feliz e ser impedido pela pureza, pela ingenuidade e pela cegueira que causa o amor.
Desgraçei-me por todos os meus pecados. Joguei pragas terríveis em mim mesmo. Vendi minha alma em troca da felicidade da única pessoa que eu me importava. Uma atitude desesperada, mas que me faria digno de algo ao menos uma vez na vida. Gostaria de ser esquecido, de vê-la continuando sem mim. Mas eu marquei, sim, marquei. Da pior maneira. Com o sofrimento que eu causei.
O primeiro passo, após me virar, foi interrompido por duas mãos que eu conhecia muito bem segurando o meu braço. Seguiu-se, então, uma voz doce e fúnebre:
 - Você está bem?

" - Não! - Exclamou ele, com a mais triste das vozes.
Jamais desejei isso. Sempre desejei somente sua felicidade. Apesar de tudo, jamais deixei de pensar nele um instante sequer. Ele marcou a minha vida, de fato. Da melhor maneira possível: Entregando todo o amor que ele poderia ter por alguém. Eu me culpava, entretanto, por não ser digna de todo esse sentimento. Não poderia mais manter aquilo, mas também não podia abandonar, não queria.
Eu disse pra ele que não poderia mentir e que também estava muito infeliz. Meu coração fez uma força um pouco mais intensa e eu não resisti ao dar-lhe um abraço. E ele retribuiu com o calor mais intenso que poderia haver. Ali estavam as algas gêmeas unidas, mesmo em corpos distintos. Mesmo que por uma última vez."


Não posso descrever o que houve naquele momento. Mais do que um simples abraço, mais do que qualquer palavra solta dita ali. Mais do que qualquer coisa. Qualquer desejo, qualquer vontade. Estavam presentes duas pessoas que se amam verdadeiramente e estão certas disto, mesmo duvidando por muito. Duas pessoas que, de certa forma, não podem viver longe uma da outra, mas que também não está viável viver próximas. É tão simples e pequeno! Tão complexo, no entanto! Não há argumentos, não há como descrever. Simplesmente é.
E, diante daquele abraço, o passado e o futuro passaram a não se importar. Nem o que aconteceu e nem o que viria a acontecer. Somente aquele instante era valido. Nada mais. Nenhuma coisa além. O momento onde o fim e o início se cruzavam.

"Não posso descrever o que houve naquele momento. Foi como se, por um instante, eu me sentisse novamente segura. Momento onde minha mente havia adormecido e se esquecido de todo o mal que ele me causara. Onde passado e futuro passaram a não se importar. Só aquele momento. Só o presente. Pois não exista passado, nem conseguia ver futuro. Não sei o que fariamos dalí por diante. Sabia, todavia, que não podia mais perder aquele abraço. Mesmo tendo que perdê-lo."


e agora?

"Agora? Fecharei os meus olhos. Observarei a briga entre minha razão e orgulho com todos os meus sentimentos. Serei levada, entretanto, para o mesmo lado que ele escolher. Não serei capaz de tomar sozinha uma decisão que envolvem duas pessoas."

Se há uma coisa que eu aprendi, é que existe o amor. Sim, ele existe. Pois mesmo após de todos os atos tolos que antes cometemos, todas as brigas e todas as feridas, ainda existem coisas que permaneceram e permanecerão intactas. Por mais que ela possa negar, eu conheco-a. Sei o que pensa, sei o que vai dizer, sei o que vai fazer. Sei de tudo da vida dela. Assim como ela sabe de tudo. Assim como, por mais distantes que possamos estar, estaremos sempre perto um do outro. Sempre dentro um do outro.





Pense o que você quiser. (Y)

O rival que caminha ao lado.

Antes eu odiava-o. Jurei pela minha própria vida eliminar todo e qualquer rastro que pudesse levá-lo à sobrevivência. Pois sim. Pois fora ele quem consumiu os meus pais, levou-me o meu amor e todos aqueles pelos quais tinha afeto, carinho e gratidão. Levara todos, exceto eu. Relutante de meu próprio destino, desembainhei minha espada e caminhei sorrateiramente por todo o território, à procura do traidor.
Solitário, eu estou. Solitário permaneci durante todos esses anos com sede de vingança. Não me restou mais nada além de uma lembrança vaga de sua forma e de como ele eliminava as pessoas. Estranhava-me o modo de como inofensivo ele se fazia e de quanto tempo demorava para dominar um ser muito superior a ele por completo. Levara meus pais e os pais dos meus pais. Levara, também, minha alma e minhas perspectivas.
Foram inúmeras as vezes que tentei detê-lo. Foram diversas as opotunidades em que ele brincou de surgir diante dos meus olhos e eu ter que ver minha amada fingir e mentir para confidenciar segredos para meu pior inimigo. Se ele consumia devagar e diretamente todos ao meu redor, comigo sempre fizera diferente. Ele não me tocava, não se aproximava de mim. Mas fazia questão de partir meu coração em pedaços infinitos e saboreá-los com uma mudez de triunfo.
Até que houve o dia em que nos encontramos. De frente, um para o outro. Não havia mais ninguém, somente nós. Eu e quem eu mais odiava. Eu e quem eu deveria eliminar de uma vez por todas de minha vida, para, então, poder viver em paz. E quando eu parti para o ataque, percebi que, naquele instante, havia um inimigo em comum entre o meu pior inimigo e eu. Esta nova entidade surgira, ou melhor, se fez presente em todos os momentos sem que eu jamais pudesse perceber. Era a solidão. Até meu pior inimigo sofria do mesmo mal que eu. Um mal que teria de ser detido, com todas as forças, até mesmo as nossas unidas.
Às vezes, até inimigos de longas datas unem-se com uma finalidade de progresso mútuo. E, conforme foram se passando os dias em que lutamos juntos para acabar com a solidão que assombrava a minha alma, fui percebendo mais pontos em comum com ele do que eu poderia imaginar.
Não se deve renegar o seu próprio destino, jamais. Hoje a solidão está ferida mortalmente. Mas, ao invés de retomar minha rivalidade à vida, percebo que encontrei um companheiro de campanhas. Um companheiro que, assim como meus pais e os pais deles, me consumirá. Mas que eu mesmo dei minha alma em troca do fim de um inimigo maior.




Pense o que você quiser. (Y)

domingo, outubro 24

A dor que remédio algum pode curar.

