terça-feira, abril 24

"O Serto"

Hoje eu ouvi uma canção que me fez lembrar você.
Não sei se é certo voltar a escrever, mesmo após tanto tempo, uma carta e enviá-la. Contudo, as coisas que existem dentro de mim ficarão para sempre, ninguém poderá retirar ou apagar. Pois fomos o que fomos um para o outro. Esta é a minha história, que antes de te conhecer também era minha e, com você presente, passou por um breve momento a ser chamada de nossa.
O “nós”. Encaixe perfeito numa sincronia torta de “eu” e “você”. É engraçado como passa o tempo e, subitamente, o coração recorda e sente com saudade aquele abraço, aquele cheiro. Não que a deseje de volta. Acredito que, se um dia te encontrar andando pela rua, você não será aquela mesma que afagava meus cabelos com mãos leves e que tocava meus lábios com o dedo sempre que eu estava prestes a falar alguma besteira. Nós – eu e você – mudamos muito. Hoje minhas cartas são mais bem elaboradas, meu cabelo cresceu. Suas unhas – suponho – nunca mais foram pintadas de vermelho e aquele batom está guardado dentro da gaveta, junto com todos os presentes que te dei.
O errado sempre é o certo. Sabíamos disso.
As noites em claro, assistindo histórias de preconceitos, guerras, espera e tempo, cartas, cartas, cartas e cartas, me fizeram perceber que a vida não acaba quando um amor deixa de existir. O amor nunca deixa de existir, se transforma. Coisas ditas ao pé do ouvido não voltam ao coração. Noites abraçadas sob os cobertores não perpetuam o calor. Erros podem tornar-se acertos. Afinal, onde quer que você esteja, sei que está viva, está bem e está feliz. Sei que olha pro céu e enxerga sua estrela, seu príncipe ou sua flor.
Eu vejo a lua. Ela sempre será do mesmo tamanho, mesmo que a sombra de nosso Lar faça com que ela se vista de negro e esconda seu brilho, ás vezes. Eu vejo aquele píer, aquela casa verde, com a varanda em que eu me sentava para brindar à felicidade de ter você dentro de mim. Bebo um café amargo, choro o leite, quando fecho os olhos e a vejo cantando pra mim, e ainda acredito que a vida é um saco que vai se enchendo de grãos ao longo de sua longitude.
Mesmo distante, mesmo sem saber se um dia poderei fazer isso pessoalmente, gostaria de agradecer por ter sido um grande punhado do meu saco de felicidade. Dizer que jamais eu tirarei da cabeça aquela menina de sorriso doce e olhar enigmático que me conquistou à primeira vista, que nunca irei me esquecer dos desenhos, das cartas, das palavras, das brincadeiras e das lições. Sei que a vida reserva caminhos que, no início, não conseguimos aceitar, como eu não aceitei. Entretanto, se pensarmos o quanto de bom a vida nos trás com um revés, orgulhar-se acaba sendo uma consequência. Sempre o certo e nada mais.
Não sei se esta carta chegará ao seu destino como deve, mas se chegar, não se sinta obrigada em escrever uma resposta. O que quero que saiba é que poderá contar comigo pra qualquer coisa. Qualquer coisa.
Pois “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
“Até pra sempre”.



Pense o que você quiser. (Y)

1 comentários:

Anônimo disse...

Lindo! By Damasio


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