quinta-feira, julho 21

Passa tempo.

Passam dias, semanas. Passam meses, passam anos. Passa o trem, passa o carro. Tudo passa. Como nuvem, como vento. Como verdade dita e imposta sobre o tempo. Passo a roupa amarrotada, já lavada, já posta no varal. Já vejo cadente a estrela que plantei, que vi crescer e vi voar. Passam horas, minutos, segundos, frações de todos eles. Já não sei mais o que é relógio, o que é futuro ou passado. Já não sei mais se esse presente que vivo foi mesmo dado, se foi presenteado.  Passa o horizonte para descobrir que a Terra é redonda e que toda a estrada nunca vai ter fim. Passa calor e passa frio, simultaneamente, dentro de mim. Vejo-a passar, somente alma, no universo paralelo, envolto a esse termômetro sem regras. Em meio aos meios, às entranhas de minha própria história.
Sigo, se verdade, a verdade que me cabe no peito. Que pulsa sob a pele, sobre o pensamento, sobre pensamento. Sobra a constante falta de manifestação e torna-se distúrbio o que fora dádiva outrora. Torna-se medo e torna-se pesadelo. Passa a noite, fica a escuridão. A luz do sol me rega, derrama torrentes de calor e meu corpo continua adubado pela fumaça negra de algo maior que a indiferença. Algo maior que a solidão. Solidão que rói que dói. Solidão que me destrói.

Então passo. Questiono-me porque, por mais que eu corra, caminhe e fuja, essa sensação de que é sempre comigo e que sempre serei eu o resultado final dos atos daquela menina, daquela mulher, ainda transfunde-se em toda essa densa fumaça. Porque tudo o que ela faz, ainda, está afetando-me, está completamente presente em minha árdua vida? Todo o desejo de se sentir, de ser feliz, apagou como um sopro simples apaga a chama da vela, da última, carregada com a esperança que coube dentro desta caixa misteriosa que Pandora batizou.
Passa uma mão sobre a outra. Entrelaçam-se e descobrem que estas pertencem ao mesmo corpo só e confuso. Tateia a caixa e descobre que agora ela está vazia, sem cartas, sem vestimentas, sem amor. Apenas fumaça. Cinzas de uma brasa incandescente em um tão distante passado próximo. Pois parece que são centenas de quilômetros que separam duas almas que estão ao alcance de um passo. No universo em que eu criei – e que acredito – não há entrelinhas que as linhas do mundo real tratam de subjugar. É um diálogo. Íntegro, firme, direto, objetivo.
Passa a sensação, passa a vontade. Fica o que tiver que ficar, o que for verdade, o que for essência. Fica o desejo e a saudade. Fica, “nova-mente”, o "até pra sempre".






Pense o que você quiser. (Y)

2 comentários:

Carol Rodrigues disse...

Genial!

Agora o senhor trate de devolver o favor e se esbarrar com a minha inspiração perambulando por aí, dê-lhe meia duzia de esporros, um safanão e traz ela de volta pra mim.

Ps: pode bater com vontade, a safada gosta

Alice disse...

me fez lembrar.. "e o tempo está no pensamentooo"


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