quarta-feira, março 14

Capítulo onze.

Horas parado na frente do caderno, com o lápis apontado e preparado na mão, esperando para que a primeira palavra possa ser escrita. Pensando, olhando, e tentando encontrar alguma coisa que possa dar início. Planta, cortina, janela, sofá, rádio, TV. Computador, impressora, mouse, teclado. Qualquer palavra para que eu possa começar a colocar pra fora esse turbilhão de coisas que me inchou de tal forma que até mesmo esvaziar está difícil. Falta de inspiração dá uma sensação de total agonia. Excesso dela também.
Minha mente está longe. Meu corpo é um radinho de pilha tentando encontrar a sintonia correta para que aquela canção do amor possa ser tocada sem interferências. Pois há muito tempo eu não sentia o que eu sinto hoje. Excesso. Balançar as pernas em excesso, coçar a cabeça em excesso, levantar e sentar em excesso. Escrever uma palavra, apagá-la e escrever a mesma palavra novamente. Nada me faz escoar o que eu quero dizer. Passam a ser tão frágeis as formas de se concretizar uma simples palavra que qualquer letra mal posta faz com que a ponta se quebre e eu tenha que começar tudo mais uma vez.
Desta vez eu sinto que há algo muito diferente dentro de mim. Uma chama que há muito tempo estava apagada, agora queima mais intensamente que o sol. As palavras não querem descer e tudo o que eu passo a dizer são palavras soltas, sem valor e sem sentido. Uma fissura foi feita no tempo-espaço e estas 4 horas da manhã que marcam o relógio parecem ser as primeiras após o despertar, não as últimas antes do repouso. Dia, noite, tempo, espaço, luzes, palavras, primeira. Certeza, certeza, certeza.
Olhar aqueles olhos profundamente sinceros passou a ser um vício. Ouvir aquela voz suave e com um sotaque que me faz sorrir agora é obrigação. Preciso ver o que há embaixo daquele véu. Preciso descobrir mais, ir mais além, mais a fundo. É um desafio que eu preciso completar. Não por ego ou por competitividade, como muitos pensaram. Encontrar as respostas daquela cabeça é me encontrar. Acho estranho falar de felicidade e de sorriso sem ter uma razão específica para isso. Agora eu posso dizer que tenho.
Ainda não possuo o que posso a vir chamar de felicidade genuína e primitiva. Contudo, eu já sei onde se encontra e como ela pode vir a ser. Assim como todos os mais preciosos tesouros ela está guardada e acorrentada em algum lugar dentro daquele coração, para que eu possa abrir e descobrir o paraíso que há por ali.
O caderno continua em branco. A inspiração quase me sufoca e eu não sei como posso fazer para ela sair da maneira que eu quero, mas a certeza eu já tenho. Alguma certeza eu tenho certeza que tenho.




Pense o que você quiser (Y)

1 comentários:

Nana Marques disse...

Se já sabe onde encontrar a felicidade genuína e primitiva, está esperando o que para possuí-la? Vai lá! Levante o véu! Ou vai ficar esperando ele cair?

Excelente texto, mais uma vez.


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