quarta-feira, julho 11

Ponte para o amanhã.

Fecham-se os olhos, em busca de inspiração. A janela aberta para a escuridão trás os ventos de nostalgia e saudade. Um aperto, leve e contínuo, contrai ainda mais o peito, recordando o como era bom olhar, outrora, a visão da alvorada por entre aquelas grades. As folhas, antes verdes e cheias de vida, agora estão secas e cansadas. O pó não fora limpo da mesa, os pratos não foram limpos – tampouco as roupas. Os óculos já não servem mais. A alma é que está cega, não são os olhos. Os olhos estão fechados, somente.
As paredes se estreitam diante de mim. O branco do infinito já mostra o meu reflexo cansado de tanta repetição e mesmice. O corpo delgado se encolhe ainda mais, com a finalidade de se enquadrar com harmonia no ambiente. Corte e profusão. As agulhas imaginárias que perfuram o boneco de pano são as mesmas que figuram em minhas paredes em degradação. A sopa esfriou e o hashi não me serve. O estômago reclama a coluna inclinada e a cabeça baixa diz respostas que a mente oculta. Grito alto.
A felicidade é mesmo cruel ao ponto de permitir que nós degustemos dela para, depois, deixar um gosto amargo em nossa língua? Boca esta que provou o beijo e agora amarga uma bêbada derrota. Há tempos em que o amanhã será o último dia. Esperávamos que este amanhã nunca chegasse. Dia após dia, semana, mês. Quando os singulares tornam-se um plural inflexível, o dia chega e o dia que seria o fim, o amanhã, passa a ser hoje.
Minha felicidade comprou uma passagem somente de ida para o outro lado do universo. E eu, ajoelhado e com a cabeça encostada no piso frio, estou de mãos atadas e nada posso fazer. O relógio toca a sinfonia triste e o telefone anuncia mais uma ligação. Não posso atender, não posso fazer nada. O meu lugar é aqui. Minha solidão é o meu presídio e a minha residência é o meu porto seguro. Inseguro, mas mesmo assim relaxado. Reservo minhas reservas de energia para o dia em que se sucederá, onde não haverá mais fim. O que há após o fim?
Anseio descobrir. Anseio me redescobrir. Quero saber o que quero saber. Se seguir em frente é mesmo dar de encontro com uma rua sem saída e ter que retornar é admitir a derrota, prefiro, então, voltar a ser um embrião. Se a vida é um ciclo, após o fim haveria de existir outro início. Entretanto, ainda não acabou. Ainda vivo, ainda estou de pé, mesmo que com o corpo nu e suado no chão. Mesmo que a brisa carregada de saudade e nostalgia me envolva e me conforte, ainda estou aqui e a minha garganta seca não resiste, sussurrando:
“Este aqui é o meu lugar”


Pense o que você quiser. (Y)

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