Não há nada para se temer neste momento, mas mesmo assim temo. Preso à toda essa liberdade, eu serpenteio as ruas da cidade de prédios altos, onde o minotauro é minha própria sombra de receios, dúvidas, consequencias. Minha própria teia de temores. E caminho, cambaleante e instintivo, perguntando-me permanentemente se eu sou mesmo aquele tão famoso Teseu do contemporâneo. Mas mesmo um grande herói precisa ser acolhido em braços firmes.
Não há nada para se sentir nesse momento, mas mesmo assim sinto. Sinto muito por concluir o que jamais desejei e deixar para trás o que me foi bom. Sinto por ainda me desgraçar em lágrimas inúteis, lágrimas que já são tão sonoras quanto a melodia que dobram os meus ouvidos. Como os sinos dobram na igreja, alertando a queda de mais uma grande alma. Pois até as boas almas perecem com o desgaste causado pelo tempo.
Não há nada para se fazer neste momento, mas mesmo assim faço. Fico quieto, estático, mudo. Se não sei o que dizer, nada digo. Se não sei o que vai acontecer amanhã, simplesmente vivo e vejo os ponteiros gigarem vagarosos, até que toque o doze e os sinos dobrem novamente. E enquanto o amanhã não vem, eu passo a me entreter com minhas próprias dores, meus tristes afazeres, meus sentimentos e meus temores. Pois não há dor maior do que a dor da alma. Não há remédio que cure a dor causada pelo sacrifício do que pode ser chamado de "suicídio póstumo". Pois minha alma já não vive mais, mas ainda vive para contar sua triste história.
Não há o que doer nesse momento, mas a dor é intensa. É imensa, essa dor. Dor da alma, dor da saudade, dor da lágrima e grito. Dor da meia noite, do meio dia, do dia todo, de todos os dias. Não há o que temer, não há o que sentir, não há o que fazer. Então, continuo cambaleante pelas curvas sinuosas, com espada em punho firme e cerrado, pronto para assassinar meu minotauro interior. Mas o que mais me aflinge, é a dúvida que tenho em saber se, ao meu regresso, minha Ariadne ainda estará me esperando a porta, com o seu fio dourado e pele quente, para que juntos, finalmente, sem problemas, possamos construir nosso novo reino de castelos de areia.




Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, outubro 22

A ferida está cicatrizada?

São bons os fluidos que circulam dentro de mim. São puros, raros e autênticos, todas as atitudes, gestos e pensamentos. É harmônico. Um paradoxo entre o sonoro e o silencioso, entre o grito e o sopro, entre a exclamação e a respiração.
Algo que li, tempos atrás, reflete como um espelho para os dias de hoje: Como algo que falamos no passado, tem sua conclusão no futuro?
Perguntas sempre rondam as nossas mentes. Quando as respondemos, mais perguntas aparecem. Esse é o grande mistério da vida. Saber de onde tantas questões se formam é o grande objetivo a ser buscado.
Vai dizer que você não sente uma pontada fria e fina lá dentro, lá no centro do coração, quando você escuta meu nome. Vai dizer que você não se pega pensando em mim quando está sozinha, deitada na cama, ou quando olha para aquele horizonte que um dia até confundido com outras coisas foi. Vai garantir que ainda não sonha, não lembra e não sente saudades do passado. Vai dizer? Vai garantir?
Eu digo, por você, eu garanto. A cada dia que passa, mais o paradoxo do cego e do cortante se atenua. Mais de futuro o passado transforma. Mais vejo que, apesar de dias, semanas, meses e anos, eu ainda sei pouco dessa fábrica de perguntas. A cada dia mais velho, mais perto da verdade eu fico e mais longe de ter uma idéia de qual resposta eu receberei tenho. A vida é assim. Cheia de realizações, mistérios, perguntas e deduções.
Cheia de paradoxos e cheia de pensamentos que, de certa forma, ainda me leva pro lugar de onde eu jamais deveria ter saído.



(20/01/2010)
Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, outubro 18

Ser vivo.

Percorrendo o horizonte com um olhar sobrecarregado de tristezas e de olheiras fundas, percebo o quanto pode ser adversos nossos caminhos. Enxergar além e não enxergar nada pode ser a mesma coisa se visto de ângulos opostos. Conquistas podem se transformar em fracassos, ilusões podem se tornar reais e idéias podem jamais sair do campo da imaginação.
Aprendi a não acreditar mais no impossível. Bastou apenas uma pequena injeção de confiança em meu sangue de pulsar fraco pelas sucessivas quedas, para compreender que nada do que fora perdido outrora não possa ser reconquistado. Tudo bem que nada voltará a ser como era. Tudo bem que cicatrizes haverão sempre e estarão presentes. Serão notadas da mesma forma por todas as pessoas que as observarem. O que diferenciará será como nós mesmo nos lidaremos com estas.
A dor sempre estará presente dentro de nós. Uma leve pontada no coração, como um breve badalar de sino, consumirá nossas almas rápida e intensamente sempre quando algo que nos desagradou for lembrado. Alegria também pode se transformar em tristeza. Saudade pode ser uma variável de raiva. Amor pode ser raiva, também.
O que importa, no fim, é saber ainda se sente ou se não sente mais. Não há fim enquanto o existir sentir, enquanto o sentir existir, enquanto o coração não aceitar que não há mais nada para se fazer, a não ser seguir em frente e em paz.



Nota: Peço desculpas aos leitores do imaginadongo pelo tempo em que fiquei sem postar. Tenho trabalhado bastante nesse período e me dedicado mais à leitura. Outro fato importante é o de eu estar sem internet em casa. Prometo a todos que sempre que puder colocarei uns textos curtos e, se possível, com um vocabulário mais extenso e inteligente.



Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, outubro 5

Sete de Setembro.

"Nunca antes na minha vida me senti tão fraca. Indecisa, impotente, temerosa, perplexa e imóvel. Nada no meu corpo está funcionando como deveria. Não consigo reagir aos comandos do cérebro, ocupado demais pensando em uma simples decisão, mas que pode ser crucial para o resto da vida. O desejo de correr e se entregar é o mesmo de fugir e abandonar todas as realizações conquistadas com muito esforço. Ao mesmo tempo que muito penso, nada há em minha mente. Somente uma palavra de cada vez.
Minhas mãos agora tremulam com ferocidade. O coração bate acelerado, incansável, prestes a explodir com a onda de euforia e ânsia de tudo acontecer. Ofegante, tento eu inutilmente me ocupar com outras coisas. Música, televisão. Música e televisão. Folheio uma revista qualquer. Rabisco em um papel qualquer. Mais um gole d'água, outro e outro. Aquele maço de cigarros, antes fechado, já está no fim. Nunca foram tão necessários para me acalmar como agora. O suor gelado escorre pela minha face. As mãos geladas apertam minhas coxas ao ponto de deixarem hematomas.
A cadeira em que estou sentada parece pequena demais para o meu corpo e todo esse sentimento que aqui tenho dentro de mim. Os suspiros são ainda mais fortes agora, em que na tela do meu computador sua foto e um "oi" no messenger você acaba de mandar. Por um mínimo instante, recordei-me de todos os dias em que estivemos juntos até este momento. Meus "erros" impediram que hoje, nessa data que é de extrema importância para mim, pudessemos estar juntos e felizes. Por um momento me arrependo de todo o mal que pude ter feito para você. Penso em te ignorar e te deixar seguir em paz, ser feliz. Mas, sinceramente, de alguma forma, eu sei que a sua felicidade está guardada dentro de mim. Eu não tenho certeza disso, mas eu tenho certeza.
Entretanto, não posso voltar atrás em minhas decisões. Se tomei essa atitude, foi por ter certeza de que seria melhor para você, pois é uma pessoa de qualidades ímpares e pequenos defeitos completamente releváveis. Eu sei que não mereço sua atenção, seu carinho, seu amor. Sou uma pessoa normal, como qualquer outra, sem nenhum talento, nenhuma qualidade. Só faço te faço o mal com os meus defeitos e, sinceramente, não suporto te ver sofrer por mim. Infelizmente eu não consigo me mudar, então, decidi sair da sua vida para que você pudesse encontrar uma pessoa que fosse capaz de te fazer feliz de verdade.
Mas o que eu poderei sempre garantir é que ninguém, jamais, te sentirá como eu senti você em mim. Ninguém te beijará mais apaixonadamente do que eu e nem chorará mais do que eu já chorei. Luto todos os dias contra mim mesma para não me reaproximar e te fazer sofrer mais com isso. Sinto que não posso brincar com os seus sentimentos, pois acaba ferindo muito mais a mim.
E quando penso em sair de casa e fazer qualquer coisa que possa me fazer te esquecer, uma vontade avassaladora de te dizer o quanto eu te amo toma conta de mim. Sei que não devo e não farei. Meus olhos lacrimejam mas mantenho-me firme. Sempre com o pensamento de que isso será o melhor e a mais nobre atitude a ser tomada. Não posso dizer assim tudo o que tenho dentro de mim e te confundir, mas, infelizmente, tudo isso dentro de mim é forte demais para conseguir te ignorar.
Um último trago, um último gole e um último suspiro. Com uma revoada de pensamentos em minha cabeça eu fechei os olhos e, estranhamente, enxergando seu sorriso largo diante de mim, eu disse: 'oi :)'. Não tive um dia bom hoje, mas sei que após falar com você, o restante das horas serão bem menos dolorosas."




