domingo, junho 19

Sem horas e sem dores.

Por Wall Oliver
Se sorri, foi porque chorava. Se chorei, foi porque estava sorrindo. Não sei o que houve, não houve nada, pra falar a verdade. Só sei que, em mim, estava tudo aquilo que me cabe. Coube, em mim, tudo o que não cabe na dispensa. De todas as formas, de todos os momentos. Um pequeno ovo se quebrando e mostrando a face mais pura da vida. Meu início, meu nascimento.
E como uma pedra jogada no rio, minhas águas vibraram a cada saltitar, a cada abraço. Seguindo fielmente o compasso da canção. Do salto, do chão, do ar, do chão. Do impulso. Disparava meu coração, meu pulso firme, jogado para o ar. Jogado eu fui, diversas vezes. Contra a parede, contra o próximo. Vi meus irmãos jogando-se ao chão. Pesadelos e sonhos. Tudo uma coisa só.
Mas faltavam algumas coisas. Uma parte que eu não tinha levou minha metade que quero de volta. E quero inteira, novamente, minha outra metade. Enquanto ela não volta, minha certeza e contradição não têm cura. Não há palavra, não há pena, não há sonho e nem flauta pra se tocar. Faltava o passarinho recém nascido começar a cantar, começar a bater asas. Sua voz ainda é tão fraca, e o barulho da lona, do circo, é tão alto! Falta uma chance. Encontrar um vácuo no meio de tanto oxigênio. Encontrar silêncio em meio de tanto esporro.
Silêncio.
Uma luz se acendeu. Ascendeu, esta luz. E a voz, o grito, ecoou perfeitamente, milagrosamente, no meio daquela fração de escuridão. Medo e desejo somos. Vontade de ver os desejos se realizando, mesmo que sejam tão poucos e pequenos. Não houve nada mais importante do que me ver refletido naquela canção. O pássaro se transformou. Virou um vaga-lume.
Brincando entre os campos de tantas outras luzes acesas, o vaga-lume ouviu seu hino, sua própria canção. Mais uma vez, este pedido foi concedido. O desejo se realizou. E o destino fez com que a memória unisse o futuro, presente e passado num único momento. O momento em que nada importa e que todo aquele mar de gente parece ser parte de você. Como se fosse um espetáculo para uma única pessoa cantado por ela mesmo. Nem teatro e nem magia conseguem explicar o que acontece nessa hora. Nem palhaço, nem fantasia.
Vi lágrimas do mais forte dos homens. Vi uma unção de almas. Uníssono, todos clamando por mais um pouco de amor, um pouco de paz. Aquela paz que só se consegue quando muitos corpos se abraçam e giram. Na varanda, na palavra, na respiração.
Às vezes, contudo, quando falta uma única pessoa, parece que o mundo inteiro está despovoado. Mas não me faltou nada. Tudo o que preciso está dentro de mim. Coube tudo aqui dentro. E só enquanto eu respirar, me lembrarei. Um dia, as pessoas irão entender porque todas essas passagens musicadas por um cara lá de Osasco e sua trupe me comovem tanto. Todos saberão.
É a melhor forma que tenho para agradecer e explicar o que sinto. Hora de ir embora, mais uma vez, com a alma lavada e limpa. Livre.



Pense o que você quiser. (Y)

4 comentários:

Ti Ferreira disse...

Brincando de correr entre vagalumes sem querer pegamos uma estrela baixa ...

lindo o texto Dongo. Momentos únicos e eternos.

Brunna Maimone disse...

ééé meu amigo é disso que se trata!


"Somos vaga-lumes a voar perdidos!"


Muito Bom Dongo! Muito Bom

=)

João Maria Ludugero disse...

Olá, bom dia!
Eu venho te convidar a visitar meu blog de poesias.
Se gostar e quiser me SEGUIR, fique à vontade, vou gostar de ter seus coments. Já te SIGO com alegria. Abraços,
João Ludugero, poeta.
www.ludugero.blogspot.com
Até mais!

Thalita Cajueiro disse...

Lindo demais Dongo, muito mesmo.


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