quarta-feira, junho 20

Vontade.

O cigarro que outrora apagara, agora precisa ser reacendido. Soltará a densa e enigmática fumaça no quarto escuro, criando formas aleatórias, mas que fazem todo o sentido.  E tudo haverá de fazer sentido.
Não que no passado eu declinasse a idéia de tragá-lo. O que não conseguia aceitar era a idéia de ser dependente daquele vício que me consumiria, me causaria malefícios irreversíveis. E de que adiantou não experimentar? De que valeu o aprendizado de olhar, admirar, querer e, ainda assim, temer tocar, temer senti-lo dentro de meus pulmões e mente, preenchendo-me e saciando todos os meus mais profundos desejos?
Perguntas. Dúvidas corriqueiras que precedem toda e qualquer escolha feita em toda e qualquer vida de todo e qualquer ser humano. Se os olhos fecham-se para a fumaça, o perfume doce, do que passa a ser pescoço na imaginação, toma conta das narinas. E se a boca abre para exclamar algo, um beijo de saliva – e fumaça – toca suavemente os lábios pedintes. E aí a alma clama por ajuda, orientação, querendo saber o que fazer para evitar cair neste precipício que parece tão impressionantemente prazeroso.
O coração bate acelerado a cada fósforo riscado, mas sua chama apaga-se com as lágrimas que escorrem.  O passado assombra como um vulto seguindo-nos pela escuridão, como um assaltante. Bate insistentemente, quebra o peito com as vibrações agudas. A vontade de se entregar é imensa. Mas eu sei que após dado o primeiro trago eu não conseguirei parar, pois o meio termo não existe neste quarto escuro, vazio e solitário. Um corpo precisando, relutante, de uma companhia e há fumaça, há fogo e há prazer, apesar de haver os erros passados.
Eu não sei gostar sem amar. Não sei querer sem estar perto. Não sei brincar. O que sinto é real, sério, minuciosamente estudado. Contudo, após o primeiro passo, não consigo mais controlar. Sou tomado, envolto, por esta fumaça chamada sentimentos, de todas as formas, tipos, tamanhos, cores e densidades diferentes, mas que ainda são fumaça, que ainda são uma parte do outro em mim. E o que trago não é mais do que uma caixa de fósforos e uma vontade contida de ascender neste sentimento, acendendo o amor e fazendo fumaça. Tragando você.
As palavras surgem, são presas na cabeça, relaxam a mente. Entretanto, chega um determinado momento em que elas precisam ser soltas, assim como o amor, assim como a fumaça e como o presente e todas as aventuras anteriores têm algo em comum: Um cigarro e a vontade de ver se dissipando mais fumaça e exalar mais para que ela nunca deixe de existir. Até que meus órgãos falhem e o amor acabe.
Mas enquanto seguro-o – seguro-a – em minhas mãos, eu pergunto-me, sempre, se isto é mesmo tão ruim e se realmente um dia terá fim.



Pense o que você quiser. (Y)

2 comentários:

Anônimo disse...

A cada dia melhor... (Y)

Anônimo disse...

Ta dando bote, Victor? hauahauaha


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