Acredite, eu sei de muitas coisas.
Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, outubro 1

Dias de luta, dias de glória.

Hoje acordei com um pensamento diferente dos quais haviam nos dias passados. Acordei com a sensação boa de, mesmo parecendo não haver qualquer chance de mudança, saber que posso fazer deste um dia diferente dos anteriores. Bastaram apenas alguns minutos de intensa reflexão para, enfim, descobrir tudo aquilo que realmente já me fez feliz. Nada daquilo que outrora me fez sorrir há em minha vida neste momento. O planeta gira e revira nossos pertences com consequencias de nossos próprios atos. Atitudes precipitadas, atos que ferem e magoam. Injustiças, muitas vezes involuntárias, mas que assim mesmo destroem todo o progresso alcançado com difícil esforço.
A vida, entretanto, me ensinou a nunca desistir. Mais importante do que obter ou perder coisas especiais em nossas vidas é o fato de poder evoluir com cada vitória e derrota. Aprender que quando erramos, o ideal é se arrepender e tentar se redimir. Inventar motivos e dizer que "foi melhor desta maneira" ou enumerar os prós de uma falha não a faz menor ou menos dolorosa. Aprender que deixar de mão subitamente nossos sonhos é o mesmo que sofrer para conseguí-los, sem a recompensa no fim de tudo.
Hoje eu acordei e disse para aquele velho conhecido, que há tempos não via refletido no espelho, tudo aquilo que deveria ter dito enquanto tive calma, como essa de agora. Disse que sou uma pessoa apaixonada, que sente saudades daquela que me faz bem, que já pensou em desistir diversas vezes, mas que no fim nunca irá embora sem tentar uma última vez. Que pode ser tirado de mim tudo o que tenho, mas as coisas boas que fiz pra quem amo é eterno. Marcou como tatuagem e não há esforço que possa apagar isso. O esforço é inútil nesses casos. Eu já tentei, mas não é possível remar contra uma maré tão forte quanto essa. Tentar esquecer não me fez uma pessoa mais feliz. Muito pelo contrário. Fez-me apenas pensar com maior intensidade e me lamentar, cada dia mais, por não poder ter feito diferente quando pude.
Desisti de sofrer e lutar contra os meus verdadeiros ideais. Assim como tudo foi me tirado e degráus da escada da vida eu desci, um a um eu vou trazendo de volta todos os meus melhores momentos, melhores pessoas e melhores dias. Talvez nem tudo volte. Isso é só o futuro quem determinará. Ainda assim, sinto-me otimista. Sei do que eu sou capaz de ser e fazer. Estou à um mínimo passo da minha plenitude, do meu melhor estado de espírito, mesmo ainda não tendo nada. O motivo é porque, diferentemente de antes, agora eu confio em mim como nunca confiei. Antes de desconfiar das pessoas que amo, desconfiei de minha própria capacidade. Todos temos momentos turbulentos. Todos nós já perdemos a cabeça e tomamos decisões e fizemos coisas precipitadamente. Somos vítimas de nossos próprios medos. Somos seres humanos. Estamos perdoados.
Ainda que muito sei que devo trabalhar para reconquistar minha antiga vida, um sorriso largo surgiu em minha face. Trouxe lágrimas, mas não de dor e sim de otimismo. Esse sim sou eu. Esse sim é o meu sorriso. Resgatei todo aquele talento que estava guardado no armário. Assim viverei, pois agora eu entendo tudo. Compreendo o porque das coisas, mesmo após de aprender que sentimentos valem mais do que respostas. Eu sinto. Sinto que estou no caminho certo, mesmo sem conhecê-lo bem. Mesmo conhecendo-o bem o bastante.




Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, setembro 28

Dúvidas, milagres e espera.

Talvez eu veja fantasmas onde não existem. Talvez sonhos sejam apenas coisas que brotam em nossa imaginação como as flores desabrocham dos botões. Talvez eu já sentisse dúvidas antes mesmo de saber as questões oferecidas pela doce fábrica que se chama vida.
Nada mais importa neste momento. Nada mais. Nunca mais eu quero dizer, sistematicamente, repetidas palavras que só me causam aflição e medo. Sinto-me imponente, confiante e sereno. Entretanto, ao abrir a porta dos meus domínios, uma torrente de água cai sobre minha cabeça. Um verdadeiro mar de possibilidades e ramificações de conclusões para a vida. Nada mais faz sentido.
É como se o tempo congelasse e eu permanecesse lúcido, para analisar com maior clareza tudo o que está ao meu redor. Pessoas, pássaros, objetos, sentimentos, expressões. Tudo. Tudo o que eu posso ver, sentir e pensar está logo ali, ao meu alcance.
Não existe alcance que ultrapasse as linhas da imaginação. A distância é infinita, ininterrupta, estável e fixa. O que os olhos enxergam são pouco ou quase nada, comparado aos olhos da mente. Nada mais importa agora.
O que acontece, afinal, é que eu quero alguém sentado ao meu lado nesse chão frio, para compartilhar veredas singulares. Espero por um milagre. Este, enquanto não acontece, faz-me dizer loucuras, respirar ofegante e correr em meio ao manto da escuridão. A vida é uma linha tênue. Se em um momento estamos em profundo êxtase, no outro estamos em tormentas poderosíssimas. O que eu faço é me apegar à fé e nunca deixar de acreditar, pois milagres existem e sempre acontecem. Quase sempre eles acontecem.




Pense o que você quiser. (Y).

domingo, setembro 26

Limites do acreditar.

