domingo, junho 5

Se for pensado.

Penso. Penso e logo existo. Logo, existo e tento utilizar essas palavras que penso, a cada fração de tempo e a cada sílaba que forma palavra e que forma frase. Que forma o raciocínio, logo. Existo porque logo penso em decifrar os misterios de minha cabeça, de minhas idéias e do chão onde piso. Molhado, o piso suga o sangue derramado por meu corpo, meus olhos tristes e minha mente prestes a explodir de tanto pensar. De tanto existir penso que posso, talvez, ser um fantasma, ser qualquer um. Ser ninguém.
Mas eu sou. Ou melhor, eu fui. Um dia, fui uma pessoa feliz e completa. Um dia fui um inteiro e a outra metade de outro inteiro. Fui coletivamente individual e compartilhei e desfrutei de um corpo que não é meu. Que não é mais meu, mas que já foi num passado não muito distante. Que não é mais meu, mas que sempre será em minha memória, em meu passado, em minha história.
O passado que se vive, nem sempre importa tanto. Mas quando o passado persiste em se manter em nosso presente a cada esquina que viramos, a cada palavra que pronunciamos, a cada pensamento, tudo o que nos deveria restar era aceitar este fardo - ou dádiva - e seguir em frente. Em frente, pra frente, adiante, para o futuro. Contudo, estamos presos. Eu estou preso, imóvel, impossibilitado. Essas idéias intermináveis que me fazem pensar e que fazem existir minha escrita, que me fazem existir e me faz ser aquilo que escrevo, brotam como a água brota de uma nascente, iniciando o fim de mais um ciclo. Nova e novamente penso. Nova e novamente existo, logo.
A distância infinita entre o norte e o sul é apenas um passo que atravessa a linha do Equador. Fogo se faz com uma única faisca e um pouco de palha. Nem tudo é tão complicado. É complexo, isto que sinto dentro de mim. Resumir em uma palavra, em quatro letras, em uma certeza e um medo, uma dúvida. A espera para que essa agonia acabe e que eu volte a ser quem eu sou, quem eu era, quem eu sempre quis ser. Lutar contra não adianta. Lutar à favor não resolve. Esperar é a única solução. Talvez ter fé, mas é difícil, depois que já tive serenidade, coragem. Sabedoria, talvez.
Sabedoria pra saber que eu existirei enquanto eu pensar. Que eu pensarei para existir e para fazer minhas ideias fluirem. Na minha cabeça, no meu raciocínio, que seca o chão molhado de lágrimas que derramo todas e de tantas vezes que quero ser quem mereço. Que não arrume desculpas para fechar os olhos e dormir, achando que o dia de amanhã será melhor, será mais feliz, será meu.
Pra escrever, logo, não preciso pensar nem existir. Não preciso de nada, pois meus sentimentos são aquilo que escrevo e pra escrever só preciso ver. Sentir e imaginar.


Pense o que você quiser. (Y)

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