quinta-feira, março 29

O reencontro.

“Havia muito tempo em que eu não tinha um período livre para organizar meus pensamentos. A vida não tem sido fácil nesses últimos tempos e confesso que tenho sido apático quanto às mudanças. Às vezes é duro ter perspectivas, criar expectativas e descobrir que tudo dá errado sempre. Nada tem saído como eu desejo. Todas as minhas atitudes estão de confronto a mim de uma maneira agressiva, não com a doçura e perícia com que as criei. Eu precisava de alguns momentos livre e solitário para organizar meus pensamentos. E tive-o.
Esperava uma manhã de sol. Esperava pegar a trilha com o brilho rubro da alvorada, sentir todo o calor do Astro-Rei extinguir a tristeza e frieza dentro do meu peito. Esperava sentir a areia escaldante sob as cascas dos meus pés e poder resfriá-los nas águas de um oceano Atlântico quase pacífico, sem ondas, sem revolta. Esperava sentir a calma e as boas vibrações daquele lugar que sempre me fez sentir único e especial. Sentir de novo, mais uma vez, outra vez, novamente. Sentir “nova-mente” respirar e me dar respostas para minhas perguntas. Fazer, no mínimo, com que eu as encontrasse dentro de mim, organizando todas as gavetas do meu criado mudo interior.
Mas nada disso aconteceu. O céu cinza anunciava a chuva que cairia durante toda a íngreme subida até o início da trilha. Não era aquilo que eu tinha planejado. Não era como eu queria que fosse. Pensei em desistir e regressar ao lar. Pensei em desistir de tudo e esperar em qualquer telhado a chuva passar, vendo-a desolado por não cumprir meus objetivos e desejos. Fechei os olhos e pude sentir que, mesmo com o céu me castigando de forma injusta, aquele lugar especialmente mágico me chamava para junto dele como uma mãe chama seu filho para almoçar num dia de domingo. Uma energia suprema, irreal, me convidou a seguir em frente, arriscar e ver como seria o resultado final mesmo quando as somas não estavam sendo promissoras.
E eu dei um passo à frente. E outro. Mais um.
Subi, deixando a chuva bater com ferocidade em meu peito, pela trilha escorregadia. Caminhei predestinado, sem medo de desistir. Avistei a sempre bela tartaruga olhando para o horizonte, esperando o sol assim como eu. Esperando o sol sair. Mas este, tímido, usava as nuvens carregadas de cobertor e insistia em dormir até mais tarde. Não me incomodei. Ao menos a chuva havia parado. Ao menos a brisa era agradavelmente quente, como aquelas que se esqueceram que o verão já tinha acabado. Ao menos eu estava ali, partindo para o real e sublime entendimento.
As respostas chegaram à minha mente no exato momento em que pisei naquela areia fofa. Podemos, sim, ser feliz com o que a vida nos proporciona. Basta aprendermos a aceitar o que ela tem para nos oferecer. Nem tudo sai da maneira que queremos. Basta desfrutar do que é nos dado, tentando fazer o melhor possível. Aprendi a gostar rapidamente do clima agradável, da água morna e cristalina, da chuva batendo em minhas costas enquanto eu nadava vagarosamente naquele mar revolto. Aprendi a amar aquele lugar do jeito que eu conheci e do jeito que ele quis ser naquele dia em que eu fui visitá-lo.
Eis que, no momento em que eu mais namorava aquele paraíso somente meu, o sol saiu de suas cobertas para enxergar melhor aquele intenso romance.
Simplesmente perfeito.”



Pense o que você quiser. (Y)

1 comentários:

Anônimo disse...

Fantástico!By K. Damasio


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