domingo, outubro 24

A dor que remédio algum pode curar.

Não há nada para se temer neste momento, mas mesmo assim temo. Preso à toda essa liberdade, eu serpenteio as ruas da cidade de prédios altos, onde o minotauro é minha própria sombra de receios, dúvidas, consequencias. Minha própria teia de temores. E caminho, cambaleante e instintivo, perguntando-me permanentemente se eu sou mesmo aquele tão famoso Teseu do contemporâneo. Mas mesmo um grande herói precisa ser acolhido em braços firmes.
Não há nada para se sentir nesse momento, mas mesmo assim sinto. Sinto muito por concluir o que jamais desejei e deixar para trás o que me foi bom. Sinto por ainda me desgraçar em lágrimas inúteis, lágrimas que já são tão sonoras quanto a melodia que dobram os meus ouvidos. Como os sinos dobram na igreja, alertando a queda de mais uma grande alma. Pois até as boas almas perecem com o desgaste causado pelo tempo.
Não há nada para se fazer neste momento, mas mesmo assim faço. Fico quieto, estático, mudo. Se não sei o que dizer, nada digo. Se não sei o que vai acontecer amanhã, simplesmente vivo e vejo os ponteiros gigarem vagarosos, até que toque o doze e os sinos dobrem novamente. E enquanto o amanhã não vem, eu passo a me entreter com minhas próprias dores, meus tristes afazeres, meus sentimentos e meus temores. Pois não há dor maior do que a dor da alma. Não há remédio que cure a dor causada pelo sacrifício do que pode ser chamado de "suicídio póstumo". Pois minha alma já não vive mais, mas ainda vive para contar sua triste história.
Não há o que doer nesse momento, mas a dor é intensa. É imensa, essa dor. Dor da alma, dor da saudade, dor da lágrima e grito. Dor da meia noite, do meio dia, do dia todo, de todos os dias. Não há o que temer, não há o que sentir, não há o que fazer. Então, continuo cambaleante pelas curvas sinuosas, com espada em punho firme e cerrado, pronto para assassinar meu minotauro interior. Mas o que mais me aflinge, é a dúvida que tenho em saber se, ao meu regresso, minha Ariadne ainda estará me esperando a porta, com o seu fio dourado e pele quente, para que juntos, finalmente, sem problemas, possamos construir nosso novo reino de castelos de areia.




Pense o que você quiser. (Y)

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