domingo, maio 15

O filho do mundo.

Não haverão bifurcações nas estradas. Não haverão portas fechadas. Nem dos carros que pedirei carona e tão pouco das casas e albergues que me acolherão. Sou abraçado por essa esfera assim como uma mãe abraça seu filho especialmente querido e amado. Assim como minha própria mãe abraçava-me em minha infância. E pela esfera eu piso. Pela santa inspiração eu espero. Esperto eu fico, pois mesmo um abraço pode sufocar. Assim como haverão pessoas boas, outras não serão tão generosas assim. Mas não haverão pontes quebradas. Não haverão luzes apagadas.
Por onde passo, guardo a chave da porta. Meu chaveiro está repleto delas. E cada cama é minha por uma noite ou duas. Estou de volta! Vida nova, novamente. Nova a casa, nova a mente. Renova este sorriso ao me ver voltar, após me ver partir. Após me ver vencer. Pois eu venço cada obstáculo em cada rua que atravesso, em cada esquina que viro, em cada cafezinho na padaria que peço. Nunca me esqueço dos amigos que deixei por este desafio que a mim mesmo lancei. Guardo cada um destes em cada chave, em cada casa, em cada carro. Guardo cada um dentro da minha mente e das minhas lembranças. As lembranças de quem chorou ao me ver partir, sabendo que sorriria ao me ver voltar.
Pra quem sabe olhar pra trás, nenhuma rua é sem saida. Por isso que não haverão caminhos que não poderei cruzar. O almoço está na mesa e eu mesmo o fiz. Esta casa não é a minha, mas sou acolhido como filho. O hóspede que sabe onde guardar os talheres após lavá-los. A visita que varre o quintal, que leva o cachorro para passear. O tio, o sobrinho, o filho, o irmão. Uma grande família de uma única pessoa que nem o sangue diferente pode contestar essa legitimidade. Nem idade, nem documento. A família é formada a cada momento, a cada passagem. A cada partida e a cada regresso.
E o que há de haver quando o fim chegar? A estrada pode ter fim um dia. O planeta está ficando pequeno para seu grande filho. O abraço está ficando com seus braços curtos. Não se preocupe. Sábio foi O criador, que fez um mundo redondo, para que possamos voltar sempre para o nosso ponto de partida sem precisar regredir, sem precisar voltar. E para cada vez que cruzamos esse marco, eis que novas estradas surgem, novas aventuras se revelam. Mas as pessoas sempre serão as mesmas. As mesmas que choraram ao me ver partir e as mesmas que me acolherão quando eu voltar.
Uns dizem que eu não tenho paradeiro, que faço desordem, que sou alucinado. Dizem que renego meu lar, que nem sei onde ele fica. Pouco me importo. Poucos sabem que não importa o lugar que eu esteja, pois não importa onde eu esteja, qualquer lugar é o meu lar. Pois sou filho deste mundo, desta esfera. E ela me abraça.




Pense o que você quiser. (Y)

3 comentários:

Iara Portella disse...

Ameei, realmente muito lindo! ^^

Ti Ferreira disse...

O final do texto é sempre THE BEST =)

Paula Carolina disse...

I love it!
LINDOOOOOOOOOOOOOOOOO *-*
Parabéns, Donguinho!


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