Passei bastante tempo apenas pensando em todos os acontecimentos recentes em minha vida. A vontade de trasncrever tudo, durante algum tempo, se escondeu em minh'alma e sentiu medo de se expor de forma negativa. Contudo, assim como os dias e as noites, certos hábitos e atitude que já faz parte de nosso caráter pode partir, mas sempre volta trazendo coisas novas. Um novo sol acaba de surgir dentro de mim.
Confiança é algo que não tem feito parte da minha vida ultimamente. A ânsia de descobrir o porquê das coisas e me fazer chegar logo em um ponto final me fez desacreditar e desconfiar de pessoas que não mereciam. E não foi somente isso que fiz. Também magoei, feri e confundi. Acabei mostrando para todos um lado insano de mim. Aquele lado que lutei todos os dias para que não fosse liberto, que permanecesse adormecido durante toda a vida. Quando esse "monstro" acordou, devastou os sonhos e os sentimentos de muitos, mas nada que ele tenha feito possa superar o que fez comigo, o que eu fiz comigo mesmo.
Eu não consigo explicar com palavras tudo o que posso sentir neste momento. Apesar de sofrer em demasia por olhar um monstro diante no espelho quando deveria me ver, acredito veementemente de que isso foi necessário. Fez-me descobrir quem eu posso ser se não controlar os meus sentimentos, o que eu posso fazer se não conseguir manter a calma, a vontade de obter as respostas.
Respostas estas que obtive. Agora eu consigo ver com clareza tudo. Consigo saber o porque de tudo e vejo o quanto e como as coisas fazem sentido. Um momento de lucidez foi precedido pelo meu momento de maior loucura. Insanidade que me afastou daquela que mais tive apreço. Não consigo explicar como e nem quando eu consegui, exatamente, entender tudo o que aconteceu desde o início, mas agora eu estou no ápice do saber.
É muito difícil assumir um erro. Mais difícil ainda é se arrepender do erro que cometeu. Tentar encontrar respostas, motivos e explicações para justificar atitutes que não fizeram bem nenhum para ninguém. Pois bem. Assumo que me arrependo de cada um de meus atos recentes. Não tive motivo nenhum, mas mesmo assim fiz. Confabulei coisas por estar numa busca por respostas que agora vejo de que nada adianta. Troquei uma pessoa pela qual eu não canso de dizer que amo por respostas bobas e idiotas que não trarão de volta tudo aquilo que eu quis e já tive um dia.
"Mereço o castigo. Mereço ser excluido e esquecido. Não acreditei quando deveria e, agora que acredito, é tarde demais. O que devo fazer é tentar seguir a minha vida em paz e deixar que vivam as suas vidas na mesma paz."
Minha esperança havia esaparecido por completo quando disse isso para um velho sábio. Após contar todos os fatos e dobrar o meu orgulho ao assumir que estava arrependido, ele me fez crer que, mesmo quando tudo está perdido, desistir é a pior forma de conseguir o perdão. Disse que todos erram, mas quando se ama, se há somente vítimas. Que cada um sofre pelos seus próprios atos, não pelas consequências que eles trazem. Consequências são o que os outros pensam ou agem em relação ao que você fez. Consequências não consertam erros, atos inversos sim. Disse que pedir perdão é um alento para o sofrimento, por mais que o perdão não venha.
Agora a moeda mudou de face. Tenho um pouco de sorte de saber tudo o que sinto agora já foi sentido por outra pessoa num passado próximo e tudo o que ela deve sentir agora eu já senti. Sinto que é praticamente impossível reverter a situação, assim como já pensei. Mas, já que o sábio me devolveu um pouco da esperança que eu havia perdido, sei que enquanto ainda houver uma semente minúscula de sentimento dentro daquele coração, tudo o que eu preciso fazer é regar novamente para que possa nascer uma flor.
No fim, eu percebi que respostas nunca importa. O que agente sente é o que sempre valerá mais. Eu fiz a escolha tola de trocar meus sentimentos por respostas. Agora sofro. Mas se tudo o que eu gostava fiz questão de jogar fora na minha caminhada rumo aos desfechos, tentarei mais uma vez voltar ao início e fazer diferente. Tudo o que eu preciso é de uma chance. Na verdade, 0,02% de chance já basta. Se meus olhos lacrimejam agora, não é porque me sinto perdido, mas sim confiante. O mal que causei, as desconfianças que tive foram pelo simples motivo de não acreditar em mim mesmo e na minha capacidade antes. Agora eu acredito e sinto que voltei a ser que eu sempre fui, mas que perdi no meio da estrada.



Bon voyage.
Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, setembro 24

Fim, começo e recomeço.

Passo por uma fase de adaptação. Não consigo compreender o porquê das mudanças, mas creio que elas sejam mesmo necessárias. É chegada a hora de aprender a lidar com o novo, com o desconhecido, com tudo aquilo que antes era apenas imaginação e ilusão de uma mente fértil.
Segui ao pé da letra a expressão que eu mesmo disse tempos atrás. A de que "cada passo adiante que damos, deixamos coisas valiosas pelo caminho". Um mal impressindível para quem precisa se evoluir, se conhecer. O mal que faz constatar que a vida é um conjunto feito por vários ciclos, onde sempre há o início, o meio, o fim e o recomeço. Porquê é quando buscamos as respostas das perguntas antigas é que descobrimos mais enigmas para desvendar. Quando saciamos nossa sede do saber é quando a excitação de conhecer mais do desconhecido nos cerca. É quando a vingança pulsa forte, a satisfação grita e o futuro vira presente.
Hoje, pude presenciar o fim de mais um ciclo. Conquistei respostas que há muito desejei, responder à perguntas que nunca foram feitas até então e entender o porquê que "os fins sempre justificam os meios". Lamento os erros que cometi, mas não me arrependo deles. Fico feliz por ter feito sempre as coisas que eu achei que era correto, ao invés de agir única e exclusivamente como o meu coração e minha mente pensava.
É preciso prudencia pra ser louco. Não podemos agir insanamente. Porque tudo o que fazemos hoje, no recomeço, pode fazer toda a diferença e interferir no êxito. Entretanto, me conforta saber que enquanto a morte não chega, os ciclos vão se iniciar, desenrolar e se encerrar, trazendo sempre as respostas e os objetivos.
Posso dizer que, diante de um novo começo, pude perceber que cumpri com muitos objetivos que tracei. Alguns não como exatamente planejava, outros de forma melhor daquela que eu imaginei. Deixei de concluir muitas coisas, mas nada que me faça falta agora. Pois o que passou passou e que venham os novos desafios.




Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, setembro 20

Variáveis e constantes.

