quarta-feira, janeiro 19

Diamante bruto.

É sempre quando uma idéia sobressai às outras que um apagão toma conta dos pensamentos. Os olhos ficam, logo, preenchidos da água que turva a visão, que deixa leve a alma, talvez. Então as mesmas palavras, os mesmos termos são repetidos. Por mais que se esteja cansado de repetí-los, são justamente essas coisas que permanecem presas, acorrentadas, do lado de dentro. E o que era concreto, duro e frio, agora, talvez, possa tornar-se um pouco mais colorido. Porque os olhos desaguam o líquido mágico que turva a visão e lava a alma.
E nas esquinas mais sujas, nas matérias mais fúteis dos jornais, se consegue encontrar a mais bela e bruta citação. Aquela que toca fundo, vai além e nos faz perceber o quão pequenos somos diantes de minúsculas palavras, letras, que compõem um papel rabiscado de caneta. Rabiscado de papel e caneta. Já não é o suficiente. A pele fora rabiscada. Para todo o sempre, uma idéia, um pensamento, que surgiu através de uma vassoura e um quintal a ser varrido. "Ecce sentiant animo finxerunt." Desce ao antebraço como o poeta maltrapilho desce as esquinas sujas, lendo um fútil jornal.
E porque a pessoa do outro lado da linha, após uma ligação, não diz o que quer dizer? Porque fica muda? Porque não grita com todas as forças tudo o que quer dizer, deumavezsempararpararespirar? De uma única vez, sem parar para respirar, sem respirar. Como se estivesse embaixo d'água, daquela que turva a visão, que afoga as palavras, engasga. Silencia. E porque pede ajuda ao invés de dizer o que realmente queria? É mais do que um medo sutíl. É um medo fútil, como o jornal carregado de destreza e beleza nas palavras. Como sabe que a pessoa que é fria e vagarosa ao outro lado não está, na verdade, intrigada e confusa. Como não pode saber que o que é dividido é, simplesmente, dividido e pronto. e ponto. reticências.
Ponto, parágrafo.
Estou perdido, pois não sei mais no que acreditar, não sei mais o que acho, o que vejo, o que sinto nem o que imagino. Sou um boneco, cuja dona é a vida. E num turbilhão de pensamentos, uma idéia não consegue sobressair às outras. O apagão toma conta de minh'alma, daquela parte de mim que fora dada, abandonada. Ou talvez não. Talvez essa parte dada ainda esteja guardada em uma caixa qualquer, em um anel qualquer, em um caderno qualquer. Em qualquer lugar em que eu não posso ver. Pois minha visão está turva. A alma ainda concreta, dura e fria, pois não há lágrimas que consigam deixá-la mais leve.



Pense o que você quiser. (Y)

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