segunda-feira, janeiro 24

Em tom de redenção.

Não é fácil. Definitivamente, não é. Atravessar barreiras, subir escadarias íngremes, quase verticais, nadar por rios tão largos quanto oceanos. Progredir. Lutar na ânsia da existência, no limite da misericórdia. No limite dos próprios sonhos. E a cada amanhecer, a cada suspiro dado após o susto que o pesadelo causou, a cama é o único refúgio de um corpo pendente de alma, pendente de qualquer coisa que preencha o vazio alí deixado.
E com o olhar vazio, sobre a janela do ônibus que parte para o outro lado. Dentro dele está o sentimento que não mais está. E dentro dele está as imagens de um antigo filme chamado lembrança. Coisas que já aconteceram e que foram muito boas, mas que, agora, não passam de páginas viradas no nosso imenso e grandioso romance.
É extremamente difícil, doloroso. Eu sei. Sei porque vivo, ainda que não pareça. Ainda que tenha um pedaço invisível e incrivelmente notável fantando em mim. A dor é a minha companheira. E, por mais que eu tente afastá-la de mim, ela torna a me visitar, trazendo flores, trazendo fotos e tudo aquilo que um dia pode me fazer bem.
Então, olhando para o vago quebrar de ondas, eu posso ver que eu não estou sozinho. Observo, ao horizonte, uma pessoa que emana todos os mesmo sentimentos que saem de mim. Que deixa clara e evidente toda a tristeza da perda, do desengano. Com os olhos mareados e pele queimada pelo sol do verão, vejo-me refletido. Minha tristeza, logo, muda de figura.
Percebo que, por mais que pareça, eu não estou completamente só. E justo onde eu pensei que jamais encontraria outra pessoa, é lá que ela está sentada. Admirando minhas paisagens, ouvindo minhas melodias, chorando os meus prantos. E como pode alguém saber com exatidão o que eu sinto, sem ao menos me conhecer? Como alguém entra no meu mundo sem nem saber onde está indo? Como é divina a carta de redenção que ela escreve.

"É difícil para todos dar o passo à frente. A doçura do passado é tão envolvente! Como podemos abandonar aquilo que nos foi tão bom e desbravar o futuro que ainda não nos pertence? Como fazemos para convencer a nós mesmos de que o melhor caminho a seguir é justamente o misterioso? Mas há um momento em que a curiosidade humana e a necessidade de evoluir nos empurra para o futuro. Há um momento em que o passado dá um passo à frente, rumo à direção oposta e somos obrigados a seguir. Pois quem vive das lembranças não vive, apenas vira expectador de suas poucas e pequenas realizações"

Meus pés afofam a areia molhada pelo sal do mar, e minhas costas recostam-se sobre a velha toalha estendida. Não sei em que posso ajudar com sinseridade, mas posso dizer algumas palavras que eu gostaria muito que fossem ditas para mim neste momento. E o que era algo que achei que não podia ser curado, agora sinto esperanças. Pois a solidão é o pior dos castigos. Quando percebo que posso dar as mãos para alguém, vejo que essa estrada não é tão difícil de se seguir. Se há alguém para me defender, a esperança aflora. E porque não dar o primeiro passo? É assim que se começa a nova jornada de mil milhas.



Pense o que você quiser. (Y)

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