Repentinamente, tudo torna-se escuridão. Meus olhos vendados pelas trevas numa trilha de destino fazem-me tatear o corrimão cortante daquela escada em que para cada degrau que subo, mais longe fica o topo. A luz da lanterna que me guiava agora se apagou. Resta agora somente eu e meus sonhos decadentes. Tentativas frustradas de construir um futuro, participar do futuro de alguém e cumprir algumas promessas.
Promessas não são somente aquelas em que vêm antecedidas pelo "eu prometo" ou "eu juro". Fazemos promessas diárias com todos quando, simplesmente, damos nossa palavra e exigimos confiança. Quem não tem consciência disso, acaba tropeçando na própria capa de soberba e deixando um punhado de coisas para trás por não assumir responsabilidades. Ser responsável por alguém é prometer cuidados. Cuidar é prometer carinho. Assim por diante.
Houve o tempo em que eu desisti de fazer promessas. Cheguei a acreditar, inclusive, que elas são desnecessárias em nossas vidas e que sem elas viveríamos melhor. Doce engano. Sorte minha que ainda sou uma variável. O orgulho faz das pessoas uma constante. Eu já fui uma constante inflexível, como muitas pessoas que me rodeam atualmente. Como essas pessoas que sobem pela mesma escada que eu e que, a cada passo, deixa pelo chão desejos, vontades, tudo. Mesmo sangrando, não são capazes de tentar salvar aquelas coisas que realmente importam.
Penso nas pessoas que são regidas pelo orgulho severo e imponente. Pobres seres que sempre ao dormir pensam em tudo aquilo que gostaria de ter ou de recuperar, mas ainda sim não se esforçam. Preferem esperar que o prêmio venha fácil e acredita que aguentar a espera faça um sofrimento melhor do que buscar as respostas e encontrar a frustração e a derrota.
Sou um derrotado, confesso. Opto sempre por sacrificar o meu esgotado orgulho e lutar um pouco mais para segurar em minhas mãos tudo aquilo que desejo. Ora ou outra eu deixo cair algo e, quando tento recuperar, acabo deixando cair mais e mais coisas importantes. Mas porque não descer alguns degraus e tatear também o chão para, quem sabe, reencontrar minhas coisas queridas?
Prometi ser mais sensato, menos eloquente. Prometi sempre ser sincero e nunca omitir nada. Prometi amar para sempre. Prometi fazer sempre o possível para ajudar as pessoas. Prometi ser menos frio e rígido. Nenhuma dessas promessas eu disse que prometeria, no entanto. Algumas eu cumpro, outras já deixei há tempos. Por mais que não quisesse, sempre prometi algo para alguém ou para mim mesmo. Uns podem chamar de metas, outros de objetivos. No final, contudo, tudo será fruto de um mesmo denominador. Variáveis de uma mesma constante, numa tentativa frustrada de ludibriar a verdade.
Os dotados de orgulho não admitem, mas podem ser as menores e mais fracas pessoas que conheço. Promessas foram feitas para serem cumpridas e para não serem cumpridas também, pois quando deixamos de conseguir algo, tornamos-nos mais fortes e melhores. O orgulho mais nobre é ter a humildade de admitir que não foi capaz de ser quem "prometeu" ser, ou de voltar atrás de uma decisão. Nada volta a ser como antes, mas quando nos redimimos, nos comprometemos a não pecar nos mesmos pontos.
Se desculpar, se redimir ou retroceder é um passo importante na subida dessa escada sinuosa, mesmo que esse passo seja para o degrau abaixo.




Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, setembro 16

Mais um mês.

O tempo é complicado de entender. A relatividade foi descrita com ele, mas nem o cientista tem a exata noção do quanto ele pode ser perturbador na vida de um poeta. Se imaginação vale mais do que conhecimento, quem escreve deixa de lado ambos e passa a valer somente aquilo que está dentro do peito. Os segundos são os batimentos cardíacos, os ponteiros são as artérias e veias. O despertador é a dose de adrenalina injetada e toda a perturbação que contagia o corpo a cada passo e olhar daquela que sentimos saudades de ver. E a saudade é, ao mesmo tempo, a pilha que move tudo e a ausência dela que faz o relógio "morrer". E em meio a tantas certezas e incertezas, os paradoxos são infinitos, mas que, como tudo, sempre tem um final.
Ao mesmo tempo que durou uma eternidade, esses últimos trinta dias passaram como um carro da Nascar. Enquanto muito aprendi nesse último período, de nada ainda continuo a saber. Assim como caminhei com passos largos, não saí do lugar. Lembrando sempre tudo aquilo que fiz questão de esquecer à cinco minutos atrás e que esquecerei nos próximos cinco, pra lembrar daqui a dez e seguir a minha vida.
Não sei como se faz pra apagar aquilo que está tatuado na pele. Não sei como se consegue mentir para nosso interior e nos convencer de que "o que passou, passou". De que adianta encerrar ciclos se eles ainda estão presos dentro de nós com amarras grossas e cadiados gigantes? Há coisas que, por mais que tentamos com todas as nossas forças, não conseguimos apagar.
Em meio de acertos e tantos "erros", muitos dos quais anseio descobrir, busco, ao menos, uma plenitude temporária. Busco conhecer o meu interior e tentar desvendar em mim um lado pecador e, também, misericordioso. Se sofremos por acreditar que não há perdão para certos atos e atitudes, porque não nos perdoamos primeiro? Ou porque não buscamos o perdão?
Talvez haja ainda muito para a evolução da humanidade. Aprender que o orgulho nem sempre é necessário e que quando abrimos mão de algo, não só deixamos de ver o fim, mas também de fazer parte dele. Perder é e sempre será melhor do que desistir. O essencial é e sempre será invisível aos olhos. Palavras jamais valerão mais do que sentimentos.
Logo, se um dia eu puder ver mais uma vez aquele par de olhos, mesmo tristes, mesmo cansados, eu descobrirei o que há diverdade dentro da janela de sua alma.





Pense o que você quiser. (Y)

sexta-feira, setembro 10

Além das sete cores.

A subida não parece tão íngreme de dentro do carro. Serpenteando rapida e intensamente entre floresta e casas bonitas, alço o vôo em direção ao topo, ao pico do céu. Busco aquele ar que não consigo inspirar ao nível do mar, cercado de prédios e poluição. Não há nada acima, além do céu. Abaixo do morro, os prédios parecem como os daquele brinquedo que costumava montar casas em minha infância. Entrando na pequena xácara, meu copo é a última esperança de paz. Os amigos foram os que Deus me consedera alí, na hora. Aceitaram de braços abertos um desconhecido, portando apenas seu violão e sua inviolável sabedoria e tristeza.
A magnífica vista é algo indiscutívelmente indescritível. Quando perguntado se preferiria uma paisagem de sol, arco-íris e mar, eu respondi que não trocaria paisagem nenhuma por aquelas que minhas retinas captavam naquele momento.  Uma paisagem praiana é repetitiva. Logo, nos faz pensar sempre naquelas coisas que não queremos. Observe, agora, toda essa infinidade de informações! Prédios de todas as formas e tamanhos diferentes, com cores diferentes. Olhe ao fundo a baía, com uma ponte sepadando-me de onde estou e de onde eu moro. Árvores e catedráis. Carros e aviões. A diversidade é tamanha que não me deixa pensar em nada. Apenas observar e conseguir destinguir o maior número de formas possíveis. Não me deixa pensar no quanto o prefíxo ex- ainda me dói quando falo, mas infelizmente, tenho que dizê-lo. Não me deixa pegar o baseado que está aceso, pois minha vez é e será sempre a próxima. Não me deixa ver o quanto de solidão e cáus há dentro de minh'alma e coração. Tudo. Nada me consome enquanto meus olhos ainda estiverem abertos observando tudo aquilo.
Pouco a pouco, um a um, meus novos amigos se retiram da varanda. Restou apenas eu e todo o meu universo, que aprendi a gostar mais do que aquele velho arco-íris que eu já quis dar de presente para alguém ex-pecial. =(




Rápido, porém intenso.
Pense o que você quiser. (Y)

terça-feira, setembro 7

Partir e repartir.

