domingo, dezembro 26

Reflexos e reflexões.

Minhas pernas estão cansadas.
Caminhar exaustivamente por uma estrada que não é a minha, tomando atitudes que vão totalmente contra a minha natureza e a natureza de meus antepassados. Sem descanço ou folga. Sem regalias ou exceções. Sem documento. Sem identidade. E a pergunta que sempre martelou os pregos e até os parafusos da minha mente cessou, de súbito. "Quem, realmente, sou eu?" Eu ainda não descobri, mas também desisti de querer saber.
Hoje, fitando o espelho redondo das revelações, vendo um universo ainda mais branco do que costumava ver, olho uma imagem de um ser maltrapilho. Por vontade própria, é verdade. A barba não é feita há semanas e os cabelos não são cortados há meses. Três ou quatro? Se fosse a mesma pessoa de alguns tempos atrás, poderia me lembrar com exatidão da última vez, do último trocar de olhares. Mas, agora, não me importo mais. Não consigo mais, mesmo querendo. Do que eu estou mesmo falando?
Não consigo mais fingir pra mim mesmo, tentar ser quem eu gostaria, não quem eu realmente sou. Talvez eu não saiba mesmo ser bonzinho, como minha consciência sempre disse e eu tapava os ouvidos a ela, ouvindo opiniões e seguindo-as - o que é pior - de pessoas que pouco importaram saber se era certo ou errado ou o que quer que fosse ser.
Perdoem-me, amigos. Todos viram que já me apaixonei. Perdidamente, até. Já tentei ser sincero, justo, honesto. Fui fiel aos conceitos, imparcial aos deslizes. Relevante. Comprimi uma vontade quase enloquecedora, um desejo contido com muito esforço, porque eu precisava, acima de qualquer coisa queria, ser diferente. Não ser quem eu nasci para ser. Conseguir de vez o título de ovelha negra da família. No caso da minha, ovelha branca.
Mas o espelho me mostra, agora, as cenas vagas do eu que não deveria, passando em rápidos flashs. Não me envergonho dos erros que cometi. Na verdade, não me importo com eles. Na verdade da verdade, nem sei mesmo se errei. Tentar algo novo não é, necessariamente, cometer um erro. E essa filosofia fora a única que sempre mantive de minha personalidade. Não me envergonho, da mesma maneira que não acho glória. Não me retrato, como também não consigo me desgrenhar com facilidade. Afinal de contas, não é da noite pro dia que desistimos de ser quem queremos ser pra ser o que devemos. Não é do dia pra noite que deixamos a ilusão e a fantasia bela e singular de lado para viver a realidade e reconhecer e se libertar.
Pouco importa o passado. Esquecê-lo, talvez nem queira, mas não consigo mais me lembrar daquela minha identidade falsa. A máscara branca que tampava minha face e protegia-a dos socos da vida, fora subistituida pela verdadeira - àquela - que sempre quis emergir. Por mais que tentamos, nossa natureza sempre será mais forte. E já que um dia fica impossível renegarmos quem somos, que eu seja assim logo agora, de uma vez.
Minha boca, olhos e mente estão cansados.
Hora de negligenciar o presente e esquecer o passado. O futuro temeroso, deixo para o filho da puta e burro do Sêneca. Fodam-se os velhos filósofos. Hora de dizer o que penso, também, pros que pouco me deram suporte.
Um filho da puta, canalha. E não digo isso porque me pediram - pois pediram pra escrever de forma mais beat - Digo porque estou afim de dizer. Digo porque sempre quis dizer, sempre quis ser, mesmo nunca querendo, mesmo lutando pra nunca querer. É assim que eu sou e pronto. Foda-se o que o mundo acha. Se todo mundo pensa o que quiser, eu também posso, também devo, até. Chega de ser bonzinho, chega de ser paciente, de tentar compreender. Se em todo roteiro há um antagonista - vulgo filho da puta, canalha - Que este papel seja meu esta vez. Ao contrário das outras, em que eu era o mocinho. Ao menos esta vez, dêem-me o papel que fora destinado a mim. Como sempre era pra ter sido.
Que venha mais uma nova história.



Pense o que você quiser. (Y)

0 comentários:


Blogger Layouts by Isnaini Dot Com. Powered by Blogger and Supported by ArchiThings.Com - House for sale