segunda-feira, abril 9

Mentes gêmeas.

Os olhos abrem-se no instante em que o primeiro raio de sol surge no céu obscuro. Talvez já até estivessem abertos, mesmo que sob as pálpebras. Fechados, porém lúcidos. Pois, por mais que houvesse tentado, não fora possível dormir naquela noite.
Ouço, o tempo inteiro, alguém falando sobre almas gêmeas. Leio em revistas, numerologia, astrologia ou todos esses estudos em que pouco acredito. Pensei que almas gêmeas fossem aquelas que se respeitam e se amam acima de tudo. Que se reconhecem num primeiro olhar e se entrelaçam e dançam. Que o corpo de cada uma dessas almas se abraçam, beijam e amam de forma insaciável e interminável, como se não houvesse tempo, como se o tempo fosse apenas um relógio de pulso que marca quatro e quarenta e cinco da manhã. Hora em que o telefone toca e que os olhos fechados não escutam, apesar dos ouvidos terem percebido o som.
Pois bem. Que sejamos, então, mentes gêmeas. Pois não há como não amar uma alma compatível com a minha. E eu não te amo, não agora. O que passei a nutrir por você é algo muito perto do desprezo. Um apanhado de decepção misturado com pena. Porque eu sei, juro, o que passa na sua cabeça. Sei que tenta me enganar e sei o porquê. E eu tento não ser ofensivo porque, apesar de tudo, não suporto ter que ver seu rosto envergonhado ou transbordando em lágrimas.
Porque é tão difícil dizer a verdade em sua forma mais bruta e primitiva? Porque resistimos sempre em configurar a verdade ao nosso modo para que caiba bem em nossa fala, ou para que pese menos no peito? Porque existe vergonha em dizer a incompetente verdade? Dizer que é fraco, que é pequeno, que é um insignificante ser humano sucumbido ao desejo e a saudade. Dizer que não consegue, que é fraco, pequeno e medíocre. Chorar adianta? Pior do que chorar é chorar sem arrependimento.
Sei onde mentiu, porque mentiu. Conheço as palavras certas. Não por saber demais, mas sim porque já tive a oportunidade de ser tão baixo e pequeno. Admito que ainda enfeito a verdade, quando me convém. Entretanto, nunca deixei de ser sincero com aqueles pelos quais tenho apreço imenso. Porque não disse que já estava esperando alguém em seu lar, em seu peito, antes de me dizer que fecharia os olhos, me daria a mão e seguiria comigo? Porque adicionou um “por acaso” em sua campainha? Porque chora agora?
Meus olhos estão fechados, porém lúcidos. Meus ouvidos escutam tudo o que tem pra dizer, mas continuo imparcial. Afinal, você nunca poderá saber se eu estou acordado ou dormindo.
Só peço que economize nas “invenções”. Pouparíamos bastante tempo.



Pense o que você quiser. (Y)

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