Sou imaturo para tratar-me como adulto e, ao mesmo tempo, antiquário o suficiente para não me sentir jovem. Sou o que divide os loucos dos sãos. A fronteira entre o heroísmo e a covardia, entre a coragem e o medo, entre o existir e não existir. O copo vazio, o cofre quebrado, a carta aberta e lida. Não sou Raul, mas sou meu próprio fim, início e meio. Sou meu próprio meio de locomoção, minha visão e audição. Sou punk, erudito e popular. Uso ouro, prata e brincos baratos. Escrevo visões, sentimentos e imaginação.
Até hoje ainda não descobri se alguém é capaz de me entender. Sou tão claro como a luz do sol, tão misterioso quanto a lua e tão complexo quanto o big bang. Minha flexibilidade é a de ser inflexível quanto aos meus próprios costumes. Minha mudança é nunca deixar de ser quem eu sempre fui, mesmo tendo dentro de mim milhares "eus" diferentes. Seja lírico ou psdeudônimos, sempre haverá uma caracteristica única.
Minha face é e sempre será meu legado. A cabeça erguida será a minha lei. Necessito renovar meus velhos costumes e novamente voltar a acreditar no que o Mago disse. Há de ser tudo da lei quando fazemos o que queremos, desde que façamos possuídos do amor mais puro, rico e verdadeiro por qualquer se sejam nossos ideais e objetivos. É quando agimos seguros e gostamos de nossas atitudes que tudo tomará sentido.
Não adoto banalidade em minhas palavras e costumes. Não minto naquilo que escrevo, como um genuíno poeta, pois estes instantes em que me deparo com papel e caneta é quando entro em contato com minh'alma e todos os seus anseios. Encaro vitórias como reconhecimento de meus talentos e esforços. Derrotas, confesso que nem sempre trato como aprendizado, mas acabo aprendendo mais a viver e conviver com outras pessoas a cada tombo que tomo. Assim como uma criança que chora ao cair da bicicleta, mas que se levanta e não deixa de tentar novamente, eu aprimoro os meus conhecimentos.
Se digo que gosto, é porque gosto de verdade. Se digo que tenho fé, é porque ela mora dentro de mim. Quando digo que não me importo, é porque de fato não há significado. Não gasto desnecessáriamente os meus "eu te amo" e os verdadeiros amigos em que posso contar, mesmo sabendo que sempre serei sozinho no mundo, são diversos. Não me apego ao impossível ou improvável, assim como desconfio do fácil. Acredito que, para algo valer a pena realmente, a balança deve sempre estar equilibrada com os prós e os contras.
Sou permanentemente mutável. Contemporâneo, Barroco e Romântico. Sou minhas próprias armas, minhas próprias pernas e asas. As grades da minha gaiola se chama atmosfera e a partida é a minha maior necessidade. O que há além do horizonte eu posso não saber. O que se esconde ao fim da ponte, quais os valores de alguém. Para cada vez que coloco-me na estrada, deixo um pouco de mim em cada lugar em que passei. Quando parto é quando me reparto em migalhas guardadas como o mais precioso diamante. Todos se lembrarão de mim e eu me lembrarei de todos aqueles que me cativaram.
Bon Voyage.




Pense o que você quiser. (Y)

domingo, setembro 5

Túnel do tempo.

Fora um sonho tão belo! Completamente diferente dos pesadelos aterrorizantes que me atormentaram nas noites anteriores. Pareceu-me tão real o sol quente em pleno inverno, o céu limpo, infinitamente azul e enrubrescido em suas bordas por um poente do tamanho da palma de minhas mãos. Meus olhos estavam realmente abertos e o sonho não fora deitado em minha cama, como de costume.
Meu corpo, necessitado de movimento constante, tomou domínio e posse de suas próprias pernas e partiu caminhando em direção ao nada. Saiu em busca, novamente, do seu universo infinito que procura dentro de suas próprias frases soltas em um caderno onde só escreve-se vestígios românticos do que já fora um coração. Algo que é tão visível como o vento, mas tão perceptível quanto.
A ferida funda deixa a cicatriz. A verdade não dita corrói a alma. Viver sem desfrutar da vida é o mesmo que passar despercebido pela Terra. Ver aquilo que se tem apreço afastar-se de nós como uma frecha atirada do arco negro de Thomas é como ser atingido pela mesma frecha bem no centro do peito. E com o sangue derramado pela esfera da existência que guardamos dentro de nós, se vai cada elixir de alma que ainda resta, mesmo após tantos consecutivos golpes e perfurações.
Pobre alma, mente, coração partido e olhos criam esse conjunto. Pernas firmes e enfeitiçada com uma "berserk spell" rumam para o oeste. Leva consigo a pesada bagagem de desilusões, perdas e inidiferença. A armadura, pele enferrujada e remendada após tantos cortes, segue trajando-me firme. Meio pano de fino linho das florestas, e ferro das minas, corpo este é metade de nobre cavaleiro, e outra apenas mais um soldado.
Fora um sonho tão belo! Parecia imaginação, mas era real. Meus sapatos descalçados eu carrego em uma das mãos, enquanto meus pés afofam a areia recém tocada pelo mar. A realidade dói, mas é bela e intensa, mesmo assim. Viagens e mais viagens dou a cada passo à diante. O vento trás o aroma das migalhas de frases e poesias perdidas em meu caderno de antigas realidades e novas ilusões. A última frase de um livro não é, necessáriamente, o fim de uma história. O fim talvez virá, como a alvorada do amanhã, ou talvez já se fora, como o poente que não mais enrubresce as bordas do céu azul como o oceano.





Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, agosto 30

Incompleto

Será que há redenção para os seres de coração puro? Será que há recompensas por fazer coerencia de razão com coração? Será que há gratificações para os justos, sinceros e verdadeiros? Para aqueles que chegam à beira da ingenuidade somente para proteger a integridade do próximo? E para os que renegam os instintos e agem de maneira racional?
Sinceramente, conforme os dias passam, a vontade de ser uma pessoa moral diminui cada vez mais. Vendo que os outros usam clausulas para justificar a falta de respeito, burlar algo que me parece inflexivel tem sido a única a enxergar nesse mundo de sombras, medo e desconfiança. A trapaça é o caminho mais curto para o sucesso. A mentira e a omissão confortam e fazem de nós aquilo que não somos.
Não existe um padrão do que é errado e do que é certo. Ninguém pode tomar decisões por mim ou achar que me esconder um segredo que me afetaria diretamente resolve todos os problemas. Caráter não é preservar. Preservar não é proteger, mais sim mostrar o que é a vida de verdade e tudo é feito contra nós têm os prós e os contras que fazem o equilibrio da balança. Não posso convencer a ningém deixar de ser o que se é por pena. Não posso permitir que sintam pena de mim por fazer algo que me desagradaria. Assim como não posso usar argumentos duvidosos para fadar uma certeza.
Lealdade não significa não magoar. O verdadeiro significado é nunca falhar com a honestidade da palavra, nunca deixar de participar e aconselhar, mesmo não se considerando a melhor pessoa para aquilo naquele momento. Não existe no mundo dor maior do que sentimos quando tudo está em silêncio. O mundo, além de envolto às névoas, agora é mudo. Não acende a luz do sol, não diz o barulho do mar, da cachoeira.
Por mais que a insanidade e a fúria tome conta de nós ao receber uma notícia ruim e inesperada, um tapa dado na cara seguido de um pedido de desculpas vale muito mais do que um olhar vazio te encarando, sabendo que têm muitas coisas pra falar, mas que, mesmo assim, adota o discurso das tartarugas. Escondem-se em seus cascos temendo o perigo. Escondem-se dentre os próprios pensamentos e vontades contidas, pelo simples fato de achar que está preservando o próximo.
Se haverá redenção para mim um dia, sinceramente não sei. Se me transformarei nessa tartaruga preservadora, também não sei. O que posso garantir é que não mudarei por nada e nem por ninguém. Descobri que tentar mudar pelas pessoas é uma grande perda de tempo. Depois elas se vão e as mudanças ficam. Sempre, então, que você se olha no espelho, se depara com alguém que não sente mais o menor prazer em ver.




Pense o que você quiser. (Y)

domingo, agosto 29

A dança do anjo e das serpentes.

Sinto o cheiro do sangue da discórdia e desconfiança. Aqueles que hoje estão conosco podem tornar-se inimigos mortais. Os fatos são esses. O caminho é único para cada pessoa. Tendemos a fazer aquilo que queremos e sentimos, individualmente. Nada de pensar no próximo, no coletivo, no que é melhor para aqueles que nos cercam e que temos afeto. A vontade carnal supera o brilho intenso de uma amizade talvez inabalável. Sangram os olhos, sujam as mãos e o dever é cumprido. Nada de se perder boas oportunidades, mesmo que para isso, o coração de alguém seja dilacerado.
Contar segredos é alar as serpentes e aliar nossa pureza fadada sempre ao fracasso com decepção, sofrimento e ingenuidade. Ainda há crianças dentro de cada um de nós. Acontece que, cada dia mais, essas crianças morrem prematuramente, assassinadas pelo monstro, pelo vírus que consome e infecta cada um através da mídia, da má convivência e da sede da vingança.
Troquei as vendas nos olhos pela cegueira permanente. Furei meus olhos para não ver o mundo definhando em minha frente e eu não poder fazer nada para salvá-lo. O mundo pelo qual eu não fiz nada contra e mesmo assim me ataca com verocidade. O mesmo mundo em que vivo é o qual faz questão de me prender, escravizar.
E são tantas mágoas que também não consigo mais sentir nada. Não choro, não sinto felicidade. Esperando apenas a paz de espírito, entro em conflito com meu interior e exterior a cada instante. A mesma mente que trabalha initerruptamente, vive momentos ociosos. Só consigo pensar em não pensar em nada. Só consigo ver rostos de siluetas e ouvir vozes uniformes. O ar que eu respiro não há cheiro que não seja o da desconfiança daqueles que já me ofereceram seus melhores perfumes.
Não há certeza de nada daquilo que guardo em minha mente. Um dia essas certezas virão. Mas enquanto espero-as, preocupo-me em me preparar sempre para o pior e mais sangrento combate que terei contra a vida e contra os meus ideais. Um dia de cada vez. Estudando todos ao meu redor, sem exceção. A serpente pode despertar de dentro de qualquer um. Principalmente daqueles que sabem o meus pontos fracos.
Tenho dançado conforme à música. Lenta, fúnebre e sonolenta. Sou agora o reflexo do espelho, não mais o corpo diante dele. Aprendendo a falar menos, observar mais. Aprendendo a combater as serpentes com armas selestiais. Preparando-me para as consequencias. E por falar em preparar, não importa o quanto estamos prontos, sempre estamos sujeitos à surpresas. E a certeza de que me surpeenderei com meu futuro é a única coisa que eu posso garantir no momento.



Pense o que você quiser. (Y)

quinta-feira, agosto 26

Novas diretrizes para tempos de paz.

Não há um ser humano sequer em nosso planeta que não já tenha perdido a calma, a serenidade e a razão. Não existe pessoa que não tenha sofrido, chorado, se machucado. Também não há quem nunca feriu e fez sofrer. Somos todos um punhado de bem e de mal que, diluído aos nossos sentimentos, transformam-se em uma vitamina de idéias, ações e consequencias.
Somente depois que tudo passa, ou praticamente tudo, percebemos o quanto de errado e de certo fizemos em determinadas ocasiões. Aprendemos a entender a parte que está dentro de nós e criamos paciência para esperar a outra parte do entendimento, que está espalhada por todo o resto do mundo. As suposições tornam-se escassas, a mente começa a buscar novos objetivos, o corpo passa, lentamente, a descansar em paz todas as noites.
Numa busca voraz pela felicidade, esquecemos-nos de que ela nunca durou e nem nunca vai durar para sempre. Momentos felizes existem, tristes também. Mas podemos viver momentos tristes ou felizes em paz. Essa sim deveria ser a verdadeira busca. A pela plenitude do espírito e a da coragem de brigar pela trégua dos conflitos internos e externos.
Lamentamos, muitas vezes, por estarmos em certas situações. Entretanto, não há ninguém suficientemente forte para nos manipular e nos fazer afundar. Estamos onde estamos por sermos o que somos. Somos o que somos porque queremos ser. A vida é uma moeda. Em qualquer escolha, sempre haverão duas faces, dois caminhos, o bom e o ruim, o dia e a noite, o cara e a coroa, o maior paradoxo que a vida já pode nos dar. Quando nossas escolhas caem com a face para o desconhecido, sentimos medo por perder a aposta. E quando há uma sequência de perdas, a mente torna-se frágil, carente e tudo o que acontecer de ruim pode acabar por parecer ser a pior coisa que já nos aconteceu.
Aprende melhor quem aprende errando. Vence melhor quem sabe como é perder. Por isso que o melhor nem sempre é aquele que vence sempre. A dor da perda nos deixa mais virís. O arrependimento dos erros nos fazem compreendê-los melhor e não repetí-los.
Como me disse uma sábia, certa vez, "Se queremos algo, que seja na subida, pois as decidas são fáceis demais, rápidas demais"
Sempre só daremos valor àquelas coisas que são difíceis de se conseguir. Foi assim, é assim e sempre será assim.




Pense o que você quiser. (Y)

segunda-feira, agosto 23

Entre a capacidade e as feridas.

