segunda-feira, fevereiro 6

Perto e longe.

Dizem que era pra eu estar aqui ainda, parando, parado, esperando, esperando e esperando. Aguardando a resposta que não vem, o abraço que não foi dado, a carta de amor não entregue, o soldado voltar para levar seu cão para casa. Sinceramente, realmente, originalmente, não sei por que eu ainda insisto nessa vaga esperança de te ver saindo por aquele portão, sorrindo e me chamando para andar do seu lado como outrora fizemos. Compartilhar daquelas mesmas, velhas e incansáveis, veredas ímpares de um par de corpos que juntos tornam-se denominador comum. Contudo, não estou aqui. Não era pra estar, contudo estou. Contudo, não estou.
Pode-se dizer que meu corpo está aqui, de pé, de olhos abertos, olhando ansioso e aflito para enxergar aquilo que mais se deseja ver. Entretanto a alma encontra-se longe, distante, onde os olhos não podem alcançar. Simples e complexo. Fato consumado, consumido e assumido. O relógio marca uma hora a mais que o sol forte que faz escorrer suor e molhar a malha estampada com uma grande gota. Lágrima. Não estou aqui ainda pra chorar, pois o corpo não chora. O choro, quando vem, vem da alma e esta está distante, longe, onde os olhos não podem enxergar, ouvidos não podem escutar, mãos não podem tatear.
Foi-se. Desapareceu e evaporou. Voou, voou e voou. Pra onde será que foi essa alma minha, cansada de ser corpo e de esperar o corpo que não sai de dentro daquele labirinto. Achei que eu era Teseu, não Ariadne. Achei que o minotauro estava dentro de meus medos, envolto às minhas sombras, não que fossem as sombras do passado a me assombrar. Mil anos em uma tarde, com flores nas mãos e espinhos no peito, de tanto esperar, espetando profundo. Bate o coração, coçam as mãos, formigam os pés. Eu não consigo ver, pois não estou lá, apesar de ainda estar.
Os olhos cansados serram-se em sincronia com o crepúsculo. O corpo ainda resiste firme, imóvel. Torcendo para que o primeiro movimento possa ser o de pôr um pé na frente do outro e correr para o seu encaixe.  Correr, correr, correr e, antes de abraçar, largar flores pelo chão, dores pelo passado e temores pelo caminho. Percorrido, comprido, largo. Cumprido, cumprimentado, completado o trajeto. Seria se a porta se abrisse e depois o portão e depois ainda o baú de segredo de sentimento daquela que me completa. E mesmo esta lacuna preenchida não me satisfaz e mesmo esse cálice não me embriaga. Estou farto de esperar e saber que esperar não pode ser mais do que ficar em pé, olhando, torcendo para que aconteça algo que não acontecerá.
É a alma que move o corpo. São os sentimentos que nos levam a fazer todos nossos atos. Minha alma se deu ao trabalho de deixar meu corpo criando raízes em frente aquela esperança quase morta de poder ver um rosto, mesmo que se surgisse outro no lugar deste que era pra se ver. Paciência, logo. Para quem esperou, esperou e esperou tanto tempo, under the moon by midnight, talvez eu possa ter uma vaga esperança de ter uma vaga dentro daquele lar, um dia qualquer. Espero até o almoço do dia seguinte? Farei isso. Estou esperando, contudo não estou. Estou longe, em outro lugar. De qualquer forma esperando para voltar para meu corpo, para receber minha alma de braços abertos e, juntos, poder gritar, bater, tocar campainha, insistir, insistir e insistir.
Insistir no amor.


Pense o que você quiser. (Y)

1 comentários:

Alexandre disse...

Que esso ein. Não conhecia esse seu lado.. hehehehe Manero


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