domingo, outubro 31

O rival que caminha ao lado.

Antes eu odiava-o. Jurei pela minha própria vida eliminar todo e qualquer rastro que pudesse levá-lo à sobrevivência. Pois sim. Pois fora ele quem consumiu os meus pais, levou-me o meu amor e todos aqueles pelos quais tinha afeto, carinho e gratidão. Levara todos, exceto eu. Relutante de meu próprio destino, desembainhei minha espada e caminhei sorrateiramente por todo o território, à procura do traidor.
Solitário, eu estou. Solitário permaneci durante todos esses anos com sede de vingança. Não me restou mais nada além de uma lembrança vaga de sua forma e de como ele eliminava as pessoas. Estranhava-me o modo de como inofensivo ele se fazia e de quanto tempo demorava para dominar um ser muito superior a ele por completo. Levara meus pais e os pais dos meus pais. Levara, também, minha alma e minhas perspectivas.
Foram inúmeras as vezes que tentei detê-lo. Foram diversas as opotunidades em que ele brincou de surgir diante dos meus olhos e eu ter que ver minha amada fingir e mentir para confidenciar segredos para meu pior inimigo. Se ele consumia devagar e diretamente todos ao meu redor, comigo sempre fizera diferente. Ele não me tocava, não se aproximava de mim. Mas fazia questão de partir meu coração em pedaços infinitos e saboreá-los com uma mudez de triunfo.
Até que houve o dia em que nos encontramos. De frente, um para o outro. Não havia mais ninguém, somente nós. Eu e quem eu mais odiava. Eu e quem eu deveria eliminar de uma vez por todas de minha vida, para, então, poder viver em paz. E quando eu parti para o ataque, percebi que, naquele instante, havia um inimigo em comum entre o meu pior inimigo e eu. Esta nova entidade surgira, ou melhor, se fez presente em todos os momentos sem que eu jamais pudesse perceber. Era a solidão. Até meu pior inimigo sofria do mesmo mal que eu. Um mal que teria de ser detido, com todas as forças, até mesmo as nossas unidas.
Às vezes, até inimigos de longas datas unem-se com uma finalidade de progresso mútuo. E, conforme foram se passando os dias em que lutamos juntos para acabar com a solidão que assombrava a minha alma, fui percebendo mais pontos em comum com ele do que eu poderia imaginar.
Não se deve renegar o seu próprio destino, jamais. Hoje a solidão está ferida mortalmente. Mas, ao invés de retomar minha rivalidade à vida, percebo que encontrei um companheiro de campanhas. Um companheiro que, assim como meus pais e os pais deles, me consumirá. Mas que eu mesmo dei minha alma em troca do fim de um inimigo maior.




Pense o que você quiser. (Y)

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