Achei que estava calejado de desilusões. Outrora havia julgado que senti todo o sofrimento possível e que jamais tornaria a tê-lo. Nunca mais senti aquele sofrimento de antes, mas a dor agora é pior e mais intensa. Ultrapassa todos os limites que o corpo pode suportar. Nunca antes pus a mão no peito e o massageei, tentando inutilmente amenizar a dor. Nunca antes sonhei tanto com uma mesma pessoa, lembranças boas, ruins, e coisas que não aconteceram mas que gostaria ou não que acontecesse.
Achei que estava maduro e adulto o suficiente para encarar a vida e todas as suas desilusões. Outrora havia pensado que um raio não caia duas vezes no mesmo lugar. E, de fato, ele não cai. Fui atingido no fundo da alma com uma atitude que, mesmo esperando que aconteceria mais cedo ou mais tarde, não pensei que seria justo naquele momento em que eu carregava toneladas de novos planos e propostas. Cegou meus olhos de tal forma, que não consegui raciocinar numa saída lúcida para tal situação, permiti, então, que meus instintos e mecanismos de defesa agissem por sí só. Sofri mais, me machuquei ainda mais, por não dizer, fazer e agir da forma com que eu realmente gostaria.
Achei que era capaz de controlar a minha mente em toda e qualquer ocasião. Outrora havia determinado a mim mesmo não conhecer o que era a felicidade, o amor. E esses sentimentos eu descobri que só existiram enquanto acreditava neles. O que vejo agora não é amor ou felicidade. É algo que não tem nome, denominação. É algo que te leva do céu ao inferno com somente um único passo, que nos faz a melhor e a pior pessoa ao mesmo tempo, que nos faz assumir a culpa e a responsabilidade de tudo, mesmo sabendo que não é essa a verdadeira realidade. É algo que não se pode lutar contra, mesmo quando o fim chega. É um sentimento que não se pode simplesmente jogar no lixo, porque ele é auto suficiente e se regenera dentro de nós sempre que tentamos excluí-lo. Talvez se ele deixar de ser alimentado possa morrer um dia. Mas deixá-lo morrer faz sofrer tanto quanto mantê-lo vivo.
Achei que conhecia os segredos e armadilhas da vida. Outrora havia constatado mudanças dentro de mim e um amadurecimento quanto aos sentimentos. Realmente eu amadureci. Criei coragem para seguir em frente e arriscar algo maior, verdadeiramente puro e sincero. Acreditei que encontraria a paz ao observar um sorriso, a liberdade ao me fundir e me prender em outro corpo. Realmente mudei de opinião. Agora eu tenho certeza de que não haverá sentimento maior, mais puro, mais forte e que me entristeça tanto. Posso até encontrar alguém que seja capaz de me proporcionar sentimento maior. Entretanto, eu já guardo dentro de mim o infinito do infinito. Não há mais lugar para nada.






Pense o que você quiser. (Y)

Colcha de retalhos.

Peguei minhas coisas e joguei-as dentro da mochila suja. Queria ir embora, precisava ir embora. Não deveria, não gostaria e não agüentaria ficar para presenciar o fim de tudo. Da varanda, um alguém de olhos distantes e chorosos observava a triste cena. Lá se ia o barquinho de papel ao encontro do mar. Partindo solitário, em direção ao imenso mar de gente. Toda aquela nossa magia se acabou. A casa ficou pequena e apertada demais para nós dois. Talvez eu não quisesse ir, é verdade. Mas você é capaz de me esperar voltar? É capaz de cuidar de si mesma, enquanto eu encontro respostas? É capaz de compreender que eu parto pra ter certeza de que você é mesmo tudo aquilo que me faltava? Ouvi dizer, certa vez, que os dispostos se atraem, não os opostos.
Isso não é uma carta de amor, não é. São pensamentos soltos que vieram agora em minha cabeça, como um trovão corta o céu tempestuoso. Quero que tente entender o que nem eu entendo. Não sou um sujeito normal, você sabe muito bem. Faço as coisas que me vem em mente, digo-as sem o menor resguardo. Sempre fui assim. Posso não agüentar viver sem sua presença, sem seus carinhos, mas preciso de um tempo livre de suas maluquices, caretices.
Aonde quer que eu vá, saiba que estará sempre presa dentro de mim. Meus sonhos vão te buscar todas as noites, para caminharmos num jardim florido e perfumado. Levarei-te no olhar, para qualquer lugar, por todos os dias, até a minha volta.
Nessa viagem, aprenderei a dançar tango, limparei o metrô, andarei pela Bahia. Pretendo ficar rico, voltar e te levar pra outro lugar, além do sol, além do mar. Apesar de tudo, dentre todas as mulheres que tive você foi diferente, com você foi de primeira. Fiquei sem chão, sem ar, quando te vi pela primeira vez. Sabe muito bem disso. Se quiser saber pra onde eu vou, te digo: Olhe para o sol em um dia de céu azul. É pra lá que eu estou indo. Caso não tenha compreendido tudo o que eu quis demonstrar com esse bilhete, eu digo apenas:

Pense o que você quiser. (Y)
(05/02/2010)

sábado, agosto 21

Luz no fim do banho.

São tantas palavras, tantas frases, tantas opiniões, dúvidas, sugestões da verdade, que me perco em cada parágrafo de pensamentos. A torrente de água gelada em minha cabeça só faz misturar ainda mais as idéias e desconfiar mais do futuro triste e fatal. Não me faz acordar da embriaguez do dia anterior, não me faz lembrar de nada, também não me faz esquecer coisas que gostaria muito, se pudesse.
Uma lacuna gigantesta ainda está por preencher. Páginas e páginas de um livro com uma história tão intensa, mas que um bom pedaço simplesmente deixou de ser escrito, ou se foi escrito, deixou de ser publicado. O chuveiro ligado e derramando sobre a minha face a bênção e a dádiva da vida, não vem consigo esclarecimentos. Não tras de volta, também, o estado sóbreo do meu corpo, após shots de vodka pura da noite que se passou.
Assim como a água já derramada, tudo em nossas vidas passa. E se o banho leva embora as impurezas, a vida também nos leva coisas que julgamos impressindíveis. Ela nos prega peças, nos surpeende e nos faz perder e ganhar a todo instante. Estou limpo. Limpo de felicidade, de harmonia, de amor, de misericórdia. A vida, em mais uma de suas surpresas, me esvaiu desses sentimentos. Por vezes me conformo, em outras sinto raiva, ou até tento ignorar. Mas não é fácil ignorar ou se conformar com um espaço enorme vazio dentro de sí. Não é fácil lidar com a perda, com a derrota, com a pena.
Tenho consciencia de que, pouco a pouco, esse espaço será preenchido com diversas outras pequenas coisas. Oque me pergunto, entretanto, é se eu serei mesmo capaz um dia de preencher novamente esse espaço, tentar escrever alguma coisa nas páginas em branco do livro. Sofrimento como esse que sinto agora eu não desejo a ninguém, nem a mim mesmo, numa próxima vez.
Há peças que acabamos perdendo, mas essas são únicas e insubstituíveis. Não haverá peça ou frase que se encaixe com perfeição. A mesma gota d'água não toca duas vezes a nossa pele. Não nos faz lembrar, mas não nos faz esquecer. A vida não nos tira nada, nem nos dá. Mostra apenas os caminhos pelos quais devemos percorrer, ou que somos obrigados a percorrer.



Pense o que você quiser. (Y)


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