sábado, julho 7

Céu e mar.

A baia cinza é pequena e apertada. Copos sujos, espalhados, vazios. A breja secou e não curou, não soldou. teclas apertadas em velocidade fazem com que eu sinta inveja e vontade de imitá-las. O ambiente é estranho em demasia para meus pensamentos mais profundos e secretos. Contudo, quando os olhos se fecham, a mente pesa e o coração acelera, ansiando ser esvaziado, não há outra alternativa. É necessário, preciso, encontrar o conforto que não consigo em lugar algum. Não há conforto em dois braços gentis, não há conforto no deserto, em "nova-mente". Não há paz em qualquer lugar que não seja o meu próprio universo refletido.
Meu espelho é de papel e meu reflexo é tinta preta. Cada sentimento se traduz em letras, sílabas, palavras e sentidos. Outrora desejei, do fundo de minh'alma, ser e parecer uma pessoa normal. Nascer, existir, procriar e deixar um legado. Mas vejo cores quando deveria ver rostos, vejo luz onde deveria haver uma lâmpada apagada. Vejo uma praia confortável em um dia de chuva e uma prisão aconchegante quando a janela do meu quarto, diante de um dia ensolarado, deveria ser a passagem para a liberdade.
Mas o ser humano é pobre, descontente. Não se contenta com a felicidade que possui e não consegue conviver com a ausência que ela trás. Vive procurando o amor mas não se esforça em descobrir o que ele é, em sua mais pura e bela essência. Diz "não" quando deveria dizer "sim" e diz "sim" quando não deveria dizer nada, apenas esticar os dedos e tocar. Troca orgulho por lágrimas de dois pares de olhos que se encaram, apaixonados, mas cismam em não admitir. Abrem o coração mas fecham-se de mente, fadando uma inteligência e raciocínio desprezível.
A noite chega e não trás o sono, há muito desejado. O sonho é acordado, de olhos abertos. Sonho olhando vago para a parede manchada de loucura, imaginando meus olhos fechados e curtindo o êxtase de sonhar como jamais imaginei que aconteceria. Diferente, melhor, mais maduro e, incrivelmente, mais real. À deriva no meu bote, sozinho numa imensidão de oceano e céu azul. Um infinito da cor que se personifica em uma figura feminina, sem rosto, sem cabelo, sem pele. Transparente, como o punhado de água salgada que pego para tirar o suor de um rosto queimado. Não há limites para as mudanças, por mais sutis que elas mostram-se.
Voltar a sonhar é maravilhoso. Mesmo assim, sonhar é se propor a ter pesadelos. Hoje, após sonhar em claro, fechando os olhos abertos, eu sei que mostro o meu avesso. A intimidade mais inocente do meu peito. A intimidade que no passado era a de que não era preciso ver, somente sentir e imaginar. Que passou, depois, para ser tão preciso ver como sentir e imaginar. Agora, ver é preciso, sim. Entretanto, os olhos são cegos para muitas coisas. Agora vejo, sinto e imagino. Com um coração negro, sendo preenchido com tinta de céu e mar. Tinta azul.
Esta que, na verdade, não se vê com os olhos. 


Pense o que você quiser. (Y)

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