sábado, agosto 21

Luz no fim do banho.

São tantas palavras, tantas frases, tantas opiniões, dúvidas, sugestões da verdade, que me perco em cada parágrafo de pensamentos. A torrente de água gelada em minha cabeça só faz misturar ainda mais as idéias e desconfiar mais do futuro triste e fatal. Não me faz acordar da embriaguez do dia anterior, não me faz lembrar de nada, também não me faz esquecer coisas que gostaria muito, se pudesse.
Uma lacuna gigantesta ainda está por preencher. Páginas e páginas de um livro com uma história tão intensa, mas que um bom pedaço simplesmente deixou de ser escrito, ou se foi escrito, deixou de ser publicado. O chuveiro ligado e derramando sobre a minha face a bênção e a dádiva da vida, não vem consigo esclarecimentos. Não tras de volta, também, o estado sóbreo do meu corpo, após shots de vodka pura da noite que se passou.
Assim como a água já derramada, tudo em nossas vidas passa. E se o banho leva embora as impurezas, a vida também nos leva coisas que julgamos impressindíveis. Ela nos prega peças, nos surpeende e nos faz perder e ganhar a todo instante. Estou limpo. Limpo de felicidade, de harmonia, de amor, de misericórdia. A vida, em mais uma de suas surpresas, me esvaiu desses sentimentos. Por vezes me conformo, em outras sinto raiva, ou até tento ignorar. Mas não é fácil ignorar ou se conformar com um espaço enorme vazio dentro de sí. Não é fácil lidar com a perda, com a derrota, com a pena.
Tenho consciencia de que, pouco a pouco, esse espaço será preenchido com diversas outras pequenas coisas. Oque me pergunto, entretanto, é se eu serei mesmo capaz um dia de preencher novamente esse espaço, tentar escrever alguma coisa nas páginas em branco do livro. Sofrimento como esse que sinto agora eu não desejo a ninguém, nem a mim mesmo, numa próxima vez.
Há peças que acabamos perdendo, mas essas são únicas e insubstituíveis. Não haverá peça ou frase que se encaixe com perfeição. A mesma gota d'água não toca duas vezes a nossa pele. Não nos faz lembrar, mas não nos faz esquecer. A vida não nos tira nada, nem nos dá. Mostra apenas os caminhos pelos quais devemos percorrer, ou que somos obrigados a percorrer.



Pense o que você quiser. (Y)

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